sábado, 20 de setembro de 2008

O tempo da Razão


A mensagem deste vídeo promocional do Center for Inquiry (CFI) em que figuram Steven Pinker, Daniel Dennett, Susan Jacoby, Ann Druyan, Laurence M. Krauss, Damon Linker, E.O. Wilson, Jennifer Michael Hecht, Richard Dawkins, e Paul Kurtz, é muito simples: promover o uso da razão em todas áreas do pensamento humano.

Citando o CFI:
The methods and values of scientific thinking have expanded our knowledge about life and our place in the universe. This modern knowledge—based on experience and evidence—has brought enormous benefit to humanity, yet many people still choose to rely on ancient texts and beliefs to guide their lives and their nations.

The Center for Inquiry exists to change this situation. We are here to promote the scientific outlook, to expand the methods and values of science into all areas of human endeavor.

We invite you to learn more about the ways we are using education, outreach, and activism to advance reason and human values around the world. Then, if these values are as important to you as they are to us, we ask you to join CFI.

Let your voice be heard. With your help, we can ensure that our time—your time—will be a time of science and reason.
O CFI indica ainda a urgência do seu trabalho numa altura em que a hostilidade à ciência e ao secularismo é notória um pouco por todo o mundo, como denota, por exemplo, o aumento da ameaça criacionista em todo o mundo civilizado.

Esta ameaça criacionista que muitos tentam minimizar é real e não está restrita aos Estados Unidos, como indica a recente demissão de Michael Reiss da direcção do Departamento de Educação da Royal Society.

Não é apenas o criacionismo cristão que toma fôlego, como a censura na Turquia da página de Richard Dawkins confirma. De facto, um tribunal turco deu recentemente razão à queixa do autor do Tijolo Criacionista de que o britânico o teria «insultado» quando analisou o livro. A crítica de Dawkins de que estava «at loss to reconcile the expensive and glossy production values of this book with the breathtaking inanity of the content» foi considerada pelo 2ª tribunal da paz de Istambul uma «violação» da personalidade de Adnan Oktar (que penso estar ainda na prisão devido ao escândalo sexual que abalou a Turquia há quase 10 anos, foi arquivado e recuperado apenas este ano).

Esta censura criacionista ao ciberespaço não é inédita: a seita que desde 1998 ataca e ameaça académicos turcos que ensinam evolucionismo nas suas aulas, conseguiu bloquear o Wordpress e o Google Groups na Turquia, para além de ter censurado uma série de sites de notícias deste país.

Mas quiçá o mais perturbador está a acontecer nos Estados Unidos em que foi nomeada para vice-presidente na candidatura republicana uma criacionista da Terra jovem (daqueles que acreditam que a Terra tem 6000 anos) que vê a guerra do Iraque como uma cruzada religiosa. A mensagem do CFI é de facto urgente num mundo que estes exemplos (e há muitos outros...) confirmam estar a abdicar da razão não apenas na condução das vidas privadas dos cidadãos mas especialmente na condução de nações ...

7 comentários:

Miguel Gonçalves disse...

Cara Prof.ª Palmira da Silva,

excelente post! Estes assuntos deveriam ter já agora, hoje, imediatamente, um debate publico, intenso e numeroso em faculdades, escolas, livrarias, institutos no nosso país!
Com a nossa "mania" em importar o que de pior se faz lá fora, um dia vamos ter estas "vivências" no nossos sistema de ensino e nos nossos lares e pura e simplesmente a nossa sociedade não está culturalmente e cientificamente preparada para lidar com isto!

Com os melhores cumprimentos,

MG

M disse...

O problema de Palmira Silva e de Dawkins ou Dennett é o exagero contraproducente. A ideia de expandir «os métodos e os valores do pensamento científico» para a literatura ou para a filosofia é caricata. A filosofia, por exemplo, trabalha com a ciência, e não como ela. Mesmo a ideia de expandir «os métodos» das ciências naturais (as sciences, em inglês) para as ciências sociais ou para «humanidades» como o direito já teve os seus dias (foi o «positivismo») e já deu o que tinha a dar.

:: rui :: disse...

Olá. Tenho uma pergunta: De onde vieram os pensamentos? Ou, de onde surgem? Podemos estudar cientificamente os pensamentos? Ou seja, usar do método cientifico para analisá-los? Parece que estamos a querer que a ciência entre em áreas onde nunca poderá entrar pois há áreas não físicas que não são alvo de estudo cientifico e nunca poderão ser. Se o pensamento ou a razão são áreas exclusivas da raça humana, como poderão elas ter sido alvo de uma evolução de espécies onde elas não existem? Não há forma de mostrar que os pensamentos possam ser analisados ao microscópio, nem apresentar drogas de forma a melhorá-los, pois estes são aspectos não fisicos para os quais a ciência não pode entrar. A ciência entra em áreas de ambito físico e é aí que deve concentrar os seus esforços. Acredito que há muito campo a explorar e muito boas possibilidades para trabalhar estes aspectos. Agora, quando se fala em aspectos não físicos, o que podemos dizer é que, se a ciência quer "trabalhá-los", então, está a ser irracional ou a ir contra os seus métodos e valores, pois ninguém até agora conseguiu observar os pensamentos. E já não falo dos sentimentos. Se a ciência entra nesse campo (não físico), então dizer a uma pessoa "Eu amo-te" não deve ser nada diferente do que dizer "Eu tenho uma dor gastro-instestinal".

Bem haja,
Rui

Unknown disse...

Estes dois últimos comentários são um exemplo claro da necessidade de um "Center for Inquiry".

Anónimo disse...

Excelente, esta sua reflexão.
Se me permite, já há uns anos que me expresso a respeito desta polémica. Tenho muito receio que a mesma nos conduza a uma guerra religiosa mundial.

Aproveito para relembrar uma falácia que ainda tem imensos adeptos, mas que não passa duma mera descrição sem qualquer valor científico, O Choque das Civilizações, livro que ajudou a direita religiosa a cimentar a sua preponderância na política norte-americana influenciando e alarmando a grande maioria dos “falcões” americanos.

E tomo a liberdade de expressar um pequeno pensamento meu:
PARADOXO
“A fé move montanhas”.
Mas, como é desprovida de razão, também as arrasa.

Certas pessoas, em vez de raciocinar “emotivam”.
Vivemos tempos muito perigosos.

M disse...

Peço desculpa por me sentir ofendido, mas, de facto, não achei nada justo que "uurrgghh" tivesse comparado o meu comentário com o comentário obscurantista que veio a seguir... A questão é que o combate a loucuras como o criacionismo não pode ser feito pela redução de toda a racionalidade aos «métodos e valores» das ciências naturais. Vejam, por exemplo, o recente artigo "Science and Pseudo-Science" na Stanford Encyclopedia. Aí, sim, está o género de moderação em que me revijo.

M disse...

Em que me revEjo. :-)

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