domingo, 1 de maio de 2011

PENSAR COMO UM MACACO


Embora não me esteja, nem pouco nem muito, no jeito, a transcrição de notícias de jornais sem as comentar, abro uma excepção para esta que diz tudo por si só e que em tudo estou de acordo. Intitula-se ela “Em defesa da Gramática: Vargas Llosa contra linguagem da Net” (Expresso, 30/04/2011).

É este o teor da referida notícia:

“Os jovens que abreviam palavras nas redes sociais e nos SMS ‘pensam como macacos’, considera o escritor peruano Mário Vargas Llosa. O Nobel da Literatura de 2010 considera, numa entrevista à revista uruguaia ´Búsqueda’, que a Net ‘liquidou a gramática´, gerando uma espécie de barbárie sintática’. E justifica: ‘Se escreves assim, é porque falas assim; se falas assim, é porque pensas assim, e se pensas assim pensas como um macaco. Isso parece-me preocupante. Talvez as pessoas sejam mais felizes assim. Talvez os macacos sejam mais felizes do que os seres humanos. Não sei.”

10 comentários:

Cisfranco disse...

Também concordo sem qualquer reserva com Vargas.
Obrigado por este post.

Anónimo disse...

Concordo plenamente com Vargas Lhosa.-

Anónimo disse...

Tanto azedume. Ninguém vê a criatividade dos jovens que perante um problema arranjaram uma solução? São macacos por causa disso? Eu acho que são bastante espertos. Inventaram e dominam mais uma linguagem.

Para além disso nunca ouvi os jovens falarem como escrevem nas SMS, nem tenho conhecimento que tal escrita lhes valha aproveitamento nos exames da escola.

Foi feito algum estudo do impacto desta nova "linguagem" nos conhecimentos de gramática dos alunos que suporte a opinião do autor?

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Muito, surpreende-me a opinião de Llosa, enquanto revelação da analogia. Pois ele acaba de decretar a existência de uma nova Era, a do Animalismo.
E, é claramente perceptível que Llosa não está medindo a palavras, ou, não tem noção do que está incrementando.
Infelizmente, não é isso que se espera que inspire, um Nobel.

Rui Baptista disse...

Caro anónimo (23:39): Compreendo em parte o seu comentário. E digo em parte, porque não se deve exigir, mesmo de um Prémio Nobel da Literatura, um estudo científico exaustivo sobre o efeito negativo da linguagem dos SMS e da Net na exigência de um correcto domínio da gramática materna.

Por isso, é natural que se trate apenas de uma constação empírica idêntica à que fazemos quando criticamos o facto da maioria dos nossos alunos não ser capaz de redigir (ou mesmo compreender, apenas) um simples texto.

Rui Baptista disse...

Prezada Cláudia:

Perspectivemos este pequeno texto de Vargas Llosa no seu grande amor pela beleza da palavra escrita que não deve ser prostítuida pela linguagem dos SMS ou das redes sociais e, até, pelos políticos.

Atentemos, por exemplo, na resposta de Vargas Llosa à entrevista do jornalista argentino Jorge Halperin quando este lhe pergunta: “O que faz um escritor com as palavras quando as usa como políticas?"

Resposta de Llosa:“Para um escritor, a linguagem é seu bem mais precioso. É uma relação que envolve enorme cuidado, respeito, quase uma reverência religiosa. Ela é trabalhada de maneira muito pessoal porque é através dela que criamos nossa identidade como escritor. Já para o político, a linguagem é apenas um instrumento. Como ele quer chegar ao maior número de pessoas, ele a simplifica e a repete. Por isso, em política, é irresistível o uso de estereótipos, clichês, estribilhos, tudo o que em literatura significa palavra morta.”

De resto, não deduzo do pequeno texto de Llosa, "Pensar como um macaco", uma reacção grosseira à “Revolução dos Bichos” e aos seus sete mandamentos, o primeiro dos quais: “Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é um inimigo”.

Para ele o verdadeiro inimigo é o atentado que se possa fazer aquilo que distingue o homem dos outros animais (repare que não escrevi o homem dos animais): a palavra oral e escrita! Bem dita e escrita porque sujeitas a padrões de uma exigente Gramática...

Anónimo disse...

Corcordo, o curioso é que tenho amigos que escrevem desta maneira estúpida sem nenhum tipo de receio ao mesmo tempo que são os mesmo que criticam o novo acordo ortográfico com um ódio sem fim.

Cláudia S. Tomazi - Brasil disse...

Caro Rui Baptista, acredito em quão valiosa é esta perspectiva e não menos importante o que de vos, abordas e esclareces o tema pela língua. Mas, veja bem, como brasileira do Sul do país, conhecedora das culturas, castelhana e andina, o que para estudiosos, possa passar talvez, como um descuido expressivo, pois nos termos de América, ganha outra dimensão. Embora os europeus lidem com uma realidade nada enrigecedora, a qual Llosa exemplifique e justifique como laboriosa, temo ao que, verdadeiramente tenhamos por cá, estes de superlativa estima, além de, intrinsecamente caibam por vestígios da natureza em sintomas que não despertaram para o sentido e importância das palavras, então, infelizmente o ato desencadeia no mínimo a situação de revide, e para tal como reflexo do momento, até o reconhecimento do indigesto argentino, relações afetam-se.

Ao cidadão Mario Vargas Llosa como conhecedor deste povo, sabe, e o que significa em cada argumento seu efeito, quando este notado, também, avalia-se por natureza política. Sob outro aspecto reverter este, diríamos qüiproquó, exigirá uma diplomacia de primeira linha. Inclusive, com risco de assimilar figuras de vaidades da América, que por estranhamentos, se dão ao comum, como, Chavez, Morales, Lacalle, e que não resistem, uma boa oportunidade de polemizar. E, como não poderia ser diferente, adianto que a questão implica em situações, aliadas a pressão e representatividade.

Para tanto, ao conhecimento de causa por comparar o estímulo de Llosa, temo que o propósito deste empreendimento comprometa, em duras penas o que de fato seria um importante contributo da posição de escritor, enquanto origem em soluções aos problemas já existentes, amealhando não só a questão humanitária mas, educativa.

Agradeço, Rui Baptista por onde enaltece o estudo das causas humanitárias, mas pessoalmente identifico como outro padrão a questão, da fraqueza humana, apenas lamento pela falta da consciência por uma ordem das coisas, quando esta é imprescindível.

Anónimo disse...

Se os macacos por acaso,
pese embora o seu atraso,
são mais felizes que nós,
voltemos ao seu estado,
pois conforme está provado
eles são, pelo seu lado,
nossos primeiros avós!

JCN

DK disse...

Verdadeiramente umas das piores inferências que já tive oportunidade de testemunhar. A cada geração que passa forma-se uma brigada puritana pronta a desclassificar novos comportamentos. É o mundo de intelectuais que temos.

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...