No Estação Central, o nosso leitor e comentador João Sousa André (JSA) escreve sobre biocombustíveis num artigo cuja leitura recomendo. Um pequeno excerto para abrir o apetite:
«Nunca demora muito para determinadas soluções milagrosas serem expostas como, no mínimo, algo menos que perfeitas. Na mesma altura em que a National Geographic dedica, no seu número de Outubro, a capa aos biocombustíveis e apresenta um sistema interactivo para comparação dos mesmos, vemos a Economist a dizer que é errado pensar que etanol é uma boa forma de tornar os carros mais verdes. Some-se a isto a conclusão de um Nobel da Química (Paul Crutzen) sobre o agravamento do aquecimento global que os biocombustíveis podem causar e voltamos à estaca zero.
Zero? Bem, não exactamente. A Economist refere que, sim, o etanol não é um combustível nem sequer perto de ideal. Não tem um grande valor energético na queima - o que implica maior consumo - e sendo fortemente higroscópico acaba por absorver água para o sistema e assim provocar corrosão do motor. Por outro lado, o que se aponta é um caminho que não estará longe do conceito de biocombustíveis, apenas não na lógica tradicional. Desta forma, seria uma questão de utilizar enzimas para transformar moléculas mais simples noutras, mais complexas, mais energéticas e que resolvessem os problemas com a água. O artigo, basicamente, propõe a substituição da gasolina por combustíveis molecularmente semelhantes, eventualmente mais eficientes, e que poderiam ser gerados a partir de culturas. O balanço de carbono libertado continuaria, assim, a ser compensado pelo absorvido para produzir as fontes do combustível.»
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10 comentários:
Excelente posta a do JSA :) Gostei. Vou passar a incluir o Estação Central nas minhas leituras :)
PS: JSA, estás a fazer doutoramento em Twente?
Obrigado pelo destaque Palmira. Mas o post teve de beber fortemente nos vossos posts diários.
Joana: sim, é verdade. Conheces a universidade (para além do nome, claro :))?
Só conheço produtos da UTwente :) Trabalhei num lab em que a PI se tinha doutorado lá.
ao jsa
qual national geographic?
a de Portugal tem na capa 'ADEUS AO GELO' (o que não deixa de estar relacionado).
tb não há necessidade de voltar à estaca zero, mas que dava jeito (a ser exequível) dava.
gostava contudo de deixar a ingénua questão/proposta:
como arranjar maneira de controlar pela ciência (no bom sentido) a indústria, para que as boas medidas de redução de emissão de gases com efeito de estufa (mesmo que, ainda, pouco eficazes)pudessem ir ajudando?
devagarinho íamos lá não acha?
palmira f. da silva sempre em cima do assunto. viv'ó pessoal da ciência e da cidadania consciente.
Luís, eu falo da National Geographic em versão internacional, que é a que compro regularmente (mesmo quando em Portugal). Essa versão do "Adeus ao Gelo" creio que tem já 3 meses relativamente à edição internacional.
Em relação à sua pergunta, há vários problemas que surgem relativamente a esse controlo da indústria pela ciência. O primeiro será o facto de a ciência ser paga normalmente pela indústria, mesmo que muitas vezes de forma indirecta. Como tal, o tal controlo surge invertido. Por outro lado, a indústria, quando identifica uma novidade útil (em termos de negócio), acaba por forçar a ciência no sentido de a melhorar ou de a tornar mais interessante para produção/comercialização.
Do outro lado temos o mesmo problema que com os biocombustíveis. A ciência tem uma boa ideia e que até pode ser óptima para a indústria e para a sociedade em geral. Tudo perfeito, portanto. Sim?, bem, não. Note-se o post da Palmira sobre o uso de nanotubos para reduzir o aquecimento global e a sua possível relação com a acidificação dos oceanos. Os biocombustíveis pareciam perfeitos, mas parece que não é bem assim. O petróleo era um presente quase divino, mas afinal é chatinho. A energia nuclear resolveria muitos dos problemas energéticos do mundo, mas há a coisa chata dos resíduos. Os CFC eram fantásticos para a refrigeração, mas afinal fazem mal à camada de ozono. Todos estes casos reflectiam inovações científicas e tecnológicas fantásticas e que mudaram o mundo, mas que acabaram por implicar outro tipo de problemas, os quais nem sequer seriam atacados pela indústria se não surgisse um movimento contra eles.
O máximo que se pode pedir à ciência e aos cientistas é que testem a suas hipóteses da forma mais consciosa que possam e que não caiam no erro de dar passos em frente sem saber as possíveis implicações dos mesmos. E, se as consequências surgirem e forem más, que tentem corrigir os erros. No fundo, o mesmo que pedimos a nós mesmos.
ao jsa
mt obrigado pela resposta breve.
de qq modo a pergunta continua pertinente.
por exemplo, se os automóveis híbridos têm menos emissões, pq são mais caros? se as linhas de montagem estão 'feitas' para carros poluidores, mudem-se as linhas.
se é caro mudá-las, aí está uma maneira útil de usar os impostos.
se o dinheiro não chega, responsabilizem-se as indústrias (tb têm responsabilidade social, ou não?).
vai haver desemprego? assumamos que todos terão vida digna, mm que no desemprego...
tudo isto para dizer que, não é a Ciência que tem de resolver os problemas, pressionada pela indústria. é a indústria que deverá ser pressionada pelo poder político, o qual terá, inevitavelmente, que adoptar uma conduta científica e ética, livre de falsas moralidades, de populismos e, lá está, de religião.
sem querer que o que digo seja a resposta à minha pergunta, acredito que a coisa será possível. ainda na minha geração (espero durar até 2045 pelo menos). senão... olhe, os nossos filhos e netos que resolvam. pode ser que a Ciência comece a ser ensinada como único método para atingir o saber, a verdade e a felicidade, ainda durante a vida dos nossos descendentes.
quanto a nós... 'we are all made of stars!'
+ 1 vez, obrigado e até sempre.
Esqueci-me de dizer que simplesmente adoro a imagem do post :))))))
Aproveito para dizer também que subscrevo o comentário do JSA!
ai, odeio
essa figura de
cão de fila, fdp,
tamém!
santhomé
Muito interessante. Exactamente nesta linha, encontrei um post igualmente interessantissimo sobre a sustentabilidade do biodiesel e os biocombustiveis em geral, que recomemdo a quem se interessa por estas coisas em
manuelrrocha.blogspot.com.
Além de ser certeiro nos comentários fá-los com um sentido de humor-cinico que me parece muito adequado.
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