Por Cátia Delgado
Vemos chegada a hora de avaliar o impacto dos telemóveis na vida escolar de crianças e jovens para tomar decisões: permitir ou não o seu uso. E Portugal não é excepção.
Foi notícia recente no Diário de Coimbra que, no seguimento de recomendações do Governo, só uma escola da cidade restringiu o uso do telemóvel e só nos espaços de refeição. Os diretores entrevistados alegam estar em processo de auscultação da comunidade escolar; não discordando da retirada dos aparelhos do recinto escolar, não arriscam decidir a restrição e a proibição. Dão a entender que isso seria ir longe demais e que do Ministério vieram apenas recomendações, não normas ou leis. Colocam a responsabilidade do lado das famílias, argumentando ser dever dos pais limitar o uso dos dispositivos. Assim se vai protelando a tomada de uma posição clara por parte destas escolas.
Mas é isto mesmo que uma encarregada de educação, também professora, que foi entrevistada, entende ser necessário: é inequivocamente a favor da proibição do telemóvel no recreio, alegando que:
"(...) os pais gostam de estar em constante contacto com os filhos, o que nem os deixa crescer. (...) Todos se queixam que o uso é exagerado, contudo, do que me apercebo é que não há grande controlo parental.Em suma, como é notado pela jornalista, Margarida Alvarinhas, além de uma divergência de opiniões, há também uma considerável “falta de coragem no assumir de posição”, mal do seguidismo do século XXI, que leva a crer que ter uma opinião condizente com a realidade do século passado é andar para trás ou ser resistente à mudança. Pois, nem tudo o que é “inovador” favorece o desenvolvimento humano, fim último da educação escolar, nem tudo o que é “tradicional” nos atrasa.
(...) nos intervalos os alunos estão mais ocupados a jogar do que a falar e quando entram na sala sentem a necessidade de conversar o que não conversaram no tempo disponível no exterior.
Deixariam de ter bengalas sociais e teriam de olhar uns para os outros, comunicar, exprimir o que sentem.
Em caso de necessidade, haverá sempre forma de comunicação com os pais.
É de todo errado que os professores utilizem o telemóvel como ferramenta de pesquisa ou testes (...) até porque todos os alunos têm acesso a computadores."
Sendo a escola, por natureza e por excelência, um contexto de ensino, importa mantê-lo alheado de tudo o que prejudique a sua finalidade última: a aprendizagem. E, sim, temos evidências científicas suficientes para saber que os telemóveis a prejudicam.
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