sexta-feira, 6 de maio de 2011
O DNA DE BIN LADEN
Minha crónica no "Sol" de hoje:
No passado dia 1 de Maio, o Presidente dos Estados Unidos Barack Obama anunciou à América e ao mundo a morte do terrorista mais procurado do planeta, Osama Bin Laden, depois de concluída uma operação especial no Paquistão algumas horas antes. O corpo foi rapidamente sepultado no mar, em sítio não anunciado, ao mesmo tempo que decorria a confirmação científica da identidade.
A pergunta é natural: Haverá a certeza de que se tratava mesmo do famoso líder da Al Qaeda? Para isso usou-se um método de análise do DNA, já empregue em casos de investigação forense ou em processos de identificação de paternidade ou ainda em testes de doenças genéticas, que dá pelo nome abreviado de PCR. DNA significa ácido desoxirribonucleico, a substância que constitui o material genético de todos os seres vivos (a sigla vem do inglês DeoxyriboNucleic Acid). Por sua vez PCR quer dizer Reacção em Cadeia de Polimerase (em inglês Polymerase Chain Reaction). Esta técnica foi desenvolvida em 1983 e logo patenteada pelo químico norte-americano Kary Mullis, feito que lhe valeu o Prémio Nobel da Química dez anos mais tarde (a meias com o seu colega canadiano Michael Smith, autor de outros trabalhos sobre a química do DNA).
O DNA, que se encontra no núcleo de cada uma das células dos seres humanos, permite distinguir cada indivíduo muito melhor do que uma impressão digital. Uma das grandes proezas da ciência deste século foi a sequenciação completa do genoma humano realizada em 2003. De facto, para identificar um dado sujeito não é preciso efectuar uma sequenciação completa, bastando uma análise por PCR de alguns sectores do DNA. O processo laboratorial demora cerca de quatro horas. É necessário começar por recolher uma pequena amostra de material biológico (umas gotas de sangue, por exemplo). Depois realiza-se a amplificação do DNA por um processo químico, mediado pela enzima polimerase, que exige ciclos de aquecimento e arrefecimento (esta é a parte mais demorada). Finalmente, vem a análise propriamente dita da informação, que hoje em dia é efectuada com o auxílio de computadores. O resultado depende obviamente da comparação com o DNA do próprio, recolhido antes, ou de parentes. As autoridades norte-americanas dispunham de amostras de DNA de familiares de Bin Laden, incluindo provavelmente uma meia irmã falecida há pouco tempo em Boston.
Já surgiram teorias de conspiração desmentindo que se trate de Bin Laden e tudo indica que vão proliferar. Haverá mesmo a certeza que se trata do terrorista que ordenou a destruição das torres gémeas? Será a técnica absolutamente certa? A probabilidade de identificação de um indivíduo usando a PCR é superior a 99,9 por cento. Não é a certeza absoluta, mas é a certeza para todos os efeitos práticos.
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4 comentários:
Prudência! "Haverá mesmo a certeza que se trata do terrorista que ordenou a destruição das torres gémeas?" Ele não foi julgado, quem pode ter a certeza de que foi ele quem ordenou a destruição? Suponho que nem o DNA dá indicações sobre isso. Há ainda muito mistério não esclarecido.
Bin Laden era o principal suspeito e admitiu há muito tempo ser o responsável pela destruição das torres.
A confissão já serviu de prova em séculos idos. Hoje não serve de prova.
Estaremos em face de um retrocesso civilizacional? Acabaremos com os tribunais?
O PCR não é uma "análise", mas uma conformação da amostra biológica, para que as quantidades de ADN entrem no patamar de sensibilidade do sequenciador de DNA. A informação é extraída, não por um computador, mas por um sequenciador automático de DNA, por recurso a eletroforese capilar. O sequenciador está de facto ligado a um computador, mas não é o computador que processa a amostra.
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