Meu artigo no último As Artes entre as Letras:
Conheci pessoalmente o Daniel Pires (n. 1951), licenciado em Filologia Germânica, doutorado em Cultura Portuguesa, professor do ensino secundário, leitor de português nas Universidades de Glasgow, Macau, Cantão e Goa, num congresso internacional realizado no Teatro Luísa Todi em Setúbal em 2016 destinado a celebrar os 250 anos do nascimento de Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805). Falei, na altura, sobre o primeiro voo de balão em Portugal protagonizado em 1794 entre Lisboa e Vendas Novas pelo italiano Vincenzo Lunardi e a cuja partida assistir o poeta sadino, tendo-lhe dedicado dois poemas. Fiquei com excelente impressão do Daniel Pires, um dos organizadores, dado não apenas ser o director do Centro de Estudos Bocagianos desde a sua fundação em 1999 como o maior especialista português em Bocage. Mas já o conhecia dos livros, que é uma das melhores maneiras de conhecer alguém. Tive, como co-coordenador das Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa, com José Eduardo Franco, o gosto de incluir o seu nome como um dos editores do vol. 14 daquela colecção publicada pelo saudoso Círculo de Leitores, intitulado Primeiros textos sobre igualdade e dignidade humana, saído em 2019, onde Pires nos regalou com a sua apresentação das «Cartas de Olinda e Alzira», de Bocage, um poema que pode ser visto como um «hino à liberdade feminina».
Olhando agora para a lista da sua bibliografia, no catálogo on-line da Biblioteca Nacional, onde no final de Setembro se vai realizar um encontro em sua homenagem, encontrei 66 entradas. A mais antiga é o Dicionário das revistas literárias portuguesas do século XX, publicada pela Contexto em 1986 (Pires coordenou outros dicionários), e a mais recente, O essencial sobre Manuel Maria de Barbosa du Bocage”, livrinho publicado pela Imprensa Nacional em 2023 cujo nome diz tudo. Não os podendo ter a todos, possuo na minha biblioteca alguns deles. Fui á estante recolher seis, que aqui apresento sumariamente por ordem cronológica da sua publicação. Eles dão uma ideia, ainda que pálida, da variedade e qualidade da investigação literária e histórica que Daniel Pires tem realizado:
1- Raul Proença, O caso da biblioteca; organização, estudos e notas de Daniel Pires e José Carlos González. Biblioteca Nacional, 1988. Um conjunto de textos relativos a uma sindicância às actividades de direcção da Biblioteca Nacional de Jaime Cortesão e Raul Proença, que surgiu após a primeira revolta contra a ditadura militar, em 1927. As questões em causa eram obviamente políticas e os dois souberam defender-se.
2- Camilo Pessanha, China: estudos e traduções, pref. de Daniel Pires. 2.ª ed. Vega, 1993. Pires é autor de uma dúzia de livros sobre o poeta de Coimbra que viveu em Macau. Este livro é um conjunto de textos de Pessanha sobre a civilização chinesa, seguido de uma série de traduções do mandarim que o autor ensaiou, e de um texto sobre a gruta de Camões em Macau. Há dois livros semelhantes, na mesma editora, do escritor Wenceslau de Moraes, que foi amigo de Camilo Pessanha, a quem conheceu em Macau antes de se fixar no Japão: Fernão Mendes Pinto no Japão, pref. Daniel Pires. 3.ª ed. Lisboa: Vega, 1993; e Antologia, selecção de textos e introdução de Armando Martins Janeira; pref. de Daniel Pires. 2.ª ed. Vega, 1993. Pires tem seis títulos sobre Wenceslau de Moraes.
3- Daniel Pires, Bocage: a imagem e o verbo, fotografias de Cília Costa, José Luís Madeira e Ricardo Fraga Pires. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2015. Esta é uma bela fotobiografia de Bocage, em grande formato e design cuidado, publicado no ano dos 250 anos do poeta. Para além de uma referência útil, trata-se de um objecto bibliográfico: com mais imagem do que texto, é um regalo para os olhos do leitor. 4- Bocage, Sonetos, sátiras, odes, epístolas, idílios, apólogos, cantatas e elegias, organização, fixação do texto e notas de Daniel Pires. Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2017. Este é o 1.º volume das Obras Completas de Bocage, a cargo de Daniel Pires na Imprensa Nacional. Mas ele já foi o organizador da Obra completa de Bocage, Caixotim, 2004, com 2.ª ed. em 2008. Esperam-se os volumes seguintes.
5- Daniel Pires. Bocage ou o elogio da inquietude, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2019. Agora, num texto sem imagens, num volume de capa dura, e como complemento da fotobiografia atrás referida, trata-se da biografia de Bocage, feita por quem o conhece muito bem. Para quem queira saber tudo sobre Bocage.
6- D. Pires et al., Clepsydra 1920-2020, estudos e revisões, Catarina Nunes de Almeida (ed.), pref. de Paulo Franchetti, Documenta / Sistema Solar, 2020. Clepsidra (1920) é, reconhecidamente, a obra maior de Pessanha. Este livro editado contém um texto de Daniel Pires sobre a biblioteca do poeta conimbricense. Saiu no ano do livro em que se comemorava o centenário da publicação de uma edição que foi um «relâmpago» na poesia portuguesa. Pires foi editor de outras versões da Clépsidra, uma para o Instituto Cultural de Macau, em 1997, e outra para a Livros Horizonte, em 2006, para além de ter participado numa exposição sobre o espólio de Pessanha na Biblioteca Nacional em 2008.
Do Daniel Pires apenas espero que me continua a fornecer a estante com bons livros como estes, que mais não são do que uma amostra das mais de seis dezenas de obras da sua lavra. Não está ainda no catálogo da Biblioteca Nacional, mas as Edições Esgotadas, de Viseu, acabam de publicar mais uma obra dirigida por Daniel Pires: Camões Pequeno. Obra completa de Francisco Álvares da Nóbrega, na qual reúne a produção de um poeta madeirense dos séculos XVIII e XIX.
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