domingo, 10 de dezembro de 2023

OS TICS DO ESTADO NOVO

Por Eugénio Lisboa 
 
Há comportamentos e afirmações que são tristemente reveladores de que as marcas identitárias do Estado Novo ainda não desapareceram. 
 
Uma delas é o sentimento subliminar de que a respeitabilidade está sempre à direita ou chegada a ela. O que leva, às vezes, a esquerda a ter tics de direita. Outra é um partido que se diz social democrata – o PSD – considerar-se de direita e afirmar constantemente que o seu “aliado natural” é o CDS, que, pelo menos, nas mãos de Nuno Melo, é um partido assumidamente de direita.
 
 Mas há mais. 
 
Durante a vigência do Estado Novo, qualquer cidadão que se opusesse ao regime era imediatamente acusado de ser um perigoso comunista e um traidor. Não sei se o faziam por convicção ou por manobra. O certo é que o faziam. 
 
Eu próprio fui dezenas de vezes “acusado” de comunista perigoso pelos próceres do Estado Novo. Nunca refutei publicamente tais “acusações” porque seria, na altura, cobarde e pouco estético fazê-lo, em relação aos verdadeiros comunistas, entre os quais tinha bons amigos que muito respeitava. Seria quase o mesmo que estar a dizer que eles tinham lepra e fazer o jogo do Estado Novo. Mas os meus escritos e os mestres em que me abonava nada tinham que ver com o comunismo, antes com uma convicta social democracia e com uma intransigente defesa da liberdade de pensamento.
 
Seja como for, é penoso ver hoje o líder do PSD, Luis Montenegro, a acusar membros da esquerda do PS de gonçalvismo! Tudo quanto não seja aquela direita mole e gananciosa é perigoso gonçalvismo e traição à pátria. Tudo quanto seja levar a sério os deveres e obrigações de uma autêntica social democracia é logo demonizado por um partido que tem social democracia no nome. Se isto não é táctica típica de autocracias, não sei o que seja.  O actual PSD devia fazer um longa e profunda reflexão sobre as suas origens. Mencionar Sá-Carneiro, a torto e a direito, não chega: é preciso ir ver o que ele realmente pensava. De certo, ele não se reveria neste PSD que vê a direita como a sua família “natural”. 

O mais grave, porém, é que estes tics estadonovistas não se detectam só no PSD. Um dos candidatos à próxima eleição de secretário geral do PS, José Luis Carneiro, enferma dos mesmos trejeitos próprios de quem receia ver um reformismo sério e preocupado com uma verdadeira e vívida social democracia, como coisa pouco respeitável, senão como gonçalvismo a bater à porta. 
 
Lembro-me, não sei porquê, da peça de Ionesco, O RINOCERONTE.
 
Eugénio Lisboa

3 comentários:

Eugénio Lisboa disse...

Por que faz de mim o seu adversário? Não encontra adversários melhores?
Quanto a eu não ter sido mártir , torturado ou morto, não tenho de pedir desculpa por tal. De resto, respondo como respondeu o filósofo matemático Bertrand Russell, quando lhe perguntaram se seria capaz de morrer por uma ideia: "Não por que podia estar errado."
SE é estúpido morre-se por uma ideia, matar por ela é ainda pior. Mas foi isso que fez o comunismo na União Soviética e é o que fazem todas as teocracias, de que o regime Soviético foi, encapotadamente, uma delas.. Quanto a o comunismo defender a liberdade de pensamento, o meu caro deve estar a brincar... Assim, não... Ter lutado contra o Estado Novo, sim, ter lutado pela liberdade de pensamento, isso fê-lo, por exemplo, António Sérgio, que o PCP perseguiu insidiosamente...
Repito:por que não escolhe outrosb adversários» Por que sou eu qcuem particularmente o incomoda? Ainda não percebeu que eu não faço fretes a lado nenhum e digo só o que penso? E que se torna muito suspeito perseguir gente como eu? Fica-se suspeito de ter realmente medo da liberdade de pensar.
P. S. Eu não vim à metrópole e desapareci, como diz o Senhor. Eu vim à metrópole e regressei à terra onde nasci, Moçambique, onde tinha quase toda a minha família, onde a minha mãe, avó e bisavó materna também tinham nascido. Para evitar insinuações e calúnias, é sempre de bom aviso informar-nos. Palavra de amigo: escolha outros adversários.

Eugénio Lisboa disse...

Não vou perder mais tempo consigo, porque, para começar, as coisas alevantadas que o Sr. diz são incompatíveis com um cobarde anonimato.
Só um exemplo da sua ousadia com a verdade, quando afirma que o PCP nunca perseguiu António Sérgio. Fê-lo por terceiro interposto de António José Saraiva, que, mais tarde, o confessou publicamente. Conheço bem todo esse episódio que tenho bem documentado. E não perseguiu só António Sérgio. Por vezes, fica-se com a impressão de que o PCP se incomoda menos com a direita do que com a esquerda de pensamento livre, à qual o PCP obviamente não pertence.
Quanto às inverdades e calúnias que eu terei praticado, temos conversado. Falo do que bem conheço e bem documentado está, sem preconceitos partidários e sempre de rosto descoberto. A este propósito, acho estranho que, tendo eu picado tantas vezes a indecência do anonimato, nunca tenha obtido qualquer rresposta. Uma pergunta (é só uma pergunta, não é uma insinuação): "Por que não sai do anonimato? Está proibido de o fazer?"
Quanto a achar estranho a sua obsessão com os meus escritos, isso tem que ver com isto: mesmo quando digo coisas que lhe deviam dar alguma satisfação, o Sr. arranja maneira enviesada de me denegrir. Até isto me faz lembrar as picardias passadas do PCP, que, em matéria de caluniar, não fica atrás de ninguém. E que quando marca o alvo a abater, não descansa. Eu devo ter-me tornado uma saquelas pessoas que fazem mau sangue aos que não toleram a divergência.
Quanto à opinião do Dr. Abel Salazar sobre António Sérgio, tenho muito respeito pela personalidade de investigador e de artista de Abel Salazar (e também pela sua oposição ao Estado Novo), mas o desabafo que cita deve ser posto em contexto: houve uma célebre e acesa polémica entre Abel Salazar e Sérgio e não me parece que o fisiologista se tenha saído bem desse prélio...
E que fique aqui registado: não voltarei a dar-lhe resposta, até que saiba com quem estou a dialogar. A clandestinidade, em democracia, é uma coisa perversa. Passe bem.

Anónimo disse...

O senhor Eugénio Lisboa, insiste em afirmar que o PCP perseguiu insidiosamente António Sérgio sem apresentar provas.

Pergunto: É essa a lealdade que tem para com os leitores?

Devo dizer que essa forma de afirmar sem necessidade de provar absolutamente nada é por Eugénio Lisboa uma constante e podemos também encontrá-la em António Sérgio.

Vou provar aquilo que afirmo sobre António Sérgio.

O senhor António Sérgio escreveu um artigo na Vértice, onde afirmava que alguns ilustres professores de ciências físicas e matemáticas o «felicitaram calorosamente pelo seu artigo» na polémica que mantinha com o Professor Bento de Jesus Caraça.

Essa afirmação de António Sérgio, tinha o objetivo de destruir o valor das afirmações de Bento Caraça.

Bento Caraça pediu a António Sérgio para apresentar os depoimentos desses professores em que eles declarem que o que Bento Caraça afirmou serem erros não são de facto erros.

António Sérgio nunca apresentou esses depoimentos desses ilustres professores que supostamente contrariavam Bento Caraça.

Eugénio Lisboa, tal como Sérgio também não apresentou as provas daquilo que afirma.

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