segunda-feira, 25 de junho de 2007

PROVAS DE AFERIÇÃO POR COMPETÊNCIAS E/OU POR CONTEÚDOS?


Entre as vacilações conceptuais que encontramos no nosso sistema educativo - que são muitas e que não são exclusivas dele -, destaca-se uma que tem desencadeado grande controvérsia nos planos político, académico e prático: “o ensino deve ser orientado por competências e/ou por conteúdos?”. Como seria de prever, a falta de uma resposta inequívoca tem tido repercussões na estruturação das provas de avaliação da aprendizagem com carácter nacional. Passo a exemplificar.
No documento “Informação sobre as Provas” de aferição de Língua Portuguesa e Matemática para o Primeiro Ciclo do Ensino Básico disponibilizado no sítio http://www.gave.min-edu.pt/np3/7.html, verifico o seguinte: a prova de Língua Portuguesa está organizada a em função de competências (que são em número de três: “compreensão da leitura”, “conhecimento explícito da língua” e “expressão escrita”), não havendo referência a conteúdos; a prova de Matemática está organizada em função de conteúdos (mais precisamente, de “áreas temáticas” que são em número de quatro: “números e cálculo”, “geometria e medida”, “estatística e probabilidades” e “álgebra e funções”), não se fazendo referência a competências (ainda que, do global da informação, se consigam inferir essas competências, que são: “compreensão de conceitos e procedimentos”, “raciocínio matemático”, “comunicação matemática” e “resolução de problemas”).
Ou seja, no mesmo documento, pressuponho que pensado e redigido por uma mesma equipa ou por duas equipas que trabalharam conjuntamente, usaram-se duas lógicas de construção de provas de avaliação (uma por competências e outra por conteúdos), sendo que nenhuma delas é correcta. E isto porque, em virtude da investigação pedagógica realizada em torno dos exames, testes ou provas, já se percebeu, há pelo menos meio século, que competências e conteúdos são, ou devem ser, componentes indissociáveis do ensino e, portanto, devem ser ambas tidas em conta quando se estrutura e redige um exame, teste ou prova. É precisamente na conjugação destas duas componentes que se pode decidir que tipos de perguntas são adequadas. Sem uma explicitação inequívoca de uma e de outra, pura e simplesmente não poderemos dizer se um teste, exame ou prova está bem ou mal construído, ou seja, se mede aquilo que pretende medir.

4 comentários:

Anónimo disse...

Hoje tenho estado a corrigir exames de Inglês do 12º ano. A prova está dividida em três «actividades», todas elas relativas à área temática «discriminação».
A primeira «tarefa» da primeira actividade consiste em escrever frases que ilustrem casos de discriminação relacionados, respectivamente, com a raça, o «género», a idade e a religião. Há três cotações possíveis (a aplicação informática rejeita qualquer outra), sendo que a mais alta se obtém produzindo três ou quatro frases formalmente correctas que obedeçam ao enunciado. É irrelevante que a frase esteja factualmente errada (por exemplo Hitler's concentration camps were full of black people): um erro que não esteja previsto não existe e portanto não é avaliável.
O resto dos critérios de correcção segue nesta veia. Há «tarefas» em que a correcção formal conta, outras em que não conta.
Tudo isto resulta - e este é o lado positivo - numa avaliação objectiva e uniforme. o lado negativo é que esta avaliação se pode transformar facilmente numa avaliação política.
Política, por duas vias: em primeiro lugar porque as «actividades» e «tarefas» propostas só são possíveis, e o «produto» avaliável, no contexto duma opção ideológica que aparece como pressuposta; e em segundo porque é possível ao GAVE, por orientação do Governo e usando técnicas simples, manipular as cotações e os critérios de maneira a obter uma média global e uma percentagem de aprovações pré-definidas.
É o preço da «objectividade». E não é nada barato.

Anónimo disse...

Parece-me curial que o ensino se faz a partir de conteúdos para que os alunos atinjam determinadas competências com eles relacionadas.
Que os conjuntos das questões das provas de exame sejam referenciadas pelos conteúdos a que respeitam ou pelas competências que os alunos devem evidenciar não me parece questão relevante.
Já a sua afirmação de que os exames servem para medir, me parece bastante redutora. A avaliação, de que os exames são apenas um dos instrumentos (e talvez o menos fiável), não tem por objectivo medir seja o que for. A avaliação é uma aferição, e a medição pode ser um dos seus meios.

Anónimo disse...

As competências sem conteúdos são vazias, os conteúdos sem as competências são cegos!

Anónimo disse...

Algumas notas soltas...Definir competência, para começar: "saber realizar uma tarefa" ( Rey,Bernard e...2000); "capacidade para agir, eficazmente, num domínio específico d e situações" (Perrenoud, 1999). Continuando...de onde veio esta "moda"? Das empresas...claro!
A escola não pode deixar de estar atenta!! No ensino profissional é mais fácil! Define-se um referencial de COMPETÊCIAS e depois as aulas estão ao serviço da sua aquisição. Exames para quê, neste caso?!
Mas a escola não deve estar apenas e unicamente ao serviço de...
Por outro lado, não basta, através de um passe de mágica, tranformar um conteúdo numa competência. Ex. "O aluno sabe o teorema de Pitágoras", por "O aluno aplica o terema de Pitágoras neste problema"
Em certos países foi assim...
Além disto, é preciso perceber a diferença entre graus de competências, três, segundo alguns: elementar, interpretativa e complexa.
A seguir é preciso falar dos modos, modelos, processos de aquisição; a seguir dos de avaliação...depois é preciso falar das tarefas. O que são? a sua singularidade, o que têm de comum (famílias?) ou situações diferentes de aplicação ( ver a definição de Perrenoud).etc...etc...formação de professores...para não ter de aturar um "marmelo" que anda sempre a criticar o "eduqûes" como ideológico, como se o que ele diz fosse "quimicamente puro"...(deixa-me rir..ah! ah!) ...

Por agora chega...foi um professor que, entre outras coisas, acompanhou,com enorme satisfação, uma turma de Área de Projecto do 12º ano. AH! que é que o trabalho de projecto terá a ver com o que atrás foi dito!!

AINDA AS TERRAS RARAS

  Por. A. Galopim de Carvalho Em finais do século XVIII, quer para os químicos como para os mineralogistas, os óxidos da maioria dos metais ...