quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Professores: deixem os alunos em paz!

O "grito" de libertação, de emancipação cantado pelos Pink Floyd já me serviu para outro ou outros textos que publiquei no De Rerum Natura. A razão é simples: ele resume exemplarmente a concepção de ensino que se produziu e imperou no século XX, e na qual se tende a insistir.

Essa concepção é a seguinte: os professores não devem organizar as aulas com base na palavra, (sobretudo se a palavra for a sua), estruturar a relação pedagógico-didáctica (a relação com fins precisos de transmissão da informação e de desenvolvimento cognitivo), nem usar quadro de giz, livros ou outros documentos em papel (que são recursos tradicionais). E não devem fazer tudo isto porquê? Porque os alunos aprendem (ou seja, desenvolvem competências) ao trabalharem sozinhos ou uns com outros (ou seja de forma autónoma e colaborativa), através da pesquisa de assuntos do seu interesse vivencial e, muito importante, recorrendo (sempre) às novas tecnologias da informação e comunicação.

E haverá estudos que corroborem tal concepção? Sim, há. Mão amiga fez-me chegar a divulgação de um que parece ser de revisão da literatura e que inclui dados relativos ao sucesso nos níveis de escolaridade básica, secundária e superior. O título do texto que li e que apresento de seguida é sugestivo: Ensino online produz melhores resultados do que as aulas convencionais.

"Os resultados deste estudo, realizado em colaboração com o instituto de investigação SRI International, revelam que 6 de cada 10 jovens que utilizam métodos de ensino online aprovam com boas notas as provas curriculares, face a 5 de cada 10 que que recorrem unicamente ao modelo tradicional de classes presenciais.

Apesar do método online registar uma taxa de sucesso mais elevada, os investigadores constataram que o êxito foi ainda mais notório quando se combinam os dois modelos - online e presencial - mediante o sistema de Blended-learning.

Os estudantes que recebem toda ou parte da sua formação através da internet obtêm, em geral, um melhor desempenho do que aqueles que simplesmente assistem às aulas presenciais. Esta é a conclusão de um grupo de investigadores norte-americanos do Departamento de Educação dos E.U.A., que analisou 99 estudos sobre esta temática entre os anos de 1996 e 2008.

A (...) directora docente da Master.D Portugal, refere a este respeito que “as novas tecnologias de informação e comunicação oferecem enormes potencialidades ao ser humano no decurso do seu processo de aprendizagem. Entre todas as vantagens que a educação online congrega, penso que a mais importante é a criação de experiências individuais de formação que despertam o interesse e curiosidade do indivíduo e que fomentam, simultaneamente, uma maior autonomia, espírito crítico e ânsia por novos conhecimentos.”

Por outro lado, os especialistas da empresa de formação à distância Master.D, afirmam que os jovens portugueses recorrem pouco às novas tecnologias de informação como ferramenta auxiliar de estudo. “As instituições de ensino desempenham um papel fundamental na educação e formação dos alunos e devem ajudá-los a explorar as potencialidades das TIC enquanto suporte pedagógico. As novas metodologias e sistemas de ensino são fundamentais para garantir um nível de formação mais elevado e o desenvolvimento das aptidões da nossa comunidade de estudantes.”

Como David Marçal explicou em texto recente é preciso ter algum sentido crítico em relação aos estudos científicos: sendo feitos por pessoas, podem enfermar de erros. Neste que destaquei e tal como está apresentado, insinua-se pelo menos um erro de conceptualização teórica: o erro de que a aprendizagem dispensa os professores.

19 comentários:

Fartinho da Silva disse...

Enquanto vendedor de soluções informáticas de suporte ao "ensino" folgo em conhecer este estudo, apesar de saber que tudo isto não passa de um enorme foguetório para tentar esconder o fracasso rotundo e absoluto da "escola" da geração de 68!

Cara Helena Damião,
Depois de ter abandonado a "escola" pública, depois de ter confirmado que há muita gente disponível para pagar propinas mensais no valor de 1000 euros para oferecer uma escola onde, o professor estuda e ensina, o aluno estuda e aprende e o encarregado de educação se responsabiliza efectivamente pela educação dos seus rebentos, decidi juntar-me a quem vive às custas do fracasso da tal "escola" pública e assim, além de continuar a ensinar numa das poucas escolas privadas de qualidade, aceitei o convite que uma empresa ligada a vários "especialistas" e "cientistas" em educação me fizeram no sentido de vender "soluções" informáticas que permitam a manutenção deste modelo utópico de "escola".

Como dizia o outro, "Quando não os podes vencer, junta-te a eles!"

António Daniel disse...

Se me permitem, direi o seguinte:
1º As tic são meios e nunca fins;
2º Se existem devem ser utilizadas;
3º Bem utilizadas, obviamente;
4º o máximo que poderão fazer é ao nível da atractividade, da imagem;
5º Ao nível cognitivo pouco conseguem;
6º A cognição a par do conhecimento são dois factores decisivos para medir a importância da escola;
7º As TIC podem ajudar mas o professor tem a primeira e a última palavra;
8º Tem a primeira palavra como sistematizador;
9º Tem a última palavra como sintetizador;
10º Ora, emoção e a entoação decorrentes do que se diz e da forma como se diz são imprescindíveis para o conhecimento.
11º A palavra é importante e a linguagem é situada. Quem não perceber isto, percebe pouco de educação.

Rui P. Guimaraes disse...

A ilustre Sr.a Helena Damiao nao estará a entrar em dogmatismo? Quando os estudos lhe estao a favor é defende-los e elogia-los. Quando nao concorda com os resultados, há que manter uma certa distancia de certos estudos, que antes de terem algum erro técnico já estao errados por si só. Porque aliás no estudo nunca se diz que o professor nao é necessário só que hoje em dia, com as ferramentas de que dispoe, tem mais alternativas ao ensino tradicional de quadro e giz. Porque, no fim, os professores também estarao por detrás do proprio software que pode ser utilizado no ensino e terá que haver sempre alguém para encaminhar e tirar dúvidas, tal como refere o estudo.

Rui P. Guimaraes disse...

Sr. Fartinho da Silva já agora, gostaria de saber que solucoes informáticas é que representa? É realmente irónico que nao seja muito apologista daquilo que comercializa. Que principais desvantagens lhe aponta?

Fartinho da Silva disse...

Caro Rui P. Guimarães,

Vendemos sistemas de integração de dados, sistemas de apoio à decisão, sistemas de e-learning, sistemas de b-learning, sistemas de gestão de informação e sistemas de gestão do conhecimento. Vendemos, ainda, quadros interactivos muito giros e muito dinâmicos, mesas com computadores integrados muito giras e modernas, mesas digitalizadoras muito curiosas, sistemas de rede com e sem fios, leitores de ficheiros de áudio (vulgo leitores MP3), leitores de ficheiros de vídeo (vulgo leitores MP4) e smartphones. Vendemos, ainda, software extremamente caro made by Microsoft e Adobe.

Todos estes sistemas podem ser adquiridos à medida e até chave na mão!

Desvantagens? Se os alunos já soubessem ler, escrever e fazer contas, nenhuma! Mas parece que não é bem assim...

Mas olhe, o dinheiro tem entrado com alguma facilidade apesar dos tempos difíceis que vivemos :)

outra "opinião"... disse...

Computers in schools could do more harm than good
Ignoring the dangers facing the screen generation is a dangerous approach, says Susan Greenfield.

http://www.telegraph.co.uk/education/7220021/Computers-in-schools-could-do-more-harm-than-good.html

Carlos Afonso disse...

Sobre este assunto gostaria de deixar uma humilde contribuição que resultou de alguma pesquisa e reflexão que nestes dias tenho feito sobre os potenciais inconvenientes da utilização de certos materiais multimédia, nomeadamente os que envolvem as novas tecnologias. Deixo também um endereço para consulta: http://www.peremarques.net/funcion.htm

Anónimo disse...

Vossemecê, senhor CA, também vende material informático... para o ensino? Isso é que é saber... aproveitar a deixa! JCN

Anónimo disse...

Que bom seria que os alunos aprendessem só por si! JCN

Pedro disse...

"Neste que destaquei e tal como está apresentado, insinua-se pelo menos um erro de conceptualização teórica: o erro de que a aprendizagem dispensa os professores."

E pode demonstrar que se trata de um erro ou e so um bitaite como os que costuma criticar?

Rui P. Guimaraes disse...

outra "opinião"... disse... "Computers in schools could do more harm than good"

Ja me tinha deparado com este artigo e repare que isto ano representa uma opiniao divergente. Acima, como referido pela Sr.a Damiao, diz-se que os estudos "demonstram" enquanto nessa dita "opiniao" diz-se que os computadores "podem" fazer mal se os perigos forem ignorados. Tal como os carros "podem" causar acidentes se nao houver cuidado, tal como o exercico fisico "pode" causar danos se nao houver o previo aquecimento, tal como comer muito peixe "pode" intoxicar por estes "poderem" conter demasiado mercurio. Isto nao quer dizer que nao se utilizem carros, nao se faca exercicio, nao se coma peixe e nao se utilize o computador de todo, apenas "poderao" existir alguns cuidados a ter. O que, penso eu, é natural...

Anónimo disse...

Em tudo se quer a "aurea mediocritas" dos epicuristas. Nem tanto ao mar nem tanto à terra: "in medio virtus". JCN

Leonardo disse...

Caros,

Tecnologia é uma lousa sofisticada, e só. Usem-na como acharem melhor, percebam que o professor, o sujeito competente em conhecimentos, nunca deixará de existir, porque mesmo com um suposto fim da escola como ainda vemos, sempre existirá o espaço para ele cumprir seus deveres.

Temos é que estar abertos!

25 Fev 2010 21:47 disse...

Sr. Rui Guimarães
agradeço a boa vontade do seu esclarecimento
...mas não me referia aos resultados experimentais do estudo em questão neste post nem sequer à sua interpretação (confesso que não li o estudo).
Referia-me às opiniões expressas por Helena Damião nest post e por Susan Greenfield no link citado. São opiniões, não estudos. Discorda?
(algo parecido, mas não exactamente igual, ao seu comentário de 25 de Fevereiro de 2010 19:48 ou ao comentário de Pedro 26 de Fevereiro de 2010 02:22)

Anónimo disse...

Temos que estar abertos... a quê?!... JCN

Anónimo disse...

Quem se arrisca a ter a loja aberta... com a ladroeira que por aí vai?... Nem a ara romana do concelho de Góis, à guarda da autarquia arganiense, escapou à gatunagem... de colarinho branco. Uma calamidade! Nem fechadas as coisas escapam, quanto mais abertas! JCN

Rui P. Guimaraes disse...

"25 Fev 2010 21:47 disse...
Sr. Rui Guimarães
agradeço a boa vontade do seu esclarecimento"

Pelos visto um eclarecimento bem escuro. Continuo sem saber onde quer chegar. As opinioes referem os estudos. Numa opiniao é o conceito à partida que está errado, apesar dos resultados demonstrarem o contrário, no outro alerta-se para o facto de "poder" haver perigos. As opinioes, tanto como os estudos, referem-se a coisas diferentes apesar de ser na mesma àrea.

Haddammann Verão disse...

O Folclore de Tim Maia no Rio e a Estátua Francesa do Morro..
(dedico este texto-comentário-piada à Nadia Jung e à Lordello do blog Sem-Religião).
Antes um lembrete: São já bem mais que 12.000.000 de Non-Believers só no Brasil; não somos mais tão poucos e nem tão frágeis, e temos muito mais que apenas QI e intuição, temos o puro-suco da Rellexão.
Conta-se que Tim Maia dominava a Orla do Rio traçada folgadamente Do Leme ao Pontal. Os fãs das madrugas boas afirmam que lá pelas 01:00h alguém dava o toque que o Tim acabara de chegar na casa dele; ninguém arredava pé da casa de show; e lá pelas 02:00h um recado do Tim avisava que ele não ia, que a galera tinha de voltar noutro dia. Quem reclamava? Ninguém. Nem pegavam o dinheiro de volta. Voltavam lá no dia e o Tim aparecia, e era “a Festa”. Diz o folclore ainda que numas da “night” ia o Tim embalando o Vale Tudo; botando qualquer e todo tipo de discriminação pra outros quintos, quando alguém lá do meio da balada reclama: “Pô! Tim ... Tu tás dizendo que não vale hômi com hômi e nem mulé com mulé, mas tem um quinteto ali sinistro. Vê! ...
O Tim olhou a parada. Voltou-se pra Vitória Régia (que não queria nem saber botava o som quente mêrmo), e mandou: “Pára Tudo! “ ... Desceu o palco, chegou , e perguntou: “Aqui, criatura, diz pra mim, na boa ... Tu és viado? Resposta: “Não”. Tentou de novo: Tu és lésbica?. “Não”. Então, quê? “Sou sapatola”. O Tim rodou olhando em volta, coçou a cabeça, e viu o Neguín da Beija-a-Flor por ali; chamou-o no sapatin e disse: “Caralho, Neguín, êh agora!? O Neguín olhou a colocação do encaixe do quinteto e a coisa ficava assim: A sapatola no meio, depois uma mulher, depois um homem, uma lésbica, e mais uma sapata. Aí o Neguín falou: “Tim, o negócio tá legal; note; não tem homem com homem e nem mulher com mulher.
O Tim voltou pro palco e acenou pra banda, e mandou: “Bota Quente! Liberou geral!”
Aí vem aquela estória da estátua do cabeludo de braços abertos lá em cima do morro.
Neguin e branquin andaram atarantados com um zum-zum-zum (não o da Elza) de que um francês flagrou um americano na hora em que se acabava de felicidade ao assistir esse show do Tim Maia. Memorizou-o apaixonado pela alegria do Rio e com os brações abertos querendo abraçá-lo. Daí correu pro estúdio, fez a estátua, e mandou-a pra nós.
Mas olhando bem. Seria legal também se lá em cima estivesse a Globeleza, ou a Dilma ninando a Marina no colo, puxando o lulinha com um aviãozinho, um gamezinho, um cachorrinho, e um embrulhinho esquisito na ponta da fileira; ou até melhor: se tivesse uma sambista do Salgueiro descendo até o chão, com o foco de um holofote travado no ângulo do ponto G; ou o escudo do CFZ. Bicho, Maluco, Brow, isso seria de lascar; bonito bagarái.

Obs.: Tim Maia, Renato Russo, Cazuza bateram forte nos "sistemas de ensino" que queriam "as mãos", "as bôcas", e "a obediência" de nós ainda infantes.

André Rodrigues disse...

como professor, não gosto de pensar que a possível influência positiva que tenho em alguns seres em construção (todos nós somos seres em construção, operários de nós próprios, e, particularmente enquanto educadores, operários, em maior ou menor escala, de outros...), dizia eu relativamente à potencial influência que possamos exercer, não gosto de admitir que pode ser dispensada. sou utilizador assíduo das TIC, esforço-me por incorporar as mesmas tecnologias no processode ensino-aprendizagem, admito a sua importância no contexto em que vivemos e educamos mas considero importantes alguns pontos (que, confesso que por preguiça, não confirmei se foram já abordados por outros participantes):

- é essencial admitir as TIC como uma ferramenta, cada vez mais polivalente e atractiva no ensino

- a importância das TIC não deve ser exagerada, rreservando-se sempre aos professores, e outros elementos educadores, a importância maior no processo

- completando o ponto anterior, as TIC, como qualquer recurso ou ferramenta, deverá ser utilizado de forma correcta, ou de outra forma verão a sua utilidade diminuída, eliminada ou, pior, invertida. para isso, deverá ter o professor um papel activo e objectivamente incluído nos currículos. deverá, portanto, ser formado, informado e motivado para isso, devendo ser respeitado e valorizado também por isso

- também ao professor cabe a tarefa de alertar para a importância dos livros, ensinar a (agora árdua!) tarefa de pesquisar e recolher informação dos mesmos. não me parece possível a substituição completa dos livros pelas TIC, agora ou num futuro

- entendo ainda que o professor deve ser facilitador e orientador do uso das TIC pelos alunos: muita informação não quer dizer muito boa informação ou muito bom uso da mesma, o que vejo é que são relativamente poucas as crianças que sabem lidar da melhor forma com a quantidade de informação actual. já dizia alguém: 'nada faz sentido na nossa sociedade excepto à luz da explosão de informação' e 'as pessoas preferem que lhes seja apresentada uma verdade, mesmo que fracamente sustentada, do que explicados muitos processos que na maioria das vezes não chegam ou ajudam a chegar a nenhuma conclusão'

- relativamente ao estudo apresentado, parece-me incompleto nos dados, nomeadamente nível de ensino em que se fez a pesquisa

gostava de acreditar que é possível um ensino baseado na pesquisa, com maior ou menor recurso às TIC, mas nunca eliminando o educador/a: transmissor de informação, mas também (se tiver essa vontade e capacidade de partilha) de experiências pessoais intelectuais e emocionais únicas, formador de cientistas, artistas, economistas, juristas, políticos, outros, mas essencialmente de cidadãos solidários, responsáveis, ambiciosos, compassivos, respeitadores, altruístas...

cumprimentos a todos. e um abraço especial a todos que se dedicam à tarefa tantas vezes extenuante de educar
André Rodrigues

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