domingo, 25 de novembro de 2012

MAIS RESPOSTAS SOBRE PIPOCAS

Algumas questões que foram colocadas a David Marçal e Carlos Fiolhais por Sofia Tavares, jornalista que trabalha para o programa "Boa Tarde" da SIC, a propósito do livro "Pipocas com Telemóvel" (Gradiva):

ST- Divertiram-se a escrever o livro?

DM- Claro que sim. Apesar de ser um assunto sério, a falsa ciência pode ser muito divertida. Todo o carrossel de argumentação para justificar coisas injustificáveis tem, em muitos casos, um efeito muito cómico para quem tenha um mínimo de cultura científica.  É o caso, por exemplo, das teorias da conspiração que envolvem  participantes extremamente improváveis em prol de objectivos absurdos.  Certas expressões, como "cientistas da NASA" ou "tecnologia quântica", também têm piada por aparecerem muitas vezes sem significarem nada a não ser uma tentativa de tornar credível aquilo que o não é.

ST- A Ciência não será, também, culpada das ideias erradas que circulam a seu respeito?
 CF- A ciência não, os cientistas sim. Poderão ser culpados por omissão, se não participarem no debate público e se não contribuírem para esclarecer o que é a ciência e o processo científico. Deveriam participar mais. O terreno fértil para a propagação da falsa ciência é a falta de cultura científica. A promoção da cultura científica é o único antídoto contra a imensa variedade de aldrabices científicas. Se as pessoas souberem o que é a ciência, que assenta na observação e na experiência, não serão enganadas por auto-proclamadas figuras de autoridade. Na promoção da cultura científica há muitos actores, a começar logo pela escola. Mas há outros, como os meios de comunicação social. Eles podem ajudar e ajudam a divulgar a ciência.
  
ST- Pensam que a maioria das pessoas irá criticar e sentir-se atacada pelas revelações que fazem no livro?
 DM- Não. Poderá, quando muito, haver pessoas que se sintam incomodadas por verem postas em causa algumas coisas que dão como certas. Mas nós não atacamos ninguém. Atacamos certas ideias, por estarem erradas apesar da sua apregoada sustentação científica. A sua base não é a ciência, mas sim a pseudociência. Chamamos a atenção para isso e que quando um faça o juízo que entender.
  
ST - O humor é uma constante... Por que razão decidiram abordar as histórias dessa forma?

CF- O humor não é o único tom do livro, que aborda um conjunto de assuntos sérios. Há, de facto, coisas na pseudociência que são tão absurdas que se tornam ridículas. Mas há outras que não são assim tão absurdas e é preciso explicar bem o que está em causa. O nosso estilo  também é uma questão de gosto pessoal, já que ambos os autores gostam de ver o lado engraçado das coisas. Quisemos escrever um livro que informasse e, ao mesmo tempo, divertisse.

ST- Ainda falta muito espírito crítico aos portugueses?
DM- O espírito crítico faz falta a todos, a uns falta mais e a outros falta menos.  Precisamos todos de mais. Esse espírito, que num grau elevado é uma marca da ciência, ajuda-nos a tomar as melhores decisões. Experimentar, observar, raciocinar, concluir com lógica são elementos do espírito crítico que são úteis não só na ciência mas na vida do dia a dia de todos. É muito fácil enganarmo-nos ou sermos enganado. De posse de espírito crítico, torna-se mais difícil. E, nesta época de crise, não convém nada que sejamos enganados.

ST- Qual é, no vosso entender, a pseudociência mais popular e aquela que poderá surpreender mais as pessoas?
CF- A pseudociência mais popular, que chega a mais pessoas, é aquela que está associada a produtos de consumo, coisas que se vendem em supermercados. Um exemplo importante é o dos iogurtes com probióticos, iogurtes com bactérias especiais, cujos benefícios para a saúde são amplamente exagerados pelas empresas que os vendem. Por causa disso, uma dessas empresas já foi multada em vários países e obrigada a retirar anúncios que foram considerados publicidade enganosa.

A que poderá mais surpreender talvez seja a homeopatia, porque muitas pessoas pensam que tem alguma base científica. Não tem, de facto. Os remédios homeopáticos são só água e açúcar e o único efeito que têm é o placebo, isto é, a ilusão de que funciona. Na apresentação do livro tomámos uma overdose de remédios homeopáticos e ainda estamos vivos.

 ST - Por que é que em Portugal as entidades reguladoras da saúde e para a defesa do consumidor não têm um papel mais activo no sentido de alertar as pessoas sobre a falsa ciência?
DM- É uma boa pergunta. A DECO faz um trabalho meritório na divulgação de algumas aldrabices. Talvez devesse fazê-lo mais vezes. Mas a ASAE também deveria intervir mais nestes casos tal como a a ERC  em casos de publicidade enganosa. Talvez por défice de cultura científica e por falta de participação de cientistas nessas entidades.

O facto de as autoridades que regulam os medicamentos continuarem a permitir que remédios homeopáticos sejam vendidos em farmácias é incompreensível. Atrevemo-nos a pensar que o nosso livro sirva para suscitar a discussão sobre esse e outros assuntos.

4 comentários:

Anónimo disse...

Pois, pois, mais um amiguinho das medicinas convencionais. E que dizer das afirmações peremptórias da médica Marcia Angell, segundo a qual o índice de resposta dos pacientes a antidepressivos é escassamente superior à dos placebos? Essas afirmações já não incomodam os amiguinhos da dita medicina convencional? E que além de poucos efeitos terapêuticos, os antidepressivos possuem efeitos nefastos na saúde, mormente em 70% das disfunções sexuais? Com isso, os amiguinhos dos ortodoxos já não se preocupam? Só se incomodam com os alegados efeitos inócuos da homeopatia? Mas querem mais opiniões contra os antidepressivos? Por exemplo, as considerações dos psiquiatras Daniel Carlat e Irving Kirsch, os quais igualmente contestam a eficácia terapêutica dos antidepressivos? Ou só gostam e reconhecem as opiniões apologéticas daqueles que sacralizaram, como valor de exclusiva verdade científica, os benefícios da medicina convencional?

Os zés ninguém da vida disse...

Aqui outro anónimo deixa umas leituras alternativas:
A propósito do artigo de David Marçal "REGULAMENTAÇÃO DAS MEDICINAS ALTERNATIVAS É UMA ALDRABICE CONVENCIONAL" e dentro da irónica temática das pipocas de milho transgénico, leiam:
- A-incompreensao-profunda-das-diferencas
e
- Alopatia-ou-homeopatia

Um curioso intelectual disse...

Luc Montagnier, Prémio Nobel da Medicina em 2008 e defensor da homeopatia:

http://www.hncristiano.com.br/hnc/homeopatia-artigos/60-luc-montagnier-fala-seriamente-sobre-homeopatia



Anónimo disse...

Grande Reportagem SIC (29 de Novembro 2012)
Provavelmente, a melhor reportagem feita sobre o assunto.

"Como as várias formas de medicina podem ser complementares"
http://www.youtube.com/watch?v=wWmklmihn20&list=UL

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