sábado, 1 de novembro de 2008

A Nova Fé PseudoCientífica


Psicologicamente, é curioso como a Nova Fé PseudoCientífica faz pessoas que de outro modo poderiam ser sensatas ter ideias insustentáveis. Mas como não sou psicólogo, não encontro interesse em mais essa manifestação da estultícia humana.

Vem isto a propósito de alguns comentários ao meu post sobre argumentos de autoridade. Nenhum cientista verificou mais do que uma parte estatisticamente irrelevante das verdades científicas em que acredita. Isto seria óbvio se as pessoas não estivessem mergulhadas em dogmatismo cientificista. Imaginemos um biólogo, por exemplo. Que verificou ele directamente quanto ao Big Bang? Nada. E quanto à composição da água? Nada. E quanto aos resultados fundamentais da matemática, que teoremas fundamentais sabe demonstrar ou alguma vez demonstrou? Poucos.

Os cientistas apoiam-se na autoridade dos colegas. O conhecimento seria impossível se cada um de nós tivesse primeiro de verificar tudo. Quem foi verificar se realmente os seus pais não estão a mentir e ele não foi adoptado? Quem foi verificar se realmente Neil Armstrong esteve na Lua?

De onde vem então a ideia dos PseudoAdoradores da Ciência (PACs) de que todos os argumentos de autoridade são maus? De um argumento de autoridade (eu não disse que isto era psicologicamente interessante?). Nas historietas da ciência que se contam às criancinhas diz-se que na ciência, com Galileu, se começou a recusar argumentos de autoridade, como todos os idiotas faziam antes de descer a luz da ciência ao mundo. Só que isto em primeiro lugar é falso, historicamente, e em segundo lugar quem leu isto limita-se a aceitar a autoridade do historiador que fala disto, ou a própria autoridade de Galileu, se acaso o leu. Claro que isto é absurdo. O que estava em causa não era a recusa de argumentos de autoridade, mas a recusa de maus argumentos de autoridade. Contudo, traçar distinções subtis, que é precisamente o que caracteriza qualquer prática cognitiva séria, incluindo a ciência, é precisamente o que os PACs não querem fazer.

Este blog defende a racionalidade e a ciência. Mas parece-me cada vez mais que tenho de defender a ciência de alguns cientistas — ou que se dizem cientistas e nem dão a cara em público, ao contrário dos autores deste blog. Como dizia Orwell, o problema é o espírito de gramofone, independentemente do disco que está a tocar.

44 comentários:

Eli Vieira disse...

Atentai para aqueles que usam de ceticismo pirrônico para atacar uma idéia alheia.

Muitas vezes é para disfarçar uma credulidade panglossiana que escondem junto ao peito, um polegar para ser chupado, uma saia para agarrar - como percebia Asimov.

João disse...

Desiderio:

Se não tivesse lido outros textos seus, so por este, ia ficar a pensar que a Autoridade é a palavra de deus na terra.

E isto dito por quem defende, como eu, que o conceito de autoridade é inevitavel no progresso do conhecimento...

Ja para não falar no recurso frequente ao insulto. (toda a gente erra, é humano...mas...) É uma pena e não tem efeitos pedagogicos.

Digo eu, humildemente, talvez alguma autoridade algures me de razão...

susskind disse...

Desiderio, nao se precipite e nao perca as estribeiras .... ou, por outras palavras, nao deixe que a sua ironia se torne amarga. Psicologicamente falando ... talvez o que os comentadores pretendem nao e' contradizer a constatacao elementar e evidente que o Desiderio faz de que nos nao temos energia para verificar por nos proprios todo o nosso conhecimento mas ... talvez pretendam dizer que todo esse conhecimento e' susceptivel de
verificacao e de analise critica por qualquer ser humano que deseje colocar esforco e energia nesse sentido. E, desse modo, tentam fazer uma distincao entre um argumento de autoridade que seria imune 'a analise critica de algo que talvez nao seja muito proveitoso denominar de 'argumento de autoridade' e talvez fosse avisado substituir por 'argumento informado' (ou algo nesse genero).

Existe uma necessidade humana de 'territorializacao', que significa algo como ser capaz de se ambientar e 'traduzir' o exterior (tanto fisico como intelectual) em termos de uma 'grelha' interna de interpretacao. Voce nunca ira' convencer alguem do interesse da ciencia ou da filosofia dizendo que estas sao as acitividades que individuos profissionais fazem em sociedade, criticando-se e argumentando uns com os outros, talvez durante a pausa para o cha'; talvez consiga faze-lo mostrando-lhes como eles podem usar um pau, a luz do Sol e uns elementos elemenatres de trigonometria para estimar o raio da Terra; ou talvez levando-os a ler uns dialogos de Platao e ensinando-lhes a Historia de Atenas para que eles entendam que os conceitos filosoficos (a Ideia de Platao, por exemplo) nao surgem da cartola do magico mas resultam da preocupacao de resolver conceptualmente problemas muito concretos.


Por outro lado, julgo que nao se deve menosprezar a natureza verdadeiramente unica da ciencia dentro do conhecimento humano. Refiro-me 'a objectividade da ciencia que resulta da necessidade da confirmacao exeperimental. Nao interessando a beleza, a harmonia, o engenho ou a sofisticacao de uma teoria cientifica se os factos experimentais a contradizerem. Isto e' unico em toda a cultura humana. Significa tambem fortes limitacoes, pois nem todas as questoes interessantes podem ser colocadas de modo a serem verificadas experimentalmente. Essa limitacao, e' a sua forca a sua riqueza. Isto tem alguma analogia com a matematica: para provar teoremas mais fortes e' necessario hipoteses mais fortes, isto e' restringir a generalidade dos resultados. ISto nao e' cientismo.Ou seja, embora nos nao verifiquemos senao uma pequena parte daquilo que constitui o patrimonio de conhecimento que utilizamos na nossa vida, o nosso conceito civilizacional trouxe-nos ao seguinte estagio: um especialista que domina certo conjunto de conhecimentos deve estar sujeito ao escrutinio dos leigos, estes esperam que o especialista seja capaz de lhes forncer as informacoes necessarias para que a veracidade e correccao do sua informacao possa ser verificada por terceiros. Julfgo que e' este o ponto da maior parte dos comentadores.

Anónimo disse...

Excelente post, Desidério. Mais um.

Camarelli disse...

Que coisa feia este post, ó Desidério.

Gostaria de comentar e discutir à vontade sem ter que levar com um selo PAC só porque não está com paciência de convencer o público civilizadamente.

Sem pegar mais nos mimos com que brindou a audiência (entre a qual me reconheço incluído), escusando até de comentar o choro costumeiro do anonimato (quando ninguém o pretendeu ofender), passo à substância do post:

É verdade que os cientistas se apoiam na autoridade dos colegas para a investigação diária, por facilidade e por ser improvável que o colega especialista esteja equivocado. Porém, para escrever uma tese, o investigador deve esmiuçar ao máximo os resultados que usou com base apenas em argumentos de autoridade. Isto não significa, por exemplo, ir repetir as experiências, mas pelo menos, ler os relatórios de uma boa quantidade dessas experiências que se fazem mundo fora, e convencer-se a si próprio de que o argumento que utiliza é bom.
Aliás, se não fosse assim, se os investigadores mais sérios não revissem o trabalho dos colegas, não descobriam os erros que vão se encontrando e que conduzem a novas experiências mais aprimoradas.

Nas conversas de café, nas caixas de comentários e nos curtos momentos de conversa propiciados em conferências, os argumentos de autoridade dão jeito e catalisam a progressão do conhecimento. No trabalho sério, são buracos a serem tapados.

Será que me faço entender? Terei conseguido concordar em parte consigo, apesar dos muros que levantou com este post mal humorado?

Francisco disse...

O mesmo se passa na dimensao da Fé.

Desidério Murcho disse...

Miguel, o que dizes é importante por outra razão. O que conta para saber se uma dada comunidade cognitiva é racional é o modo como as coisas estão organizadas. Se cada membro tem por obrigação primeira verificar e eventualmente refutar os colegas, a comunidade é saudável. Se cada membro tem por obrigação não refutar os colegas, a comunidade pode ser interessante e defensável por outras razões, mas é irracional. A procura de erros e a tentativa de refutação é o que torna uma comunidade cognitiva racional ou não.

Isto significa que o que conta realmente é a abertura à refutação, e não o carácter experimental ou não. Daí que a matemática seja claramente científica, apesar de não ser experimental, ao passo que a agricultura empírica não o é, apesar de ser experimental. E é aqui que está o teu cientismo, como o de muitas outras pessoas que fazem ou estudam ciência empírica: elegem a experimentação como o critério do que é científico, o que seria obviamente disparatado se as pessoas não tivessem ao mesmo tempo interesses extracientíficos em defender essa ideia, nomeadamente o interesse de rechaçar a religião.

Regressando aos argumentos de autoridade, seria uma vez mais óbvio que a maior parte do conhecimento que um cientista tem é porque confia no que os colegas escrevem — ele próprio só vai verificar uma pequeníssima parte dos resultados e dos cálculos. Seria óbvio se as pessoas que fazem ciência não recebessem acriticamente historietas da ciência mal contadas, ou se não tivessem interesses ideológicos, uma vez mais geralmente contra a religião.

A ironia disto é que esta confusão mental, fruto de interesses políticos e de falta de senso crítico, impede as pessoas de ver o que realmente é indefensável em qualquer comunidade religiosa: o facto de os seus membros não terem por obrigação refutar os colegas. Uma pessoa qualquer diz que sentiu Deus a dizer-lhe balelas ao ouvido, e ninguém duvida; outra diz que esteve em alegre cavaqueira com Jesus depois de o gajo ter batido a bota, e dois mil anos depois as pessoas aceitam isto bovinamente, sem sequer levantar hipóteses alternativas, para ver se não serão mais plausíveis. Ler a discussão que Hume faz dos milagres seria boa ideia (essa discussão é reproduzida por Dawkins quando fala do milagre de Fátima, no excelente livro Decompondo o Arco-Íris; o excerto está aqui: http://criticanarede.com/html/fil_milagre.html).

Finalmente, o Mata não sei quê diz que fiz uma coisa feia. Concluo que é feio refutar ideias e usar a ironia, mas não é feio não revelar a identidade, ler as coisas às avessas e argumentar com os calcanhares.

Camarelli disse...

Desidério, remeto-o para os dois últimos parágrafos do post, que são metade do texto, considera aquilo saudável para a discussão?

O anonimato deve ser usado com responsabilidade, mas em si não é uma coisa má. Se quer saber quem sou, bastava usar o google para encontrar o meu blog e descobrir toda a porcaria inútil que escrevi, há lá pano para mangas para me gozar à vontade, mas por aquilo que eu sou.
De qualquer modo, é completamente irrelevante, até podia ter escolhido um nome aparentemente sério tipo Alberto Silva e assinar com umas pomposas iniciais AS, e aí nem se levantava a questão do anonimato. Por isso e porque não o ofendi, é que o anonimato é uma falsa questão.

A verdade é que o Desidério foi ao meu perfil e conseguiu encaixar o malvado anónimo numa categoria PAC. Agiu por preconceito, usou a ironia precipitadamente e não se limitou a refutar ideias.

Por fim tem piada que me acuse de argumentar com os calcanhares quando foi exactamente isso que fez com este post.

Se reagi mal é porque não vejo como pode concluir isto:

"traçar distinções subtis, que é precisamente o que caracteriza qualquer prática cognitiva séria, incluindo a ciência, é precisamente o que os PACs não querem fazer"

com base num miserável comentário e num perfil minimal do blogger.

Se neste blog quer defender de facto a racionalidade, não procure desqualificar o auditório com base no preconceito, faça-o civilizadamente e com menos sobranceria.

Fernando Dias disse...

Desidério, concordo no essencial com tudoo que tem dito. Mas permita-me algumas considerações acerca do conceptual e do empírico.

“Traçar distinções subtis” não é o trabalho por excelência dos filósofos? Claro que os ‘cientistas’ (e este termo muitas vezes pode causar equívocos), também podem fazer trabalho conceptual puro, mas o que eles fazem por excelência é trabalho empírico (experimental). Claro que esta separação conceptual/experimental é artificial, mas serve para distinguir dum modo geral o trabalho de uns e outros (filósofos/cientistas).

O problema de alguns cientistas é pensarem que só há um conhecimento válido – o científico. Tudo o resto que não seja científico corre o risco de ser deitado ao caixote do lixo. A psicanálise pelo facto de não reunir critérios que lhe reconheçam o estatuto de ciência não poderá ser um conhecimento válido? E a acupuntura, que por acaso a medicina canónica já reconhece mas levou décadas a reconhecer?

Vou dar um exemplo, que parece infantil, para distinguir trabalho conceptual de trabalho empírico, um exemplo físico e corriqueiro. Porque se os exemplos forem mais abstractos como vontade, crença, sensação ou percepção metemo-nos em sarilhos.

Eu tenho um euro dentro do bolso das calças e o bolso das calças tem um buraco do tamanho de um cêntimo. Mas eu não posso dizer que o bolso tem um buraco da mesma maneira que tem um euro. Eu posso pegar no euro e metê-lo no bolso do casaco do Desidério, mas não posso fazer o mesmo com o buraco. Tudo isto até aqui foi trabalho conceptual, de fazer ou não fazer sentido. De ser ou não ser um contra-senso. Mas se o Desidério quiser saber se de facto eu tenho um euro no meu bolso das calças, e se este tem um buraco, tem de vir verificar se isso é verdade. Este trabalho é trabalho empírico. E depois pode ser verdade ou não. Se disser que tirou o euro do meu bolso e o passou para o seu, tudo bem. Mas se disser que tirou o buraco do meu bolso e passou-o para o seu, cometeu em primeiro lugar um erro conceptual, um contra-senso, uma invalidade conceptual, e só depois é que vem uma não verdade empírica. Eu não preciso de saber se esta última foi verdade ou não porque ‘a priori’ nem sequer faz qualquer sentido.

Um erro conceptual muito frequente cometido por cientistas quando se debruçam sobre coisas da mente e do cérebro é localizarem no cérebro coisas que só podem ser localizáveis no espaço físico onde essas coisas acontecem. Por exemplo, uma dança não é localizável no cérebro mas no espaço de uma sala onde ela é executada e só enquanto dura.

Anónimo disse...

Desidério

Eu li o que o Dawkins escreveu sobre o milagre de Fátima. Em poucas palavras: o Dawkins escreveu uma patetice.

O argumento dele é mais ou menos este: Se o Sol se tivesse movido o sistema solar ter-se-ia desintegrado. Como o sistema solar não se desintegrou, então não houve milagre.

Parece lógico mas não faz sentido nenhum. Por definição um milagre é um facto extraordinário e inexplicável pelas leis da natureza. Afirmar que se o sistema solar não se desintegrou então o sol não se moveu não é negar o milagre. É afirmar, pura e simplesmente, que não existem milagres. Não prova a falsidade do facto. Nega todo e qualquer milagre, por definição de milagre. É "chapa zero" para qualquer milagre que ocorreu ou venha a ocorrer no próximo milhão de anos.

Se o Sol se moveu e o sistema solar não se desintegrou então houve milagre. E 70 mil pessoas viram o sol mexer-se. Como deveria Dawkins ter atacado o problema? Demonstrando que 70 mil pessoas foram engandas, burladas. Mas neste ponto, Dawkins diz muito "sabiamente" "não é todo claro que nos caiba a nós explicar". Pois, esta já é velha e encontro-a frequentemente na caixa de comentários. Quando me afirmam "Deus não existe" e eu peço as provas dizem-me sempre sabiamente "Não,Parente! Tu é que tens de as dar!". Pois.

Sobre o "bater a bota" e Jesus, por acaso existem teólogos que já estudaram essas hipóteses alternativas. Por acaso, bons livros de teologia católica falam nisso. Claro que é importante lermos a bibliografia básica sobre assuntos que não dominamos. É assim em tudo na vida.

Desidério Murcho disse...

Qual é o problema da sobranceria? Perante tolices, é uma atitude construtiva porque irrita o jumento. Um dos melhores espectáculos do mundo é um jumento levantado no ar. Daí a fotografia.

Agora mais seriamente: os comentários do matar não sei o quê são típicos de muitos comentários nos blogs. Geralmente não reajo, porque tenho mais que fazer, mas desta vez apeteceu-me reagir. A atitude é esta: alguém escreve cuidadosamente sobre X. O jumento aparece, lê apressadamente, nem entende coisa alguma, e limita-se a reagir como os cães de Pavlov repetindo a história que já todos conhecemos sobejamente, mas que estava a ser posta em causa no post original. Nem sinal de contra-argumento inteligente, ou de contra-exemplo. É apenas a contraposição a P de não-P, porque esta última é a proposição que se aprendeu na catequese (científica ou outra) e ai jesus que isso não pode ser posto em causa; há que reafirmar as velhas pseudoverdades confortáveis. Enfim. É o gramofone de que falava Orwell.

Desidério Murcho disse...

F. Dias, traçar distinções subtis faz parte de qualquer actividade intelectual, seja filosofia ou não. Em física elementar é preciso distinguir entre aceleração e velocidade, por exemplo, ou entre massa e peso.

Mas em diferentes áreas é necessário ter diferentes competências. Distinguir massa de peso é diferente de distinguir crença de conhecimento; a primeira distinção envolve competências científicas, a segunda, filosóficas.

O que acontece é uma pessoa poder ter as competências -- que incluem o estudo do trabalho feito na área -- para fazer boas distinções numa área, mas depois não as ter para fazer distinções noutra área.

As pessoas que não têm formação filosófica tendem a dizer disparates quando falam de filosofia porque não definiram os termos cruciais que usam ou porque os definiram mal. Seria um pouco como eu pôr-me a falar de velocidade sem a distinguir de aceleração.

Desidério Murcho disse...

Parente, o argumento do Dawkins não é como o representas. O argumento, humiano, é o seguinte.

O que é mais provável? Que várias pessoas se iludam aceitando uma ilusão confortável, ou que realmente o milagre de que falam ocorreu? Nunca há boas razões para pensar que o milagre é a explicação mais plausível, precisamente por causa do que é supostamente um milagre: uma suspensão radical das leis da natureza. Isso é de tal modo implausível face a tudo o que sabemos, que é sempre mais plausível que as pessoas estão a contar lérias.

A única defesa plausível dos milagres é responder que aceitar a sua existência é algo que se faz por fé, irracionalmente. Mas então a questão é saber por que razão haveremos de celebrar a aceitação do irracional da fé. Crença sem justificação, que é uma definição plausível de fé, é por definição irracional.

Se defendermos então que a fé é apenas crença sobre coisas divinas, mas devidamente justificada, então ninguém deve ter fé em milagres pelas razões de Hume: porque há sempre mais razões para crer que as pessoas mentem, e mentem a si mesmas, porque o numinoso é precisamente muitíssimo atraente. Os mosquitos são atraídos pelo luminoso, e as pessoas pelo numinoso. A diferença é que quando os mosquitos volteiam há realmente uma lâmpada lá, ao passo que as pessoas volteiam, volteiam, mas nada há lá: só mentiras e ilusões.

E como é que eu sei isto? Porque sinto, profundamente, porque isso mudou a minha vida, porque uma voz me sussurra ao ouvido que não há deuses nem papas infalíveis e que o vinho transforma-se em sangue, mas não o contrário, e que o cristianismo é pura superstição, pura mitologia. Estou até a pensar fundar uma Igreja nesta base, do qual serei o Papa infalível, sendo a minha primeira declaração infalível a tese de que sou falível.

Camarelli disse...

Ó Desidério, nem se deu ao trabalho de ler o que escrevi, pois ainda não percebeu que não sou de facto anónimo, nem considerou válido o argumento que expus no meu 1º comentário a este post.

Ofende e teima, como o da foto. A arrogância é tão anti-pedagógica...

Camarelli disse...

Só mais uma coisa: eu gostei do seu post inicial onde distingue bons e maus argumentos de autoridade. É verdade que li apressadamente e concedo que o meu comentário foi asneira e não faz juz ao conteúdo post.

Porém, não defendo esta práctica agressiva com que me atacou e que já descrevi acima. Há mil e um motivos que nos podem levar a escrever uma parvoíce, e por vezes perdemos boas oportunidades para estar calados. Mas parece-me que alguma tolerância é desejável. Eu entendo que haja muito asno que aparece pelas caixas de comentários, mas o facto de ser (suposto) anónimo, não significa que eu seja todos os anónimos nem todos os asnos deste mundo.

Permita-me errar de vez em quando, e se me chamar a atenção atempadamente, eu não tenho problemas em reconhecer que errei.

Afastada a reacção emotiva, proponho a trégua, vale?

Anónimo disse...

Desidério

O argumento humiano é muito simples na forma como eu o traduzo em palavras minhas: a priori não devemos acreditar em milagres. Depois parte de um preconceito: todas as pessoas que dizem ter assistido em milagres estão a mentir.

É um argumento fraco porque não prova o que afirma: que não é possível a um ser omnipotente e ominisciente suspender as leis da natureza que ele próprio criou.

Sobre os milagres em concreto:

1) O milagre de Fátima é considerado um milagre originado por revelação privada;

2) Os milagres que surgem por revelações privadas não são objecto de fé, isto é, um cristão católico pode não acreditar neles sem ser excomungado (uma coisa que aflige muitos ateus).

Quanto ao último parágrafo, é mera provocação, não há aí filosofia nenhuma. É como no meu tempo de miúdo quando um gajo chegava ao pé de outro e molhava-lhe o lóbulo da orelha com cuspo: era sinal que queria uma sessão de pancadaria para que o pessoal da rua vissem como ele era o maior. ;-)

Anónimo disse...

Não irei comentar a entrada do Desidério mas apenas cumprimentá-lo pelo facto de se dar ao trabalho de comentar os comentários e, por esta via, aumentar a qualidade da discussão. Infelizmente não é o que se passa com alguns dos autores deste blogue que, por razões que desconheço, ignoram olimpicamente os comentadores, mesmo quando estes lhe dirigem directamente interpelações.

Desidério Murcho disse...

Mas, ó matar não sei quem, eu não estou a fazer guerra nem irritado! Estou só a gozar com a tolice. Claro que toda a gente diz e escreve patacuadas. Por exemplo, como raio se escreve essa palavra? E que quer dizer exactamente? Até um careca como eu é falível, apesar de pretensiosamente se apresentar como Filósofo. Por este caminhar até a minha tartaruga poderá ser rainha da Suécia. Ou será que já é?

Desidério Murcho disse...

Não, Parente! O argumento é para saber se alguma vez temos boas razões para acreditar em relatos de milagres. Não pressupõe que não há milagres nem pressupõe que há milagres. Tu pressupões que existe Deus — um em especial, que tem a particularidade de ser também três — e por isso acreditas em qualquer relato de milagres que seja favorável à tua crença. É compreensível, mas irracional.

Poderá haver alguma vez razões para aceitar os relatos de milagres? Sim. O argumento de Hume não exclui isso à partida! Nem pensar. O argumento apenas diz: para aceitar um qualquer relato de milagre como verídico é preciso excluir a possibilidade de falsidade, ilusão, mentira, etc., porque essas coisas são sempre mais prováveis do que os milagres. Isto nada tem de especial; é na verdade o que fazemos na vida corrente, e na ciência: não aceitamos as tolices dos ovnilogistas porque nenhum relato até hoje foi mais plausível do que a possibilidade de haver ilusão e auto-engano envolvidos. Mas é perfeitamente possível aparecer uma prova convincente de óvnis; apenas ainda não apareceu. O mesmo acontece com os milagres. O argumento de Hume não os exclui à partida. Apenas estabelece as condições para avaliação de relatos de milagres.

Desidério Murcho disse...

Já agora: Eli, acertou em cheio.

Desidério Murcho disse...

Eli, mais uma coisa: pode dizer-me em que texto Asimov fala disso?

João disse...

Desidério:

Não queira criar inimigos onde eles não estão.

Na sua resposta ao Miguel disse:

"E é aqui que está o teu cientismo, como o de muitas outras pessoas que fazem ou estudam ciência empírica: elegem a experimentação como o critério do que é científico"

Não vejo cientismo no que o Miguel disse. A repetição de experiencias é muito importante na ciencia. Os factos, na ciencia, são a autoridade maxima. Não me vou preocupar agora a definir factos porque o que eu quero dizer é claro e só com mas intenções pode ser pervertido noutro sentido. Por outro lado o escrutinio cientifico é baseado na metodologia empirica e essas são caracteristicas essenciais da ciencia.

O Desidério confunde por vezes autoridade com credibilidade. Não vou desenvolver este tema, mas peço que o Desiderio pense um pouco sobre este assunto.

F.Dias

A acunpunctura não é aceite consensualmente na medicina convencional. É inclusivamente consensualmente regeitada entre os adeptos da Medicina Baseada na Evidencia (ou baseada na Prova como o Desiderio diz que se devia chamar). Em estudos aceites pela comunidade cientifica pelos criterios de rigor metodologico (duplamente cegos, estatisticamente validos, etc) a acunpunctura provou ser superior a placebo em casos de analgesia moderada e alivio da nausea. Em mais nenhum caso.

susskind disse...

"E é aqui que está o teu cientismo, como o de muitas outras pessoas que fazem ou estudam ciência empírica: elegem a experimentação como o critério do que é científico"

Tudo bem, Desiderio. Apenas uma coisa: podes dar-me um exemplo de uma ciencia nao empirica, com excepcao da matematica? Parece-me que a abertura 'a refutacao seja suficiente para qualificar um campo como cientifico; se fosse o caso, entao a filosofia, a 'ciencia' politica, etc etc tambem seriam ciencias. Por outro lado, e' evidente que a utilizacao da experiencia numa dada actividade nao a torna uma actividade cientifica - senao tambem a construcao de pontes ou comboios eram ciencias.

PS: Atencao que eu nao disse que so' o conhecimento passivel de confirmacao experimental e' que tem valor! (eu nao quero rechacar a religiao; na verdade, estou-me nas tintas para a religiao)

susskind disse...

Correccao : nao me parece que a abertura 'a refutacao seja suficiente para qualificar um campo como cientifico

Anónimo disse...

Desidério

Na forma como agora foi descrito o argumento é mais aceitável e penso que o cardeal que analisa os milagres no Vaticano estará de acordo com eles. Basta dizer que um dos milagres atribuídos a um dos 3 pastorinhos de Fátima foi oficialmente rejeitado.

Em relação à análise do Dawkins, está mal feita, na minha opinião de aprendiz de filósofo e até hoje ninguém me demonstrou o contrário.

A polémica do milagre de Fátima surgiu quando o jornal O Século publicou uma reportagem sobre o tema. Quem a lançou, tornando-se um dos maiores defensores do milagre, foi um jornalista republicano e profundamente anti-clerical que estava presente no momento dos acontecimentos.

Sobre milagres eu dou credibilidade aos milagres relatados no evangelho. Se não o fizesse então não era coerente. Mas não os considero o cartão de visita do cristianismo. Há coisas muito mais importantes. Sobre os milagres provindos de revelações privadas guardo sempre uma margem de cepticismo. Em relação a Fátima, aceito o fenómeno como expressão da religiosidade católica.

Desidério Murcho disse...

Não há ciências inempíricas sem ser a lógica e a matemática. Mas basta um corvo branco para refutar a tese de que todos os corvos são pretos.

Não defendo também que seja a mera abertura à refutação que faz de uma prática uma ciência. Mas é um dos ingredientes fundamentais. O que conta é a qualidade da justificação, topas? Se está em causa um teorema matemático, não faz sentido tentares justificar a sua verdade recorrendo à experiência empírica. Se está em causa uma afirmação empírica, não faz sentido tentar justificá-la matematicamente.

É comum usar-se a palavra "ciência" como sinónimo de "ciência empírica". Mas mesmo nas ciências empíricas há uma diferença brutal entre a história ou a sociologia e a física. E mesmo nas ciências da natureza há diferenças brutais: a física não tem grande comparação com a biologia, que é menos complexa e sofisticada teoricamente.

A minha objecção é ao uso político e ideológico da palavra "ciência", associando a essa palavra tudo o que é virtude epistémica e recusando como primitivo tudo o que o não for. Ironicamente este tipo de coisa faz-se argumentando incientificamente, com argumentos que na verdade são filosóficos; o que torna tudo auto-refutante. Acaso achas que se houvesse uma prova científica de que todo o conhecimento é empírico que as pessoas andavam nos blogs a defender essa treta? Conheces algum cientista que ande nos blogs a defender que a Terra é redonda? E se o fizesse, é claro que não o poderia fazer cientificamente, o que seria uma tolice.

A filosofia é inevitável mal qualquer pessoa, seja cientista ou não, se põe a pensar sobre certos temas fundamentais. Mas é evidente que se não conhecemos nem estamos dispostos a conhecer a bibliografia fundamental, estaremos apenas a fazer filosofia de salão -- como se pode igualmente fazer biologia de salão, falando em blogs das aranhas azuis às bolas que vimos ontem quando fomos pescar trutas congeladas no rio seco de Odemira.

Desidério Murcho disse...

João, voltamos ao mesmo. Dizes: "A repetição de experiências é muito importante na ciência."

Depende das ciências. Na sociologia não podes repetir muitas experiências, nem na cosmologia. Em matemática não podes sequer fazer experiências para comprovar teoremas.

O que se passa é sempre o mesmo: quando usas a palavra "ciência" estás a pensar apenas em física, química e biologia. E estás a dar atenção ao que caracteriza estas ciências como empíricas, e não como ciências. Na agricultura empírica repetem-se muitas experiências, mas nem por isso é uma ciência. Na matemática não se fazem experiências, mas é uma ciência.

Quando tens uma ciência empírica é evidente que é preciso, se for possível, fazer experimentações. Essa é a melhor maneira de conhecer a realidade que pode ser conhecida empiricamente: a observação assistemática não basta; é preciso o pormenor, o rigor, a medição, a quantificação.

Mas o mesmo acontece, de outro modo, na matemática ou na lógica: não basta a impressão algo vaga e de senso comum de que uma proposição se segue de outra, ou que uma dada regra é válida -- é preciso estudar isso minuciosamnte, com rigor, usando instrumentos de prova matemática e lógica. É por isso que a matemática é uma ciência, mas a numerologia não. É por isso que a lógica é uma ciência, mas a retórica não.

João disse...

"a física não tem grande comparação com a biologia, que é menos complexa e sofisticada teoricamente."

Os Fisicos que me perdoem, mas ha pouca coisa no universo tão complexa como a Biologia.

Desidério Murcho disse...

Outra coisa, João. Repara no seguinte: eu escrevi que não se pode eleger a experimentação como critério para distinguir a ciência do que não é ciência. E tu respondes: "não, a experimentação é importante". Raios. Cá está falta de rigor que faz muitos de nós pura e simplesmente não responder aos comentários. Do facto de ser falso que a experimentação não é o critério que distingue a ciência do resto não se segue que a experimentação não é importante. Topas? É por isso que é muito injusto os comentadores virem exigir respostas. A maior parte das vezes quem faz comentários não leu com atenção o que foi escrito, e depois quer que o autor lhe dê a atenção que obviamente ele não deu ao autor. :-) A mim aborrece-me responder a comentários por causa disso mesmo. Na maior parte dos casos é pura perda de tempo. E mais: depois de a conversa contigo e com o Miguel ter produzido alguns frutos de compreensão mútua, daqui a uns meses eu escrevo algo análogo noutro post e aparece-me um Manuel qualquer outra vez com as mesmas questões e confusões. É óbvio que não há paciência para andar a repetir tudo o tempo todo.

Desidério Murcho disse...

Parente, tu mesmo consideras relevante que um jornalista anticlerical e republicano e se calhar até ateu tenha relatado o suposto milagre. Porquê? Porque, como explica o Hume, isso significa que há menos probabilidades de ele estar iludido, ou a mentir, ou algo do género. Portanto, tu mesmo, como qualquer outra pessoa, usa precisamente o tipo de raciocínio que Hume sublinhou, ao avaliar milagres. Tudo o que Hume faz é defender uma aplicação mais sistemática e cuidadosa desta maneira de pensar, que é óbvia.

Desidério Murcho disse...

Não, João. Estás a confundir o mapa com o território. Os fenómenos que a biologia estuda são mais complexos, muito mais, do que os estudados pela física. Mas a física é mais complexa do que a biologia, no sentido de ser um corpo de teorias muitíssimo mais complexas e articuladas e matematizadas do que as teorias da biologia. Na verdade, é precisamente porque os fenómenos biológicos são muitíssimo mais complexos que não temos uma biologia tão desenvolvida como temos a física: é muito mais difícil prever onde vai estar um piolho daqui a 5 minutos do que prever onde vai estar a Lua daqui a 5 minutos.

João disse...

Desiderio:

Eu li bem o que escreveste.

João disse...

Desiderio:

Acerca da biologia: A quantidade bruta de conhecimento sobre biologia que existe é muito superior ao da fisica.

João disse...

Para isso contribuiu muito o investimento na medicina e farmacologia, mas é um facto.

Desidério Murcho disse...

João, nesse caso, a história é mais científica do que a biologia, porque há muito mais conhecimento histórico do que biológico. Não é a mera quantidade de factos conhecidos que caracteriza a complexidade de uma área. É o modo como esses factos estão teoricamente articulados.

És biólogo? Evidentemente, eu não sou. Nem sou físico. Mas do que leio de ambas, e da minha análise como filósofo, concluo o que te digo. Posso estar errado e com certeza que é preciso uma análise mais cuidadosa. Mas qualquer análise que se faça tem pelo menos de fazer o tipo de distinções que fiz: distinguir a complexidade do objecto de estudo da complexidade da disciplina que o estuda, e distinguir mera quantidade de factos de articulação teórica de factos por meio de leis ou princípios.

A filosofia é muitíssimo mais complexa teoricamente do que a sociologia ou a história, mas qualquer destas duas disciplinas estabelece mais factos do que a filosofia.

Mas parece-me uma tolice concluir qualquer coisa acerca de superioridades ou inferioridades simiescas com base na complexidade teórica ou na complexidade do objecto de estudo. Cada disciplina é o que é e o importante é ser bem feita. As disciplinas académicas não são clubes de futebol. Bem, não deviam ser!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Uma discussão muito animada em torno do trabalho experimental, mas quem aqui faz investigação experimental? Qualquer livro de metodologia faz as considerações que foram, nalguns casos, aqui reproduzidas, mas valem o que valem: sem treino a teoria pouco adianta.

Por outro lado, a aprendizagem ou iniciação numa disciplina exige esse "testar da autoridade": pequenas e grandes coisas são reproduzidas. Porém, esta autoridade é sempre testada e pode ser refutada. É diferente do uso da autoridade para silenciar a criatividade, impondo algo como dado para sempre.

Quanto à Filosofia, existem diversas filosofias, umas mais credíveis do que outras. Discutir os mesmos temas e reproduzi-los com as mesmas palavras não é uma actividade cognitiva saudável. Nem sequer merece o nome de "conhecimento" que visa sempre clarificar o mundo empírico. Quando se perde o pé neste mundo, a loucura começa a tornar-se evidente, porque produz argumentos ou séries de palavras delirantes e absolutamente vazias.

João disse...

"tolice concluir qualquer coisa acerca de superioridades ou inferioridades simiescas com base na complexidade teórica ou na complexidade do objecto de estudo"

exactamente, era onde eu queria chegar.

Mas a biologia é a ciencia do seculo, para onde estão a convergir os ensinamentos de todas as outras. Nesse aspecto a sofisticação é impressionante.

susskind disse...

"Por outro lado, a aprendizagem ou iniciação numa disciplina exige esse "testar da autoridade": pequenas e grandes coisas são reproduzidas."

Sim, este ponto e' verdade e e' importante (reproduzem-se muitas experiencias classicas de fisica, por exemplo), embora nao contrarie a tese geral do Desiderio de que grande parte das coisas nao e' testada. Por outro lado, o Desiderio dira' com toda a razao que em filosofia se testam conceptualmente os argumentos e conceitos filosoficos do passado. Julgo que esse 'testar da autoridade' e' a parte mais importante de qualquer educacao digna do nome. Nao significa que vamos testar tudo, significa que nos colocamos na posicao de quem tem as potencialidades de testar seja o que for (pelo menos, dentro de um determinado dominio do conhecimento).

susskind disse...

Mas a biologia é a ciencia do seculo, para onde estão a convergir os ensinamentos de todas as outras. Nesse aspecto a sofisticação é impressionante.

Tambem e' verdade, e e' talvez a area onde a filosofia, ou a sofisticacao filosofica, mais necessaria se esta' a tornar...

Jorge disse...

Ainda sobre os argumentos de autoridade. Este blog vive de argumentos de autoridade. Afinal, Carlos Fiolhais (físico), Desidério Murcho (filósofo), Helena Damião (pedagoga), Jorge Buescu (matemático), Palmira F. Silva (química), Paulo Gama Mota (biólogo), Sofia Araújo (bióloga) são autoridades sobre as respectivas especialidades. Pelo menos relativamente à maior parte. Daí o interesse de "De Rerum Natura".

Paulo Sustelo disse...

Caro Desidério,

O seu post anterior "Argumentos de autoridade" é interessante porque clarifica muita confusão que anda por aí e porque estabelece regras para distinguir bons e maus argumentos da autoridade.

Quando um prato da balança pende muito para um lado, durante muito tempo, a tendencia é equilibrá-lo com peso a mais no outro prato.
É preciso muito cuidado porque é nesta transição que se gera a intolerância.

Deixo aqui, em jeito de contraponto, os dez mandamentos dessa autoridade - Bertrand Russel


1. Do not feel absolutely certain of anything.


2. Do not think it worthwhile to produce belief by concealing evidence, for the evidence is sure to come to light.


3. Never try to discourage thinking, for you are sure to succeed.


4. When you meet with opposition, even if it is from your family, endeavour to overcome it with argument and not by authority, for a victory dependent upon authority is unreal and illusory.


5. Have no respect for the authority of others, for there are always contrary authorities to be found.


6. Do not use power to suppress opinions you think pernicious, for if you do, the opinions will suppress you.


7. Do not fear to be eccentric in opinion, for every opinion now accepted was once eccentric.


8. Find more pleasure in intelligent dissent than in passive agreement, for if you value intelligence as you should, the former implies a deeper agreement than the latter.


9. Be scrupulously truthful even if the truth is inconvenient, for it is more inconvenient when you try to conceal it.


10. Do not feel envious of the happiness of those who live in a fool's paradise, for only a fool will think that is happiness.

João disse...

Paulo Sustelo:

Onde posso encontrar este texto original?

Obrigado

Paulo Sustelo disse...

João,
Vai a esta página

João disse...

Paulo Sustelo:

Obrigado,
muito interessante e oportuno

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