sexta-feira, 9 de novembro de 2012

PARABÉNS, FERNANDO CATARINO


Há dias em que o dia começa bem.

Quando esta madrugada do dia 9 de Novembro de 2012, ainda de noite, ao abrir o e-mail que os nossos amigos Maria Augusta Silva e Pedro Foyos, do “Casal das Letras”, me enviaram, tive o prazer de ler os parabéns que dirigiram ao Professor Fernando Mangas Catarino pelo seu aniversário.

Pode ler-se nesta edição do prestigiado blogue: “Nunca em Portugal terá sido prestada a um catedrático tão expressiva homenagem pública de aniversário. A celebração dos 80 anos de Fernando Catarino, superlativa referência académica do País, consegue exceder em participação o acontecimento inolvidável que foi há uma década a última aula (ao ar livre) deste grande comunicador científico e que decorreu no Jardim Botânico da Universidade de Lisboa – o seu palco natural durante meio século”.

Da homenagem que neste dia feliz se presta a este que foi meu par na direcção do Museu Nacional de História Natural, apraz-me destacar o “mais impressionante mar de abraços (um deles é o meu), procedentes de Portugal inteiro e também do estrangeiro, que acaba de receber, numa manifestação que fará história na internet”.

Emocionado por esta leitura, não pude deixar de recordar 60 anos de convívio profissional e de companheirismo nas lides sem conta pela vulgarização do conhecimento científico que protagonizámos neste Portugal, cujos políticos não merecem o povo que somos. Uma das muitas vezes que acompanhei este meu colega de Universidade, como simples participante interessado em aprender, foi “Onde a Terra se acaba e o mar começa”, como escreveu Camões no Canto III de Os Lusíadas, ou seja, na ponta mais saliente do promontório que marca o extremo ocidental da Serra de Sintra, a que os homens do mar chamavam o “Focinho da Roca”.

Com ele desci a falésia no sítio do farol, um escarpado que permite observar aspectos particulares da intrusão magmática que elevou esta “jóia da petrografia”, como se lhe referiu o Prof. Afred Lacroix, ilustre petrógrafo francês que lhe dedicou particular atenção. Mas não foi para observar as rochas que descemos até o mar. Fomos em busca da Armeria pseudoarmeria, uma espécie rara de dicotiledónea, da família das plumbagináceas, que ali floresce a um dado nível da estratificação florística presente. Já não recordo a altura do ano dessa memorável excursão.

Só sei que a subida foi lenta e ofegante, sob um calor intenso, o que não impediu o professor de falar, descrever, comentar, explicar um pormenor aqui e ali e, até, lembrar Lord Byron, o poeta inglês da viragem do século XVIII ao XIX, que se referiu a esta serra como um Éden Glorioso”, considerando-a, deselegantemente, uma ”pérola lançada a porcos”.

A elevada sensibilidade poética deste meu amigo, revelou-se-me numa das primeiras saídas de campo que fizemos juntos. Foi na Arrábida, mais precisamente na Mata do Solitário. Aí, numa pausa que fizemos junto de uma Pistacia lentiscus, a vulgar aroeira, o mestre abriu a sacola e retirou, lá de dentro, um livro de poemas de Frei Agostinho da Cruz (1540-1619), que leu para um grupo de alunos deliciados com aquele outro talento do professor.

A última das várias oportunidades em que tive o prazer de o acompanhar, foi no parque anexo ao Palácio da Pena, em Sintra. Estávamos em Agosto. Os cimos da serra permaneciam envoltos numa nebulosidade fresca, a contrastar com o azul celeste e o calor estival da planura que se estende a Sul da pequena montanha.

Com o Prof. Catarino, esta preciosa mata transformou-se numa sinfonia de espécies arbóreas, muitas delas exóticas, diferentes de tudo o que é característico da nossa flora. Para os que tiveram o privilégio de lidar com ele, o Catarino, na gíria dos alunos, ou o Mangas, para os amigos mais chegados, é uma sinfonia e um poema de simpatia, humanidade e sabedoria.

Parabéns, amigo!

Galopim de Carvalho

3 comentários:

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Celebrar do aniversário é contemplar a vida! Do entusiasmado texto do professor Galopim de Carvalho a modesta homenagem da amizade.




Do amigo


Amar-te-ia oh' amizade,
esta de imensa gratidão!
Vosso chão é forja de idade,
consciente lavra é coração.

Haveria imantada verdade
que o amigo é ufanal clamor,
calor que valha a lealdade?!
Paraíso é sinal de amor.

Abrir-te-ia, largo horizonte
entre: ontem, hoje e amanhã;
por sentido a delicada ponte

vos anima do tempo saudade
em amável filho, és beldade
e livre de qualquer terçã.

Eduardo Martinho disse...

Saravá Amigos!
Um abraço caloroso ao Fernando Catarino pelo seu aniversário, com votos de longa vida, e outro ao Galopim (“velho” companheiro do Blanadet…) pelo seu testemunho.

José Batista disse...

Permita-me, Caríssimo Professor Galopim:

Membro que fui do organismo chamado Ordem dos Biólogos, que depois, a meus olhos, se transformou em "Desordem dos Biólogos", guardei com todo o carinho, o nº 1 da respetiva revista, especialmente pelo conteúdo das páginas 8 a 12, uma entrevista de Nuno Campos a Fernando Mangas Catarino, que tenho bastamente sublinhada a vermelho, e de modo praticamente integral nas últimas 3 páginas. Tanto me tocou o seu conteúdo que a guardei e, nas vésperas da entrada para a Universidade Téncnica de Lisboa do meu filho mais velho, corria o mês de Setembro de 2006, pedi, à mesa, perante a família, que me ouvissem ler aquela entrevista: eram os conselhos que gostaria de dar àquele meu filho naquela hora. E fi-lo, sem grandes silabadas, apesar da emoção que então senti. O jovem ouviu, agradeceu e, ao longo do tempo, não esqueceu. Ah... e aproveitou!.
Voltei a guardar a revista. E este ano, na primeira semana de Outubro, repeti a receita, agora para outro filho mais novo. Na esperança que dê frutos equivalentes.
Assim o desejo, com estremecimento.
Assim o agradeço, com todo o sentimento.
Ao Mangas,
Ao Galopim,
E a outros assim.

Não obstante a acção de "políticos [que] não merecem o povo que somos". Não merecem. Adiante.

Seja-me pois permitido, o atrevimento de um abraço.

José Batista da Ascenção.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...