quinta-feira, 11 de março de 2021

Não aos computadores e à internet: da "educação do futuro" para a "educação tradicional"

Agora que, por decisão do nosso Governo, as crianças mais novas vão voltar à escola, seria conveniente que o aparato tecnológico em que têm estado mergulhadas fosse suspenso. Nada de internet, ecrãs, computadores, telemóveis, quadros interactivos, plataformas, aplicações, games, etc. Em contrapartida, papel e lápis, muitos livros, quadro preto/verde e giz, mesas e cadeiras alinhadas, exercícios de coordenação, exploração de informação com muitas perguntas e respostas, actividades ao ar livre e reforço das artes. 

Dirá o leitor: seria passar da "educação do futuro" para a "educação tradicional"! Não seria, pois ambas as expressões redundam em falácias, ainda que à primeira se atribua uma conotação positiva e à segunda uma conotação negativa. Seria fazer o que está certo para que as crianças aprendam e, ao aprender, desenvolvam a sua inteligência.

E quem o diz? Bom, caso não se confie na investigação psicopedagógica de matriz cognitivista, ao menos que se dê crédito aos super cientistas, executivos, engenheiros e outros técnicos do Vale do Silício, de onde provem grande parte desse aparato tecnológico para... a educação! Dizem estes senhores: para os nossos filhos não! E, portanto, a escolas que frequentam é... "tradicional". E daqui não saem. 

Recuperei três vídeos que permitem perceber a dissonância de discursos: enquanto a escola tecnológica é multiplicada e reforçada por organizações, empresas, políticos, académicos interessados no negócio; a escola livre de tecnologia mantém-se num reduto, onde poucos, muito poucos têm o privilégio de entrar. Note-se também nesses vídeos a constância dos discursos, do mais antigo ao mais recente a mensagem é a mesma 

Há dez anos: "Escola do Vale do Silício sem computadores"

Há quatro anos: "Os pais do Vale do Silício limitam cada vez mais o tempo exposição dos seus filhos aos ecrãs"

Há um ano "Por dentro de uma escola sem tecnologia  onde os executivos de tecnologia têm os seus filhos"

PS. O modelo escolar predominante nas "boas escolas" do Vale do Silício é a pedagogia Waldorf, mas isso seria outra conversa.

3 comentários:

Anónimo disse...

Não podemos continuar a deixar Helena Damião praticamente sozinha a pregar no deserto! A questão da destruição do ensino secundário tem de ser trazida para o ordem do dia.
Neste contexto, o ensino que está a ser ministrado no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) aos estudantes que, no corrente ano letivo, ingressaram no 1.º ano, é um escândalo!
Nas disciplinas de Matemática os professores não deixam os alunos utilizar as máquinas de calcular. Acontece que a matéria lecionada num semestre dessas disciplinas era, no meu tempo de aluno universitário, de Ciências, matéria para mais de um ano de ensino, com a agravante de a "escola tradicional" de há trinta anos preparar muito melhor os alunos para ingressarem no ensino superior do que a atual "escola do futuro"!
O dilema é o seguinte:
Os professores do secundário devem demitir-se da sua função, para que todos os alunos tenham direito de frequentar o ensino superior, ou os professores do superior devem lecionar apenas matéria do secundário, para que todos os alunos possam concluir o ensino superior ?!
Por mim, escolho o modelo de "escola tradicional", frequentada pelos filhos dos cientistas e engenheiros de Silicon Valley.

Anónimo disse...

Os conhecimentos "clássicos", que se ensinavam e aprendiam na "escola tradicional", levaram-nos aos computadores e à internet - não são para deitar para o lixo!
Os engenheiros e cientistas de Silicon Valley sabem que para construir uma casa é conveniente começar pelos alicerces. Para se perceber informática tem de se começar por saber matemática, física, filosofia, história, etc. Se o nosso "conhecimento" for construído tendo por base principalmente o fluxo de imagens luminosas que enchem os écrans dos nossos aparelhos de alta tecnologia, corremos o sério risco de ficarmos com os sentidos e o espírito crítico embotados e, consequentemente, adquirirmos uma visão imediata e muito limitada do mundo. Apesar de altamente escolarizados, no sentido de que passamos muito tempo na escola, seremos presas fáceis das políticas de "panem et circenses".

Dulce Marques da Silva disse...

Estou plenamente de acordo com a Doutora Helena Damião. Sou professora do ensino secundário e sei bem qual o rumo do ensino em Portugal! Como defensora da escola pública é com tristeza que a vejo agonizar. Estamos a preparar uma geração de pessoas dóceis e facilmente manipuláveis. Tanta preocupação com a educação para a cidadania, como se a educação não fosse, desde a sua origem, isso mesmo, e não se preparam os jovens para a assunção do seu papel de cidadãos. Porquê? Porque o conhecimento é desprezado e, como tal falha o espírito crítico e a capacidade argumentativa. Como docente deixo o seguinte repto: é urgente “abanar” consciências e, em conjunto, refletirmos sobre a função docente.

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