segunda-feira, 4 de junho de 2007

PERCEPÇÃO PÚBLICA DA CIÊNCIA


O governo do Brasil tem um "Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia" (semelhante à nossa agência "Ciência Viva"), que está integrado na Secretaria de Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Repare-se no nome de "Inclusão social". Esse Departamento fez recentemente um estudo, coordenado pelo físico Ildeu de Castro Moreira, que está publicado aqui, sobre a percepção pública da ciência e da tecnologia. Uma das conclusões é bastante interessante, embora não surpreendente: A relação com a ciência e a a cultura científica está fortemente correlacionada com a classe socio-económica. No inquérito realizado a uma amostra de mais de 2000 brasileiros, perguntou-se que tipo de locais relacionados com a ciência tinha visitado no último ano. A resposta maioritária foi "Não visitei" (52% do total) e ela distribui-se a subir quando se caminha da classe A (habitantes dos condomínios mais chics do Rio ou de S. Paulo) para E (favelados). A percentagem dos que visitou jardins zoológicos, jardins botânicos ou parques ambientais foi de 28%, e agora esses visitantes distribuem-se a descer por essas mesmas classes. Só 4% visitaram museus ou centros de ciência e, mais uma vez, a distribuição é a descer: a larga maioria dos visitantes foi das classes mais altas, ao passo que nenhum habitante das favelas foi a um museu ou centro de ciência!

O que fazer? Pois o difícil, mas não impossível, será tirar os favelados da miséria. Mais fácil será levá-los a um museu ou centro de ciência, o que permitirá mudar logo as estatísticas...

1 comentário:

Bruce Lóse disse...

Estou? É da Ciência?

Uns tuaregues levaram-me ao Festroia para um conjunto documental a propósito de uma celebração dos Médicos Sem Fronteiras, onde cinco realizadores dão cor às desgraças mundiais "Invisíveis" que nos habituámos há muito a banalizar por entre luxações do Cristiano Ronaldo e previsões do estado do tempo. Como seria de esperar, o filme é um murro no estômago para o hemisfério norte e para o homem branquinho, letrado, sortudo, a quem precisamos de comover constantemente para que se lembre dos outros. E a quem serve hoje a ciência?

Um exemplo. A doença de Chagas é transmitida por um insecto que completa o seu ciclo de vida nas paredes barrentas de casas miseráveis. Causa morte súbita e afecta nada menos do que 18.000.000 de sul-americanos (entre os quais, presumo, alguns dos afavelados do seu post). O fraco apetite comercial que este grupo suscita nas corporações farmácia / biotecnologia, faz com que não exista neste momento qualquer investigação de envergadura para uma imunização. Por outro lado, 1800 produtos para emagrecimento aguardam atribuição de patente.

NOTA: este não é um discurso "histérico" ou engajado. A relação de proximidade do cidadão com a virtude científica é aproximar a criança à montra da pastelaria?

AINDA AS TERRAS RARAS

  Por. A. Galopim de Carvalho Em finais do século XVIII, quer para os químicos como para os mineralogistas, os óxidos da maioria dos metais ...