quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Tinta repelente de sujidade

Disco de Nebra, manufacturado há cerca de 5600 anos, durante a Idade do Bronze. Com 30 cm de diâmetro, o artefacto representa o Sol, a Lua e as estrelas.

A capacidade de alterar as propriedades dos compostos químicos acompanha a evolução do Homem pelo menos desde que este descobriu o fogo. A produção de novos materiais, como o bronze - uma liga de cobre e estanho - embora relativamente recente na história, é mais antiga que a idade que os criacionistas propõem para a Terra e o Universo.

Nenhum material produzido pelo homem é tão versátil como os polímeros, que actualmente encontram campos de aplicação insuspeitos até há muito pouco tempo, como seja, por exemplo, a área da electrónica (de plástico). Esta área assumiu especial importância a partir de 1990 com a utilização de polímeros na fabricação de diodos emissores de luz (PLEDs), importância que foi reconhecida com a atribuição em 2000 do Nobel da Química a Alan G. MacDiarmid (Departamento de Química da UPENN, EUA), Hideki Shirakawa (Instituto de Ciência de Materiais da Universidade de Tsukuba, Japão) e Alan J. Heeger (Departamento de Física da Universidade da California em Santa Barbara, EUA)

Uma área que tem conhecido desenvolvimentos muito rápidos nos últimos anos tem a ver com tintas e vernizes. Embora a primeira utilização de polímeros em tintas tenha sido registada em 1855 por Alexander Parkes e em 1872 Bayer tenha descoberto uma forma de produzir resinas fenólicas com grande aplicabilidade na produção de tintas, a produção de tintas plásticas, tal como todas as áreas relacionadas com polímeros, conheceu um grande desenvolvimento apenas a partir da década de 1930, data em que Hermann Staudinger - laureado com o Nobel da Química em 1953 - propôs que estes materiais seriam compostos por moléculas gigantes (macromoléculas).

Começou ontem em São Paulo a Abrafati 2007, a principal feira de tintas da América Latina que, em paralelo, hospeda o 10º Congresso Internacional de Tintas. A estrela do evento será a Dow Chemicals que apresentará o seu novo e revolucionário produto, uma tinta ainda sem nome que apresenta simultaneamente um elevado índice de elasticidade - mais de sete vezes maior que o produto mais elástico actualmente disponível - e uma capacidade inédita de «repelir» a sujidade.

A nova tinta pretende reproduzir o «efeito lótus», uma flor que se mantém sempre limpa, mesmo nos pântanos asiáticos. O polímero desenvolvido é muito hidrofóbico o que tem como consequência que as superfícies recobertas com esta tinta são auto-laváveis.

«Procuramos reproduzir quimicamente um fenómeno da natureza e obtivemos resultados surpreendentes. Este produto é a resposta para duas das principais tendências de mercado, que são a autolimpeza e a necessidade de maior elasticidade», explicou o líder de I&D em Látex da Dow para a América Latina, Hugo De Notta.

O novo látex será produzido a partir do início de 2008 em San Lorenzo, na Argentina, e, posteriormente, na China. A companhia prevê um mercado potencial para o produto de 4 milhões de litros apenas na América Latina, onde são comercializados 1,4 mil milhões de litros de tintas à base de água.

2 comentários:

JSA disse...

Será interessante ver que tipo de tinta esta será, uma vez que o efeito lótus é conseguido essencialmente através da rugosidade da superfície das folhas, mais do que da simples hidrofobicidade do material. Para exemplificar, o teflon que tantas panelas e frigideiras hoje usam também é muito hidrofóbico e, por isso mesmo, fácil de limpar. Ainda assim, isso não chega, o truque está mesmo na rugosidade da superfície. Até porque, se o polímero fosse totalmente hidrofóbico só por si mesmo, não creio que pudesse ser usado para tintas aquosas.

Bruce Lóse disse...

Ainda sobre a malária(1)

Andou a Fundação Rockefeller nos anos 30 a financiar honrosamente a erradicação do vector da malária nos arrozais de Alcácer, ainda por cima com a morosa ponderação da protecção integrada (julgo que sem recurso ao DDT), quando afinal a solução para o problema era tão simples quanto esta:

Câmara de Alcácer quer que área da Comporta seja aproveitada
«A “vasta mancha verde” da freguesia da Comporta, no concelho de Alcácer do Sal, tem de ser “aproveitada”, diz o presidente da câmara municipal, Pedro Paredes. A área “foi objecto de um plano pormenor”, prevendo-se que o Plano de Desenvolvimento Turístico para essa zona, agora em processo de discussão pública, conduza a uma melhoria, valorização e gestão dos recursos aí existentes. Pedro Paredes considera que os benefícios de um novo pólo de turismo no concelho são vários, sublinhando “a subida de ofertas de emprego”, devido à criação de novos postos de trabalho, com que “todos têm a ganhar”.»

(1) este despropósito vem a propósito: se os professores se queixam da privação dos meios ideais para o exercício do ensino é porque ainda não perceberam bem o quadro mais alargado do pandemónio.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...