Fotografia de Alessandro Grassani para The New York Times, recolhida aqui |
Por razões ditas humanistas, cresce o uso de robots destinados ao "cuidado" de "idosos". Com um historial de cerca de meio século, vemos, sobretudo na última década, ampliadas as funções que concretizam tal cuidado, a par de um acolhimento social das mesmas (ver, por exemplo, aqui). E, a avaliar pela informação disponível na internet, isto acontece nos mais diversos países: Itália, Espanha, Alemanha, México, Brasil, Japão, Austrália... Portugal...
Equipas académicas e empresariais têm produzido robots, com design agradável e nomes simpáticos, para experimentar e, de seguida implementar, esta ou aquela função, nesta ou naquela instituição ou, vá lá, num conjunto de instituições.
Imagem recolhida aqui |
O design está muito longe de ser agradável; o nome, nada tendo de simpático (GR-1), adequa-se à figura. E que figura: 1,64 metros de altura e 55 quilos de peso!
Imaginemos uma destas coisas a caminhar na nossa direcção, para, por exemplo, como está previsto, nos tirar da cama e nos sentar numa cadeiras de rodas, nos fazer companhia durante a noite ou sair connosco para dar um passeio no parque.
O próximo passo é torná-lo inteligente e... dar-lhe melhor aparência. Dentro de dois ou três anos não o reconheceremos. Para fazer jus à sua condição, melhor seria deixá-lo estúpido e de triste figura.
3 comentários:
Se considerarmos que, até a realidade que percepcionamos como tal e não apenas a dita realidade virtual, não deixa de ser virtual para nós, não deixa de ser uma representação da realidade, podemos imaginar a possibilidade de alguém viver acompanhado por um robot com um nível de competências e de "educação" que crie a ilusão suficiente para que não se sinta falta de humanos, por mais consequências nefastas que isso possa ter, porque a imprevisibilidade e as complicações que os humanos criam e que tendemos a evitar, forçam-nos a uma vida mais em conformidade com a nossa natureza. Não me parece que seja saudável, por exemplo, alguém que julga a realidade como sendo uma ilusão provocada pela falta de álcool. O ser humano não está "preparado", adaptado, para uma vida sem stress. Precisamos de ter consciência disto, embora haja quem acredite que é possível e desejável viver como um eremita, isolado do mundo, sem problemas, eu vejo nisso um problema muito grande. Quando temos a possibilidade de viver ao nosso jeito, evitando tudo o que não nos agrada, até aquilo de que mais gostamos e apreciamos deixa de ter o interesse que normalmente tem. A satisfação/insatisfação é um processo de homeostasia muito delicado. Ninguém consegue estar satisfeito mais tempo do que aquele que o organismo vivo necessita. Um robot dificilmente reagiria nessa conformidade, porque a homeostasia não me parece que seja algo programável e, por outro lado, não tendo o robot essa capacidade, dificilmente deixaria de se tornar um boneco, sem vontade própria, capaz de contrariar e de frustrar e de desafiar o seu "comparsa" humano. Mas isto são lucubrações minhas a horas tardias.
Admirável Nundo Novo! Não tarda muito, estes robots humanoides serão os nossos médicos, os nossos professores e os encarregados dos nossos ritos finais. Poderão até ser os nossos melhores amigos! Quem sabe se poderão chegar a ministros... E o pagode vai gostar e pôr-se a jeito. Nada como o progresso tecnológico, que, por definição, é sempre bom.
Eugénio Lisboa
Adenda ao meu comentário anterior: O romancista americano, Ira Levin, que se tornou famoso pelo seu romance ROSEMARY'S BABY, admiravelmente transposto para o cinema por Roman Polanski, escreveu outro livro igualmente famoso - THE STEPFORD WIVES - que antecipa este mundo de recurso aos humanoides: neste caso os humanoides substituiriam as esposas dos cidadãos da cidade de Stepford - tão belas como as verdadeiras, mas muito mais obedientes e carinhosas...
Eugénio Lisboa
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