quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

DAVID MOURÃO-FERREIRA 95 ANOS


Novo texto de Eugénio Lisboa:

David Mourão-Ferreira faria hoje (24 de Fevereiro), se fosse vivo, 95 anos Foi um dos mais notáveis professores, conferencistas, poetas, narradores, ensaístas, dramaturgos e divulgadores de poesia universal com que o nosso meio cultural contou. E faço questão de sublinhar que me não estou apenas a referir ao século XX. Os nossos poetas mais recentes tendem a fazer-lhe boquinhas e não vou fingir que não suspeito qual seja a razão disso: o profundo conhecimento que ele tinha – e eles não - da grande poesia universal, o seu profundo mergulho, com mão diurna e nocturna, na grande arte de versificação, exibindo uma oficina poética do mais alto gabarito, uma invulgar associação de inteligência, cultura, sensibilidade e técnica, uma fulgurância analítica que nos legou algumas das mais aliciantes análises de outros poetas, como Cesário ou Pessoa, entre muitos outros.

Sobre o fascínio provocado pelas suas aulas, na Universidade de Lisboa e em muitas outras por esse mundo fora, os testemunhos são inúmeros. O mesmo se poderia dizer das suas aliciantes conferências. Na minha qualidade de conselheiro cultural da embaixada portuguesa em Londres, promovi a ida lá de inúmeros professores e escritores portugueses e tive-os sempre de inigualável qualidade. Mas nunca nenhuma das conferências por eles produzidas atingiu o altíssimo nível das que proferiu Mourão-Ferreira, nem o poder de mobilização que a sua aura intelectual provocava: uma conferência, uma aula, um seminário dele, em Londres, em Oxford, em Cardiff, ou noutro sítio qualquer, convocava salas cheias a deitar por fora, de ouvintes fascinados, a muitos dos quais talvez se abrissem pela primeira vez as portas para a sedução da literatura. David Mourão-Ferreira foi um dos mais sedutores mestres de ensinar, de inspirar e de ler, que em toda a minha vida conheci Além disso, foi também, por acaso, um dos nossos maiores escritores.

Eugénio Lisboa

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