O contacto entre estudantes de Ciências da Educação e educadores experientes é decerto uma mais-valia para a formação dos primeiros. A entrevista que se segue surgiu e tem sentido nesse quadro.
O entrevistado é Rui Marques Veloso, licenciado em Filologia Clássica com o Curso de Ciências Pedagógicas, que lhe deu acesso profissional à docência. Foi professor de Liceu e do Ensino Superior, na área da formação de professores. Com obra reconhecida na área da literatura para a infância e juventude é, no presente, colaborador do Plano Nacional de Leitura.
P: Nos debates sobre o ensino surgem concepções de educação que tanto ancoram no designado "modelo tradicional" como no designado "modelo novo". Como se posiciona em relação a este dualismo, a partir da sua vasta experiência como professor, formador e investigador?
R: Devo começar por dizer que sou um produto dos anos 60. A sala 17 de Abril deste Departamento de Matemática, onde estamos, deixa-me imensas recordações de um tempo revolucionário sob diversos pontos de vista, inclusive o da educação. Este é o 40.º ano que lecciono. Quando terminei o meu curso, em 1967, tinha 20 anos, era menor de idade e foi preciso uma autorização especial para começar a exercer a docência e, assim, fui o mais jovem professor do ensino liceal. A partir de 1978 comecei a trabalhar na formação de professores, mais tarde integrei-me na supervisão de estágios… Perceberão que, ao longo destes anos, passei por muitos tipos de ensino, eu próprio tive várias ideias e ideais acerca do ensino… Ao olhar para o meu percurso sobretudo como formador, posso dizer que tenho uma sensação um pouco contraditória: por um lado, sinto que fiz qualquer coisa, mas, por outro lado, sinto que falhei.
Sinto que fiz qualquer coisa porque penso ter conseguido transmitir aos meus formandos a noção de exigência e a consciência de que ser professor é a melhor coisa que há. Sinto que falhei por não ter sido tão exigente como devia, particularmente ao nível da avaliação. Muitas vezes penso que sou responsável pela certificação profissional de pessoas que eu sei que não são bons professores. Por muita intuição que se tenha, não há nada que substitua uma sólida formação científica e uma sólida formação pedagógica e didáctica.
Entendo que estes são os pilares fundamentais da formação. As lacunas existentes vêem-se no estágio e são muitas. E, aqui, eu não perdoo aos meus formandos falhas do domínio científico porque entendo que ninguém pode ensinar o que não sabe. Posso perdoar falhas do domínio pedagógico porque entendo que estamos sempre a aprender e essas falhas podem vir a ser colmatadas. Goethe quando tinha 83 anos disse que ainda não tinha deixado de aprender a ler…
Mas, respondendo de modo mais concreto à vossa pergunta… Parece-me que não podemos usar métodos de há 30 ou 40 anos atrás, não podemos recorrer a soluções que se mostram inviáveis. A actualização permanente de métodos e ideias é crucial. Deixem-me dar um exemplo: num artigo recente publicado na revista Xis, Daniel Sampaio inverte o slogan “é proibido proibir”, que foi um grito de resistência ao conservadorismo, para “é proibido não proibir”. Isto mostra que uma das diferenças de que enferma o ensino está diagnosticada. A autoridade no ensino, que é diferente de autoritarismo, tem que ser recuperada. Eu passei pela fase do autoritarismo como aluno e como professor e pela fase de falta de autoridade como aluno e como professor, sofrendo com ambas.
P: Tem-se a ideia de que os pedagogos, os especialistas da educação defendem um conjunto de concepções educativas, mais conotadas com a educação nova, progressista, romântica. Pensa que esta ideia corresponde à realidade?
R: Nalguns casos correspondem à realidade, mas noutros não. Há meia dúzia de anos perguntei numa aula: “Quem é que educa as crianças?”. Uma aluna, que dali a algum tempo ia ser professora, respondeu: “São elas que se educam a si próprias”. Não foi uma resposta dada por acaso, é uma resposta que assenta na crença do mundo de Peter Pan: as crianças deixadas a si próprias são capazes de se orientar. Recuei ao início da minha carreira e lembrei-me que também eu me deslumbrava com as ideias de Neill e com a Escola de Summerhill. Nessa altura sonhava, por exemplo, com uma escola onde não houvesse um reitor, que tinha um poder absolutamente discricionário, que podia dizer a um professor: “tenha juizinho, se não para o ano não tem lugar aqui, nem em qualquer outra escola”, que não se preocupava com a competência científica e pedagógica dos seus professores mas que os chamava a atenção pela maneira como se apresentavam ou por falarem com os alunos fora das paredes do liceu. Nessa altura eu, que tinha a idade que vocês têm agora, queria que a educação fosse outra coisa: que se estabelecesse uma relação mais próxima com os alunos, por exemplo. Quando percebi que os meus sonhos de uma pedagogia nova também tinham fragilidades foi um choque muito grande.
Penso agora que pedagogia tem de ser sempre renovada, pois trabalhamos com jovens em tempos diferentes. Não podemos recorrer hoje à pedagogia tradicional, mas devemos tirar dela o que é válido. Nem podemos embarcar na pedagogia nova de forma acrítica, dogmática. Todas as pedagogias que produzem frutos, independentemente de estarem conotadas com o tradicional ou com o novo, são boas”.
Vou dar um exemplo de uma renovação pedagógica incontornável: será impensável leccionar no presente sem recurso aos equipamentos informáticos, porque as novas gerações convivem todos os dias com eles. Os professores não podem ser info-analfabetos, ainda que muitos o sejam e não se preocupem em mudar… A escola a que pertenço criou um programa de competências básicas a nível informático destinado a escolas do 1.º ciclo que se distribuem num raio de 50 km. Verificámos que muitos dos equipamentos estavam encaixotados. Um professor, questionado, respondeu que não usava, nem pensava vir a usar o computador. E lamentavelmente esta atitude não é só em relação às tecnologias. Sendo também formador ao nível da formação contínua, um dia uma professora disse-me: “Não me interessa o que está a dizer, eu ensino como aprendi há 30 anos e assim vou continuar”. Num outro país isto seria causa de despedimento, no nosso não acontece nada. Mas, reflectindo ainda sobre as pedagogias tradicionais e novas e recorrendo à minha observação do trabalho que se faz em muitos jardins de infância, ao abrigo do que se pensa que são as pedagogias novas, não se estrutura nada, não há planificação, não há definição de actividades, o que há é uma anarquia. São as pedagogias novas levadas ao extremo. No entanto, para me distanciar deste extremo não me aproximo do seu contrário, não partilho da ideia de que, antigamente é que se aprendia.
P: Como vê os especialistas em ciências da educação no nosso sistema educativo? Como é que podemos vir a desempenhar um papel positivo?
R: Os meus 40 anos de ensino permitem-me dizer que os licenciados nesta área deveriam ter lugar na escola, pois o seu papel é fundamental a diversos títulos. Estou consciente que o processo de ensino-aprendizagem até aos dez anos é decisivo para o desenvolvimento futuro das crianças e é neste campo que as ciências da educação devem actuar. Encontro-me entre as pessoas que se recusam a considerar as ciências da educação como as “ciências ocultas”, as principais culpadas quando as coisas não correm bem na educação, o bode expiatório dos males da educação. Penso, no entanto, que tem existido um mau uso das ciências da educação e que isso tem sido altamente nocivo. Não podemos cair no erro de as sacralizar, nem de as atirar fora. Nos grupos de estágio é frequente surgirem questões de ordem pedagógica e didáctica. Como ensinar isto? Como é que o professor pode potenciar as capacidades dos alunos quando os interpela, quando propõe um trabalho de grupo? O que fazer quando os alunos têm um comportamento complicado? Devo acrescentar que também me parece que os licenciados em ciências da educação têm um papel importante a desempenhar na determinação das políticas e medidas educativas.
P: Referiu há pouco que há quem faça mau uso das ciências da educação. Pode precisar melhor essa afirmação?
R: Sabendo-se que o desenvolvimento é fundamental no 1.º ciclo de escolaridade, que é aquele que conheço melhor, precisamos saber o que estamos a fazer. Há que ser muito rigoroso no trabalho que se faz com as crianças até aos dez anos no que respeita ao exercício da autoridade, à estimulação da memória, ou à promoção de outras competências em momentos cruciais. Sabemos que se não actuarmos nesse sentido a criança cristalizará. Os erros que os professores cometem por ignorância pedagógica podem ser altamente nocivas para as crianças, os erros que se cometem na educação de infância e no 1.º ciclo são irreversíveis. Além disso, a sociedade acabará por pagar caro a factura dos erros educativos. É por isso que a educação escolar tem que ser bem planificada, não se pode fazer de improviso. É impossível dar uma boa aula com um plano mau, os formandos tem de perceber que nada se faz de improviso, que o “desenrasca” é uma coisa bem nossa mas é também a nossa vergonha, têm que interiorizar que ou as coisas se planificam com rigor ou falham. As ciências da educação, ao apoiarem a planificação cuidada, podem evitar erros.
Realizaram esta entrevista: Patrícia Teixeira, Joana Costa, Maria João Silvestre, e Miguel Grou.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
O corpo e a mente
Por A. Galopim de Carvalho Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
20 comentários:
Tenho imensa pena, mas esta entrevista demonstra de forma clara que o lobby continua a tentar demonstrar a sua importância!
Em que país democrático e com resultados internacionais trabalham licenciados em "ciências" da educação (seja lá o que isso for) nas escolas?
As tecnologias informáticas devem ser aplicadas no ensino porque os alunos as utilizam? Mas o que é isto? Os alunos também utilizam fisgas, berlindes, etc., será que os professores devem ensinar recorrendo a estas ferramentas?
Quando é que os "cientistas" da educação percebem que os professores é que sabem como ensinar?
Alguém conhece algum licenciado em "ciências" da electrotécnia e que ainda por cima esteja numa empresa a verificar o trabalho de um engenheiro electrotécnico?
Alguém conhece algum licenciado em "ciências" da medicina e ainda por cima a trabalhar num hospital a verificar o trabalho de um médico?
Etc., etc., etc.
Depois desta crítica, tenho que enaltecer o facto de o entrevistado reconhecer erros e até apresentar soluções, pena tenho que as soluções sejam as mesmas de sempre, ou seja venham professores até nós que nós somos a solução. Faz-me lembrar o slogan de um credo religioso: "Jesus é a solução"!
Não, os "cientistas" da educação não são a solução como já o demonstraram inúmeras vezes...
Estimado Leitor Fartinho da Silva
Na verdade há poucos licenciados em ciências da educação/pedagogia (sei que não é a mesma coisa, mas neste contexto, o sentido aproxima-se) a trabalhar em escolas públicas (apesar de várias escolas privadas terem nos seus quadros estes profissionais, possivelmente por perceberem a vantagem da sua especialidade e do seu trabalho), editoras de manuais escolares, equipas responsáveis pela construção de currículos e programas, equipas de avaliação externa das aprendizagens escolares, grupos de trabalho de avaliação do desempenho docente, etc. Ou seja, em pouco sectores educativos encontramos estes licenciados.
Assim, podemos pensar que pode ser exactamente por isso que muitas decisões que se tomam relativamente à aprendizagem, algumas delas (ainda acredito) nas melhores das intenções, não irem além de decisões "pedagógicas" (com aspas), "eduquesas" (também com aspas) de "científicas" (igualmente com aspas)?
Devo acrescentar que, provavelmente como em todos os cursos superiores, há alunos de excepção a estudar ciências da educação, alunos que saem bem preparados e que têm a melhor boa vontade. Desperdiçar a sua formação não me parece muito racional num país como o nosso, cujos problemas no sistema educativos são os que sabe.
Penso que devemos distinguir, quem, por diversas razões que não vêm agora ao caso, se integra nas ciências da educação sem o cuidado de se informar devidamente acerca do conhecimento disponível nesta área, nem tem a preocupação de agir cientificamente (e tanto pode ser alguém da física, como da filosofia como das ciências da educação) de quem é conhecedor do saber pedagógico, pensa e age em função de preceitos científicos aceites como válidos, tem capacidade para enfrentar os preocupantes desafios que a nossa educação levanta…
Duas notas, ainda: a primeira é para sublinhar que as tarefas que os licenciado em ciências da educação podem desempenhar no sistema educativo não passam, de todo, por verificar o trabalho do professor; a segunda é para sublinhar que países com rendimento escolar demosntrado em resultados internacionais, os países nórdicos, por exemplo, integraram há muito tempo profissionais especializados em educação.
Agradeço os seus comentários, sempre atentos, pela possibilidade que abrem de, na medida do possível, esclarecer assuntos educativos que, naturalmente, nos preocupam.
Maria Helena Damião
Há um aspecto redutor que me faz muita confusão: porquê sempre a dicotomia entre o ensino que foi e o ensino(!?) que há? Pela minha parte tenho saudades do ensino de amanhã, que não vejo (qualquer) possibilidade de acontecer no meu país... Ora bolas, se eu não vou "psicologar" por que razão há-de vir um psicólogo "professorar"? Ou se eu não vou "psiquiatrar", por que há-de vir um psiquiatra dar-me lições, quando o que me diz é inaplicável, e eu e tantos professores sabemos que é inaplicável... E por que há-de um suposto especialista em educação determinar as condições em que eu trabalho, se ele próprio seria incapaz de fazer o que faço e em muitos casos até seguiu a via que seguiu precisamente para fugir ao ensino. Quando é que os professores são deixados em paz, dando-se-lhes condições e responsabilizando-os pelo seu trabalho? É nisso que deve consisitir a única e válida avaliação. O resto são malabarismos economicistas e arranjo de lugares para gente que precisa (proventosas) ocupações e, pelo menos, a ilusão de algum poder... E assim vamos continuar. Só mais um acrescento: tiro-lhes o meu chapéu (que nem uso) quando forem perante os alunos fazer melhor do que eu. E isto é um desafio. Quanto ao resto vejam se conseguem assumir a desgraça que têm causado no ensino, facto que não iliba a passividade e acomodação dos professores ao longo de décadas...
''Entendo que estes são os pilares fundamentais da formação. As lacunas existentes vêem-se no estágio e são muitas. E, aqui, eu não perdoo aos meus formandos falhas do domínio científico porque entendo que ninguém pode ensinar o que não sabe. Posso perdoar falhas do domínio pedagógico porque entendo que estamos sempre a aprender e essas falhas podem vir a ser colmatadas. Goethe quando tinha 83 anos disse que ainda não tinha deixado de aprender a ler…
Os erros que os professores cometem por ignorância pedagógica podem ser altamente nocivas para as crianças (...)''
Continuo sem compreender do que se anda a falar. Este discurso tem por objectivo fazer a virtual distinção de género entre autoridade e autoritarismo? Ou transmitirá algo mais de intangível?
Tenho andado na lua... Não me apercebi que era tão renitente esta corrente retrógrada na nossa escola... Afinal, tirando a impertinência vácua do Senhor Fartinho da Silva, disputa-se sobre quê? Estão todos de acordo... Já agora, o que é eduquês? Essa gíria de Cais do Sodré passou-me ao lado.
Dizem os paleontólogos que vamos ficar mais cabeçudos. Mais ainda?
Cara Helena Damião,
Infelizmente, não conheço pessoalmente nenhum "cientista" da educação que não recorra a referências bibliográficas circulares para certificar o seu artigo "científico". Acredito, obviamente em excepções, mas cara Helena Damião, há em Portugal massa cinzenta suficiente para justificar a existência de dezenas de escolas "superiores" de educação, departamentos superiores de "ciências" da educação, faculdades de "ciências" da educação, centros de "investigação" em "ciências" da educação, departamentos de inovação curricular, etc.?
Quanto a licenciados em "ciências" da educação a trabalhar nos colégios privados, acredito que existam, mas não conheço. De qualquer forma, posso acrescentar que se eu fosse o dirigente de uma empresa privada neste sector de actividade, naturalmente que me veria na obrigação de contratar alguém das ditas "ciências" da educação porque sei muito bem o poder que este lobby tem junto do ministério da "educação" e sei muito bem como funcionam as certificações dos colégios. Portanto, essas contratações não me surpreendem.
E repare que tenho colocado sempre as "ciências" da educação entre aspas, porque considero tal designação absurda. Considero ainda que o mal que este lobby fez ao "ensino" público é de tal forma grave que julgo não haver recuperação possível nos próximos 20 anos, pelo menos! Basta reflectir no número de docentes formatados nessa área do "saber" e que hoje são, já, a grande maioria dos "professores". Não imagina o que se passa dentro das salas de aula da grande maioria desses "professores", não imagina o que os "alunos" comentam sobre o conteúdo das suas "aulas". Dou-lhe apenas um exemplo, uma familiar minha apanhou com uma turma de uma "professora" classificada com a nota de Excelente no tal sistema de "avaliação" de "professores" em Biologia do 8º ano e percebeu rapidamente que os "alunos" não sabiam praticamente nada das matérias do ano anterior. Na segunda semana de aulas, uma das "alunas" disse à professora: "As suas aulas são fantásticas, agora sim, só não aprende quem não quer!". A minha familiar muito surpreendida, perguntou a razão de tal comentário; ao que outro aluno respondeu: "O ano passado era uma confusão, a professora juntava-nos em grupo, entregava um guião que tínhamos de seguir e depois deveríamos responder a um questionário no final da aula. Ninguém aprendia nada. A professora deveria achar que já éramos adultos!" (continua)
A tal "professora" era doutorada em "ciências" da educação e era apelidada na "escola" de uma grande "professora" e muito "inovadora"! Daí a nota de Excelente!
Este é apenas um caso. Nos dois anos e pouco em que trabalhei como "professor" na "escola" pública eu percebia muito bem onde estavam os "professores" formatados nessa fé! Bastava passar pelos corredores das aulas, nas salas onde não se ouvisse gritaria, estava um PROFESSOR, nas outras (mais de 90%) estava um "professor". Quando percebi que o sistema preferia os "professores", decidi mudar de vida e concorri para um dos pouco colégios de qualidade neste país, felizmente fui aceite e hoje sou um professor feliz e tenho alunos que aprendem de facto.
Neste colégio não há eduquês! Nem nada semelhante! O professor estuda e ensina, o aluno estuda e aprende, o encarregado de educação é responsável pela educação do seu filho. Simples e eficaz!
A "escola" que o lobby das "ciências" da educação criou em Portugal é o maior factor de exclusão social e é a garantia de nos continuarmos a atrasar em relação aos restantes países europeus mais vinte anos!
Quem tem dúvidas pressione o ministério da "educação" a realizar exames a sério em todas as disciplinas! Resolviam-se dois problemas: primeiro, o país ficava a saber a real situação dos reais conhecimentos dos "alunos"; segundo, o ministério da "educação" parava de brincar às disciplinas e às não disciplinas, porque sabia que teria sempre que haver um exame!
(continua)
Quando tenho um problema de canalização em casa chamo um canalizador e não um psicólogo, quando tenho um problema de saúde procuro um médico e não um sociólogo. Estou em crer que mesmo os "cientistas" da educação quando têm um problema nos rins tentam encontrar um médico... como tal, como pode um psicólogo, ou um sociólogo ensinar um professor a fazer o seu trabalho?
Tenho muita pena, mas continuo a considerar as "ciências" da educação como o lobby que destruiu e continua a destruir o "ensino" público. Acredito que inicialmente as intenções eram as melhores, actualmente tenho imensas dúvidas...
NOTA: todo este texto representa apenas uma opinião, a minha!
Caro ArtemInvenite Manuel de Castro Nunes,
Se não conhece o eduquês dê uma vista de olhos à legislação emanada do todo poderoso ministério da "educação"...!
Depois desta breve introdução ao eduquês, leia uns artigos "científicos" da área das "ciências" da educação e tente perceber a diferença.
Quando fizer isto, leia com muita atenção a introdução aos programas das diversas "disciplinas" oferecidas pela "escola" "inclusiva".
Depois de todo este trabalho compare tudo isto com o pós-modernismo e tente encontrar diferenças :)
Está bem. Vou fazer tudo isso. Seria pedir-lhe muito se lhe solicitasse autorização para assistir às suas aulas?
Estimado Leitor Fartinho da Silva
Reparei, sim, que usa aspas quando se refere a ciências da educação, sinal de que, deduzo, admite a possibilidade de existir trabalho cientifico sério, honesto e relevante nesta área, que pode beneficiar alguém, ao contrário de prejudicar.
Assim, estando eu, por dever de ofício, ligada às ciências da educação, só tenho a agradecer-lhe, a si e a outras pessoas por passarem a usar aspas. Parecendo que não, umas simples aspas marcam a diferença, indicam que muito do que se faz passar por pedagogia, não o é; pode ser ideologia, política, economia, mas, não se baseando em saber com provas dadas, não é pedagogia. As aspas indicam também uma dúvida: pode existir este saber… E devo-lhe dizer que existe, mesmo no nosso país. Se me desse licença, para me fazer entender melhor, aconselhava-o a ler a obra "Pode a Educação Especial deixar de ser especial?", coordenada por João A. Lopes e James Kauffman, a que fiz recentemente referência no "De Rerum Natura" ( http://dererummundi.blogspot.com/2009/12/pode-educacao-especial-deixar-de-ser.html ).
Maria Helena Damião
Havia na minha terra, ha muito tempo, um cabo de esquadra que costumava, depois do serviço, sentar-se, sempre só, à mesa do café a monologar.
Dizia: Isto só se endireita quando a autoridade for substituída pelo juízo.
Acabou no manicómio. Parece que ainda lá mora. Vou tentar localizá-lo, pode ser que ainda traga alguma luz a este debate.
Cara Helena Damião,
Considero a existência de trabalho sério e honesto nessa área. Depois de ter lido o meu comentário verifiquei que este ponto não ficou claro e não era esse o meu objectivo. A designação em si não a julgo acertada, porque é demasiado vaga e, talvez, por isso se misturem todas as áreas por si apontadas em artigos ditos científicos.
Caro ArtemInvenite Manuel de Castro Nunes,
Tenho pena que não tente perceber argumentos utilizados por outros participantes neste excelente espaço de partilha de opiniões e de divulgação científica.
Considero que o país que temos é responsabilidade de todos e de cada um de nós, e é nosso dever partilhar as nossas opiniões. Só através da partilha e da discussão de opiniões livres e sinceras podemos aspirar a ter um país melhor. Repare como em Espanha, na Alemanha e Suécia (infelizmente são os únicos países que conheço relativamente bem) a discussão está sempre presente. Repare, ainda, como os brainstormings são incentivados nas empresas com mais sucesso a nível mundial.
Repare nos autores Helena Damião e Rui Baptista, quanto não teremos aprendido com eles? Estes espaços web são óptimos para a troca e partilha de saberes e para discussões (no sentido mais interessante do termo).
Apesar do caro ArtemInvenite Manuel de Castro Nunes me considerar impertinente e vácuo, talvez os meus textos o tenham obrigado (no bom sentido) a reflectir, senão não teria a oportunidade de me adjectivar desta ou de qualquer outra forma.
Desejo a todos os autores deste espaço e a todos os leitores e comentadores um excelente 2010.
Caro Fartinho da Silva.
Touché. «Mea Culpa». Tem toda a razão, admito-o.
Tenho de facto uma tendência, por veezes atávica, de transferir para a sátira matérias, que, em minha opinião, não fazem qualquer sentido.
Percebo que possa ser entendido como «snob», ou soberbo.
O Caro Amigo devia, também em minha opinião, rever algumas matérias. É um apelo.
E, de facto, é um itinerário que deve e pode ser feito por todos nós, em partilha.
Espero pois que possamos encetar um debate mais consistente. Independentemente da razão, pode pois contar comigo.
Uma vez mais penitencio-me.
Um abraço.
Manuel
Dá gosto ler, acompanhar, confrontar e/ou partilhar textos e ideias com pessoas assim.
Obrigado a todos.
Caro ArtemInvenite Manuel de Castro Nunes,
Desculpe a minha resposta tardia, mas estive em locais onde era possível o contacto online.
Fico satisfeito por poder contar consigo para futuros debates e tal como o José Batista de Ascenção agradeço a existência deste espaço de partilha e discussão :)
Um abraço.
NOTA: o estilo dos meus texto é um pouco agressivo para dar justiça ao meu nome: Fartinho da Silva :)
Ops, onde está: "...em locais onde era possível o contacto online.", queria, obviamente, dizer "impossível o contacto online" :(
Obridado Caro José Baptista Ascensão e Caro Fartinho da Silva.
Estou a reflectir um pouco na forma como posso transmitir de forma mais mobilizadora a minha mensagem. Seja a ideia de que me parece que, em matéria de educação e sistema de ensino, se continuam a debater apenas questões circunstanciais, parecendo assumido que não é a reformulação da finalidade que temos que colocar de novo em causa.
Porque será que está toda a gente, do meu ponto de vista legitimamente, farta? Alunos, professores, pais...
Como toda a gente está farta, por razões aparentemente diferentes, ninguém consegue ter razão...
Os profesores estão fartos os alunos, os alunos dos professores, os pais dos filhos, os filhos dos pais... enfim andam todos fartos uns dos outros.
Porquê? Porque não sabem porque têm que permanecer juntos, sem saber a fazer o quê. Sem óbvia finalidade.
E desta vez a alusão a fartura não é ironia dirigida ao Caro Amigo Fartinha da Silva. Porque compreendo as razões porque anda farto, mau grado possa não estar de acordo consigo relativamente a muita coisa.
Caro A. Manuel de Castro Nunes:
Diferentemente do que possa supor, não estou farto dos meus alunos (é de estar com eles, em plenas aulas, que tenho necessidade, de tal forma que já disse, a brincar, que pretendo fazer a seguinte proposta ao Ministério da Educação: trabalhar até aos 95; viajar e namorar dos 95 aos 100 e escrever as memórias dos 100 aos 110; a partir daí seja o que Deus quiser...), não estou farto dos meus colegas de profissão e muito menos estou farto dos meus filhos. E trato os meus alunos como gostaria que qualquer professor tratasse os meus filhos e tenho tanto amor aos meus filhos como devoção pelos meus alunos. E por isso não vejo nenhuma necessidade de definir conceitos puros como não vejo necessidade de qualquer definição exaustiva de finalidades, porque não creio sequer que possam existir consensualmente, senão na cabeça de cada um. E por isso só queria que me deixassem exercer a minha profissão como qualquer outro profissional exerce a sua, desde que haja alunos interessados no que lhes possa ensinar, e desde que eu sinta que posso ensinar-lhes algo. Sabe, há em mim dificuldade em aceitar que algumas profissões se tenham estabelecido à custa daquela que escolhi com gosto, e que a estejam a destruir sem que, em seu lugar, ou na sua vez, tenha ficado algo de melhor ou mais útil, mesmo que fugazmente. E aquilo que aqui digo corresponde ao que muitos sentem mas já desistiram de afirmar. E eu só o afirmo, porque não aceito que também de mim se diga um dia que me magoaram e não gritei. E faço-o pelos meus filhos e pelos meus alunos. Nem sequer é por acreditar que alguma coisa mude. Muito menos em meu proveito. Pois qualquer professor sabe que se disser claramente o que diariamente testemunha não estará a doirar o seu futuro nem a aumentar o número de amigos. Mas fique ciente de uma coisa: ainda hoje, de manhã e de tarde senti um enorme gozo a dar aulas, e amanhã, das 8.20 até às 13.20, estarei 6 x 45 minutos, apenas com dois intervalos de 15 min. pelo meio, a desfrutar do mesmo prazer. E esse ninguém mo tira. Mesmo se à hora de almoço nem forças sinto às vezes para meter a comida na boca. Desculpe que lhe diga coisas destas. Que bem sei que coisas destas nem se dizem nem se entendem. A não ser por quem as vive na pele. E ainda por cima com gosto, acredite. Porque, no dia em que não der aulas, verdadeiramente já morri. Que quer, olhe, sou assim...
Caro José Baptista Ascensão.
É sempre gratificante poder ler um testemunho como aquele que aqui nos deixa, claramente expedido da alma e do sentir.
Toda a minha vida convivi com professores assim e penso tê-lo sido. Malogradamente, a enfermidade de um ente querido obrigou-me a abandonar o exercício institucionalmente, mas continuo a ser professor e desejo sê-lo até ao fim da vida, nem que seja de mim próprio. E aluno, até porque, quando aqui intervenho, estou a aprender.
E compreendo mesmo as reservas de muitos no que respeita às denominadas Ciências da Educação, que continuo a preferir denominar Pedagogia, que devia residir e morar na escola e não fora dela, no àmbito e sob o alcance dos professores, mergulhada na sua prática.
Não estou de acordo consigo no que respeita à matéria da finalidade, ainda bem, é um pretexto para continuarmos a trocar ideias.
E quando digo que na escola estão todos fartos uns dos outros e todos dela, apenas estou a recensear o que é difundido. E não culpo nem alunos, nem professores, apenas me interrogo sobre as razões de tal enfado.
E é esse o vínculo que me obriga a participar neste debate.
Espero que com este comentário possa contribuir para que compreenda o que me move. Com o seu testemunho, contribuíu significativamente para compreender a sua ânsia de dizer. Coisas que devem ser ditas e todos entendem.
Que quer... também sou assim...
Enviar um comentário