terça-feira, 12 de dezembro de 2023

O PISA EM ESPANHA

Retiro do jornal online ABC os extractos abaixo sobre os resultados do PISA em Espanha. As mesmas considerações poderiam ser feitas para Portugal. Ambos os países, que participam no PISA (programa da OCDE), ressentem-se das orientações/recomendações da OCDE, que têm implementado. De outro modo: ambos os países integraram nos seus sistemas de ensino as linhas estabelecidas pela OCDE para a educação global; agora percebem (perceberão?) que essas linhas os conduzem a resultados muito preocupantes na testagem da mesma OCDE. Devemos, na verdade, interrogar-nos dentro de portas, mas não podemos deixar de nos interrogar acerca do rumo (desconcertante) que a OCDE tem dado ao currículo e à avaliação.
 
No nosso país, grande parte da energia política é investida a tentar resolver problemas gerados pelos próprios políticos. Enquanto isto acontece (...) degradamos a forma como educamos os mais jovens. 
 
Os dados do último relatório PISA, o primeiro após a Covid-19, sendo preocupantes, exigiriam a adopção de medidas ambiciosas e urgentes.
 
A proficiência em leitura, matemática e ciências foi significativamente reduzida [acompanhando a de] outros países (...). O mal dos outros não poderá servir de justificação para que Espanha torne crónicos os seus problemas educativos (...). Não só as políticas públicas falham, como as premissas que as inspiram parecem mostrar sinais de esgotamento. 
 
As novas pedagogias, o emotivismo ou a recepção acrítica da inovação tecnológica pesam na (...) forma como, durante décadas, decidimos educar crianças e adolescentes (...).
 
A seleção dos professores, a cultura do esforço e do conhecimento, os rácios de sala de aula, os programas curriculares e um correcto financiamento são, sem dúvida, elementos-chave a ponderar (...).
 
A ideia de que tudo tem que ser fácil prejudica uma abordagem realista (...) que, mais tarde, se manifesta inclusivamente no ensino secundário e na universidade. 
 
Além disso, a diferença entre o público e o privado está a agravar-se, o que num quadro de descentralização pode acabar por evidenciar novas diferenças entre os espanhóis (...).
 
A fúria legislativa com que realizámos reforma após reforma condenou-nos ao improviso e impediu-nos de construir um quadro estável, fiável, exigente e duradouro. 
 
Existem evidências suficientes para mostrar que grande parte dos pressupostos das novas pedagogias falharam e, por isso, a nossa educação pública requer protecção (...)
 
A Espanha precisa de estabelecer um pacto educativo, mas a cegueira ideológica e as políticas em vigor parecem continuar a condenar as gerações futuras.

7 comentários:

Anónimo disse...

Lá, como cá, os políticos que estão atualmente no poleiro não vislumbram problemas de maior, nem na Educação, em geral, nem com o que se passa nas escolas EB 1, 2, 3 e Secundárias, ou nas suas equivalentes em Espanha, em particular. No pasa nada!
Em Portugal, figuras de grande craveira, como o grande sindicalista Mário Nogueira, que eu reputo como um dos maiores defensores da MONODOCÊNCIA, mas, ao mesmo tempo, como um amigo de Peniche, no que se refere aos antigos professores do liceu, que viram a desvalorização constante do seu estatuto académico e socioprofissional, ao longo dos últimos quarenta anos, vêm agora a terreiro, na imprensa escrita, dizer que os resultados do PISA não são assim tão maus. A deficiente perceção da opinião pública, que acha que as crianças e os jovens aprendem cada vez menos nas escolas, é consequência, tal como acontece com os professores e educadores de infância, da dificuldade de apropriação das orientações claras e inovadoras do ministério da educação, que prescrevem que um aluno pode ter pouquíssimos conhecimentos de matemática, ciências, ou línguas e, no entanto, ser um ótimo aluno, basta que seja bem avaliado nas atitudes, nas capacidades, nas competências e no "Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória".
Como não é em duas horas que se pode avaliar o trabalho de um ano letivo, e porque o aluno até pode ter uma dor de barriga, devemos acabar com os exames escolares e passar toda a gente. Assim, haverá melhoria das aprendizagens e melhores resultados no PISA.

Anónimo disse...

Sem querer, de modo algum, ilibar as responsabilidades do Mário Nogueira e sua demanda ideológica, este artista só fez o que fez com o beneplácito ou conivência dos professores. Tivessem eles colocado em primeiro lugar os alunos e a missão de garantir ordem e responsabilidade, tudo estaria bem diferente.
Carneiro

Anónimo disse...

Estes resultados só podem surpreender os distraídos ou os crentes nas vacas-voadoras!
O canhotismo não está interessado em formar crianças, por consequência cidadãos, conscientes, conhecedores, exigentes e capazes de algum sentido crítico.
Em tempos para se submeterem os cidadãos apostava-se no analfabetismo, hoje investe-se no alfabetizado mandrião ou acometido.
Carneiro

Anónimo disse...

Mário Nogueira fez o que as autoridades governamentais quiseram, ao longo dos anos, que ele fizesse. Assim, a sua grande luta foi defender os monodocentese e votar ao desprezo os antigos professores do liceu, esses filhos da alta burguesia.
Professores esses que já tinham sido equiparados a educadores de infância, esses filhos de operários e operárias fabris e do campesinato explorado pelos grandes latifundiários do Alentejo. Agora, os antigos professores do liceu não passam de meros funcionários públicos que obedecem às ordens dos governantes, que vão todas no sentido de não exigir nada aos alunos e dar-lhes tudo, nomeadamente os diplomas em que se atesta a aprovação com distinção e louvor.

Anónimo disse...

Não colhe a desresponsabilização!
De cima a baixo, uns mais do que outros, simplesmente estámos todos a colher aquilo que semeámos.
Quiseram a carne, agora lambam o osso. Há que beber o cálice todo!

Anónimo disse...

A despropósito: pouco faltou para sermos todos camaradas; com o 25 de novembro somos (quase) todos doutores.

Anónimo disse...

Venceu a vaidade: efetivamente, hoje somos quase todos doutores da mula ruça. Uns frequentaram Faculdades de Universidades públicas, outros frequentaram e frequentam Faculdades fora das Universidades, e ainda há muitos bacharéis doutorados por equivalência. Entre o professorado e os educadores de infância só há habilitações académicas de grau superior. Viva o 25 de Novembro!

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