sexta-feira, 19 de março de 2010

DÉCADA NOVA, VIDA NOVA?


Minha crónica no "Sol" de hoje:

Completamente imersos como estamos na actualidade, não reparamos na enorme transformação tecnológica que se tem dado nos nossos tempos. A revista America's Heritage Invention Technology, no número de Inverno de 2010, diz que "poucas décadas, se é que algumas, se podem comparar com os primeiros dez anos do século XXI do ponto de vista de saltos tecnológicos no domínio da electrónica de consumo." Veja-se o top-ten que a revista escolheu:

1- Câmara de telemóvel
2- Aplicações de telemóvel (IPhone, etc.)
3- Música digital
4- DVD / Bluray
5- GPS
6- Redes sociais (Facebook, etc.)
7- Laptops
8- Gravação vídeo digital
9- Livros electrónicos (Ebooks)
10- TV com grande ecrã de plasma.

Embora nem tudo isso seja estritamente deste século, parece difícil não concordar. Há dez anos, quando a actual década estava quase a começar, não tínhamos, de facto, nem IPhone, nem Facebook, nem Ebooks...

O que acontecerá, no domínio das novas tecnologias, na década que agora se aproxima? O físico Niels Bohr, um dos criadores da teoria quântica que proporcionou quase toda a parafernália tecnológica em que vivemos, dizia: “É muito difícil fazer previsões”. E acrescentava, com subtil humor: “Em especial do futuro”. Mas um candidato a profeta não deve falhar se disser que aquelas tecnologias, à medida que os transístores se tornarem ainda mais pequenos, continuarão a evoluir e a inundar as nossas vidas. O mundo será conquistado, no futuro como no passado, pelos inovadores, aqueles que, baseados na ciência e na tecnologia, tiverem ideias capazes de provocar mudanças.

Mas, quando algo muda, há sempre muita coisa que permanece. Faz-se o top-ten do que é novo, mas podia-se fazer um top-million do que é velho. A leitura da última das “Dez ideias para os próximos dez anos”, no número de 22 de Março da revista Time, funciona um pouco como um balde de água fria sobre as nossas elevadas expectativas de futuro. Intitula-se, por paradoxal que possa parecer, “A era da pasmaceira”. Defende que os tempos não estão, afinal, a mudar como a ficção científica previa, e que também não irão mudar tão cedo. Diz a revista que “os gadgets da era da informação não têm tido, nem de perto nem de longe, o efeito transformador tão grande na indústria e na vida que tiveram a luz eléctrica doméstica, o frigorífico, os fogões eléctricos e a gás, e as canalizações de chumbo na primeira metade do século XX.” E continua: “Será que a combinação do telefone, do ecrã e do teclado foi, de facto, tão revolucionária como o telefone, a televisão e a máquina de escrever originais?”. Boa pergunta!

9 comentários:

dromofilo disse...

« Pela primeira vez na história da humanidade estão disponíveis em massa objectos técnicos hiperpotentes, dos quais não usamos todas as potencialidades. As viaturas de série podem atingir os 180 quilómetros por hora – mas não podemos ultrapassar os 130; (…) as máquinas fotográficas permitem fotografar movimentos ultra-rápidos e ângulos acrobáticos – mas não servem senão para tirar algumas fotografias às crianças na praia todos os anos; os programas dos nossos computadores pessoais têm funcionalidades que só usamos parcialmente – a começar pelos processamentos de texto.
Esta impressão de impotência que muitos sentem perante a técnica não será motivada pela hiperpotência inútil dos seus objectos? »

Jean-Marc Lévy- Leblond - Impasciences

Anónimo disse...

So nao ve que desde 1970 isto tem sido uma pasmaceira a quase todos os niveis que e muito ignorante ou nao quiser ver.

Mesmo na area das TI a maioria dos problemas continuam a ser os da decada de 1970. Este tipo de inovacoes como os iphones, ipad, facebook/orkut/hi5 sao apenas para enganar a vista como uma bucha engana o estomago entre refeicoes.

Essencialmente o que mudou foi meramente quantitativo (mais concentrado, mais fino, mais rapido, mais barato) nada de essencial como por exemplo a massificacao do telefone ou do automovel e electricidade que realmente mudaram radicalmente a vida.

Nada melhor para apreciar este tipo de evolucao do que o campo da inteligencia artificial. Leiam os artigos de ha 40 anos e vejam quantas das expectativas foram sequer marginalmente cumpridas.

Proximas de zero.

Mudancas e inovacoes fundamentais precisam-se e nao apenas andar a afinar formas.

dromofilo disse...

Concordo inteiramente consigo, anónimo. Quando H. Dreyfus publicou, em 92, "What computers still can't do: a critique of artificial reason", não imaginaria que 18 anos depois a sua obra se manteria actualíssima.

João Tarelho disse...

Para que o proximo telemovel com câmara tenha mais dois pixeis, gastam-se milhões. Para que o proximo carro va' dos 0 aos 100 em menos dois milionésimos de segundo gastam-se enésimas quantidades de dinheiro, para que CR9 ou Maradona 2 joguem aqui ou ali, mais uns milhões se movimentam, para que a proxima televisão tenha mais uns pozinhos de definição, mais milhões se gastam... Quando fara' o Times um artigo juntando todo este dinheiro na mesma conta e mostrando ao Mundo que estes TRILIÕES (ou mais, se juntarmos mais triliões na "inovação" da tecnologia militar, e as aspas não as quero inocentes...) postos ao lixo talvez resolvessem, quiça', a fome no Mundo, e pare-se de colocar o rotulo "utopia" a quem diz, como eu, que esse era um problema com solução. Tão simplesmente porque os recursos existem, estão é mal divididos...
Pois não sobejam, caros amigos, pessoas com a intenção de fornecer conhecimento, mas sobram os que querem REconhecimento... Não sobejam pessoas como o professor Carlos Fiolhais e os demais autores deste blog que sigo. Continuem, pode ser que um dia se possa perceber o que é realmente importante...

Anónimo disse...

Mais tecnologia, mais informação, menos conhecimento...

Carlos Medina Ribeiro disse...

Em «As Maravilhas do Cinema», de Georges Sadoul, fica-se de boca aberta com a descrição do que era preciso fazer (mesmo já na 2ª metade do século XX) para simular coisas simples, como uma cena numa carruagem:

Era filmada em estúdio, com 4 homens a abanar a estrutura (para simular os solavancos), mais 2 que passavam junto à janela com uns ramos (para simular árvores), mais 2 que davam a uma manivela (para fazerem passar uma enorme tira com uma paisagem pintada, enrolada em rolos com 6 metros de diâmetro), mais outro a soprar pó-de-talco para o ar (para simular poeira), etc.

Tudo isso repetido umas 12 ou 20 vezes, para obter, no fim, alguns segundos de película final (60 segundos/dia era uma valor muito bom).

José Batista da Ascenção disse...

Na opinião de Sobrinho Simões, publicada algures, faz tempo, o que realmente mudou a humanidade nas últimas três ou quatro décadas não foi a parafernália de instrumentos tecnológicos, desde as televisões aos telemóveis e aparelhos cibernéticos. O que mudou realmente a mentalidade e os comportamentos humanos terá sido a invenção e o uso da pílula anticoncepcional. E segundo algumas estimativas, salvo erro comentadas pelo professor Mário Sousa, na Europa, 8-10% dos europeus chamam pai a um homem que não é biologicamente o seu pai. Ainda segundo Mário Sousa, em Portugal não haverá estatísticas, mas, dos homens que lhe aparecem a pedir testes de paternidade, só um terço vê confirmada a "falha" de paternidade que os preocupa. Mas as mulheres portuguesas estarão a evoluir... no mesmo sentido das demais europeias. Mas também, na opinião do professor Quintanilha, um ser humano não é propriamente um saco de genes de proveniência "imaculada" (o termo é meu...), pois no EUA já haverá dezenas de casos de pessoas que são geneticamente descendentes de três pessoas e não de duas: concretamente, receberam 23 cromossomas do pai, 23 cromossomas da mãe e DNA mitocondrial de uma terceira pessoa.
Pelo que, essa coisa da herança dos genes deverá ser relativizada. A paternidade não é apenas nem principalmente biológica. Foi isto que ainda hoje ouvi ao psicólogo Eduardo Sá, ao princípio da noite, aos microfones da Antena Um.
Ora digam lá que não estamos já num admirável mundo novo.
Só não se entende é por que andamos todos (ou quase) com cara de enterro...
Rejubilemos, pois.

Anónimo disse...

Sim, a pílula foi um acontecimento brutal.

Bem visto.

Anónimo disse...

ODE AO FUTURO


A Doutora Maria Assumpta Dias Coimbra

Um mundo novo está para surgir,
melhor que o nosso foi, como estou crente,
com firmes esperanças no porvir,
mais justo, mais aberto e atraente!

Vai-se viver mais tempo, estou seguro,
com menos sofrimento do que agora,
mais alegria de viver, sem muro
entre as pessoas pelo mundo fora.

Será na esfera dos computadores
que viverão meus netos e bisnetos
com novas concepções, outros valores.

Permita Deus que eu cante esse universo
antecipadamente em meus sonetos
de musical e apolíneo verso!

JOÃO DE CASTRO NUNES

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...