sábado, 9 de abril de 2011

O puzzle

A desgraça das oposições em Portugal vai da esquerda à direita e da direita à esquerda.

Pelo caminho, quer num sentido quer noutro, a meio, encontramos o Governo (este ou outro) encaixando num conjunto quase harmonioso; só a cor é diferente para o distinguir das oposições.

Mas, notem, o Governo também é oposição: ao que se fazia antes e ao que virá depois, ele é sempre oposição da Oposição.

Em Portugal todos são da Oposição: a Oposição opõe-se ao Governo e o Governo à Oposição. Pelo meio fica o País, encaixando bem no conjunto, embora de cor diferente para se saber que é o País.

E formando também uma harmonia, algo desarmónica, digamos assim. Porque o País também é oposição: ao que se faz e não faz, ao feito e ao por fazer. Está sempre contra tudo: seja bom ou mau, inteligente ou estúpido, evitável ou inevitável.

À custa de ser enganado, de ir atrás de ideias feitas, de andar mal informado e gostar disso, criou uma desconfiança granítica e uma maledicência imbatível. Que desmoraliza e nos é fatal; mas não há azar! E assim, a Oposição desgoverna o Governo e o Governo desgoverna a Oposição. E o País desgoverna uns e outros e é desgovernado por ambos. Quer num lado quer no outro; seja na esquerda, seja na direita; fora do Governo, a entrar nele, ou a sair para a Oposição. Desgoverna a Oposição boicotando e destruindo; desgoverna o Governo com decisões erradas, reformulações inúteis, burocracias anestesiantes e teimosias assassinas.

Em suma, desgovernamo-nos estupidamente, masoquisticamente. Se analisarmos as oposições nestes trinta e sete anos de Democracia, percebemos que a sua constante tarefa tem sido estar contra tudo o que vem dos Governos. Não há uma medida correta, justa ou útil. E mesmo que, por hipótese remota, parte da Oposição a considere boa, outra a considerará má; e se outra parte ainda a achar oportuna, logo a restante a considerará inoportuna.

O Governo (este e os outros) deseduca porque começa e não acaba, porque anda ao sabor das pressões corporativas, dos ciclos eleitorais e dos clientes partidários; porque não tem ideias para grandes planos, nem tempo para estratégias continuadas, nem engenho e vontade de as avaliar. Basta entrar outro governo para deitar tudo abaixo, porque nada estava bem, e voltar tudo ao princípio, para ser destruído pouco depois.

E assim a deseducação alastra e a desordem cresce. E com muita comunicação social a ajudar, é bom não esquecer. E como reina e reinará o compadrio e raramente promovemos os melhores, o nosso desprezo pela competência só acrescenta a miséria e a desordem. E nós, que tanto precisamos de quem nos ensine a ser organizados, persistentes, rigorosos e críticos; e a ter brio, e a reconhecer o valor, somos empurrados para não respeitar nada nem ninguém.

Pelos governos, que fazem hoje para desfazer na legislatura seguinte, pelas oposições, que não precisam da legislatura seguinte para desfazer já, e pelo próprio País em geral (todos nós), que sofrendo dos mesmos males, desprezamos os que trabalham, e chegamos a fazer guerra a quem é eficaz e honesto.

Somos muito eficazes a promover a ineficácia, essa é que é essa. E nem sequer falta, / para o quadro estar acabado, / um Presidente da Nação / sem jeito, chutando ao lado.

Portugal não é um País é um Puzzle.

João Boavida

10 comentários:

Anónimo disse...

A história tem ciclos, e nós estamos num fim de um, o ciclo da 3ª republica portuguesa que começou em 1976 está a chegar ao fim, e chega da melhor maneira, uma transição como deve ser ou termina no lodaçal.

De quem é a culpa? da brigada do reumático que por ai anda na política e não só que ocupam os lugares de decisão onde decidem matérias sobre as quais nada percebem e que se têm fartado de roubar!

Os partidos actuais com assento no parlamento não nos servem, são mais do mesmo!

Anónimo disse...

Sem dúvida que continuamos a lidar mal com quem tem sucesso ou simplesmente faz um bom trabalho. Em vez do elogio ou da inspiração, ainda dominam a inveja e o desvalorizar quem por algo de decente fazer põe em evidência a mediocridade de outros. Não fazem nem deixam fazer. E na política é o mesmo, por melhor que se faça, a oposição está lá para deitar abaixo e o governo mostra que é igual respondendo na mesma moeda em vez de seguir em frente. À falta de um objectivo comum, nacional, cada um trata da sua quinta. Sem cair no exagero e enjôo que é no EUA a quantidade de vezes que dizem para si mesmos que são o melhor país do mundo (numa nação em que 1 em cada 7 nem sabem onde fica o próprio país), sem dúvida que precisamos de aprender a gostar mais do nosso país e das nossas coisas para podermos trabalhar em conjunto em vez de sempre uns contra os outros.

Anónimo disse...

Pretender que os portugueses
deixem de ser invejosos
é dos actos mais custosos
de alcançar as mais das vezes!

JCN

Fartinho da Silva disse...

Excelente texto! O fim deste regime (3ª República) está próximo.

Anónimo disse...

"Portugal não é um País é um Puzzle"...e todos nós somos peças desse puzzle!!!Somos mais afoitos na destruição do que na construção. Para destruir não necessitamos de grandes recursos, mas para construir algo, necessitamos de vários ingredientes que não abundam na nossa cultura, como por exemplo o rigor! Tanto no lar como nas escolas, este ingrediente é visto como uma chatice. Será que o nosso passado, presente e futuro registaria a consecutiva consagração da incompetência se o rigor fizesse parte da nossa cultura? A existência de rigor nesta sociedade há muito que teria impedido o "chico-espertismo" de comandar este país. Resta-nos aquele grande consolo de camuflarmos a falta de rigor, com a nossa extraordinária capacidade de "desenrascanço". Não! Não é falta de rigor!Nós somos um povo muito "desenrascado"...triste consolo!
NF

Anónimo disse...

O que nos falta em rigor
sobra.nos em ladinice,
uma espécie de pendor
para a campo da aldrabice!

JCN

Anónimo disse...

Se em questões de eficiência
somos um povo frustrado,
no que toca à inteligência
tudo está do nosso lado!

JCN

Anónimo disse...

Seriamente, se as coisas são mesmo como diz, então dever-se-ia pôr em causa o regime.

Anónimo disse...

Se com estas pessoas não há solução, então o que fazer?
Cruzar os braços e continuar a criticar aquilo que vamos sabendo através da comunicação social?
Emigrar para um sítio onde haja mais decência?
Conformarmo-nos com o nosso triste fadinho?
Ir trabalhar todos os dias e esperar (rezar) por tempos melhores?
Ir às compras e gastar enquanto dá?
Aproveitar este 25 de Abril e voltar a mudar de regime?
Aproveitar o sol e calor e ir de férias para o Algarve ou para o Sul de Espanha?
Ver a bola na televisão enquanto é em canal aberto?
Formar novos movimentos ou partidos?
Esperar que os técnicos do FMI sejam mais sérios do que esta gente que temos tido e ir vivendo um dia de cada vez?

Anónimo disse...

Perguntar não custa nada
nem tira tempo também:
a resposta adequada
é que a não sabe ninguém!

JCN