segunda-feira, 29 de março de 2021

A CRIAÇÃO DE UMA ORDEM DOS PROFESSORES PERDIDA NA POEIRA DO TEMPO

De um acervo de grande número de artigos de jornais da minha autoria, alguns deles reunidos no meu livro “Do Caos e a Ordem dos Professores”(Janeiro de 2004), recolhi este que tem o inegável mérito de ter dado aso a comentários dos seus leitores. Transcrevo esse artigo e respetivos comentários:

SOBRE  A ORDEM DOS PROFESSORES (23/05/2011)”:

 “A profissão docente é a corporação mais necessária, mais esforçada e generosa, mais civilizadora de quantos trabalham para satisfazer as exigências de um Estado democrático” (Fernando Savater, catedrático de Ética da Universidade do País Basco).

A necessidade da criação de uma Ordem dos Professores era, até há pouco, apenas sussurrada entre uns tantos elementos da classe docente. Nos dias de hoje, em que os professores passaram a ter constante acesso à Internet avolumam-se os comentários favoráveis à respectiva criação.

A prova disso está na transcrição parcial que aqui faço - como uma ponta de orgulho que uns compreenderão e outros não, mas pouco me importam estes últimos - de um comentário  publicado no meu post "A formação de professores nos ensinos universitário e politécnico" (21/06/2011). Nele escrevi:

“Se quer que lhe diga, até tenho medo do meu optimismo, quanto maior o voo maior a queda. Mas é esta a minha natureza e estou optimista. Se um dia as gerações futuras tiverem o privilégio de, no final de uma licenciatura de qualidade, se inscreverem numa Ordem dos Professores para depois exercerem funções docentes quando esse dia chegar,  terei o maior prazer em o comemorar consigo. Aliás, seria uma honra!"

Em balanço de memória, perdi a conta de posts e artigos de opinião de jornais que escrevi em defesa da criação da Ordem dos Professores (OP), de palestras que proferi, de deslocações à Assembleia da República com esse destino, de conversas amenas que tive com crentes e polémicas com infiéis para que, entre outras coisas, os docentes deixassem de ser escravos em mãos governamentais ou títeres de palcos sindicais de uma espécie de mercenários preocupados apenas com questões salariais e horários de trabalho, como só de pão vivesse o homem.

Aliás, é esta a perspectiva defendida por professores que fizeram de um sindicalismo puro e duro do século XIX a sua profissão, depois de terem vendido escassos meses ou parcos anos de aulas. Esta uma das muitas causas, como é fácil depreender, da guerra sem quartel, e usando todos os meios, desencadeada contra a criação da OP. A título de mero exemplo, a Fenprof, anos atrás, defendia que “o campo de intervenção de uma Ordem restringe-se ao plano das questões éticas e deontológicas que não são, para já, questões centrais das preocupações dos professores”. 

E, para fundamentar aquilo que dizia ser (mas não é) um arrabalde das preocupações dos professores, acrescentava em ocupação abusiva da finalidade de um OP, por si "decretada" acima:”Os Sindicatos dos Professores têm sido e continuarão a ser espaços de análise e discussão das questões da ética e deontologia da profissão”. Mas esta espécie de sindicalismo que diz e se desdiz já teve piores  dias de cofres cheios quando, por exemplo, aceitavam quotas de curiosos sem qualquer curso ou em vias de o terminar que viam na docência uma forma de ganhar a vida enquanto lhes não aparecia nada mais rendoso.

Do que me lembro, a luta que tenho mantido em prol dessa criação ascende, talvez, a mais de três ou quatro décadas. Hoje aposentado, depois de mais de 40 anos de serviço docente do ensino  secundário ao ensino universitário oficial, da “Cidade Invicta” à velha torre das margens do Mondego, tenho a meu favor o facto de nunca, por nunca, me terem movido interesses pessoais ou de simples penacho.

No dia (um dia apenas adiado) em que for criada a OP, a honra é de todos nós que nos fizemos seus defensores intransigentes, rejubilarei pela sua criação e sentir-me-ei recompensado pela companhia daqueles professores que sempre defenderam o interesse público de uma das mais nobres, exigentes e prestigiadas profissões.

Esse facto só por si, salda as horas por mim consumidas em madrugadas insones e sem fim, por exemplo, na elaboração dos respectivos estatutos e de um livro sobre esta temática. Sem o cunho pós-revolucionário que lhe foi dado décadas atrás: A LUTA CONTINUA!

Por entender ter interesse saber-se a reação à criação da Ordem dos Professores, transcrevem-se os respectivos comentário. Assim: 


    1. Mais uma vez, muito obrigada, Sr. Professor Rui Baptista, pelas suas intervenções e pela força da sua lucidez.
      Sou seguidora do Blogue, que leio diariamente, e tenho muita admiração por todos vocês.
      Um abraço

      Nazaré Oliveira

      Responder
    2. Que bem sabem palavras de estímulo como as que a Colega endereçou a todos os autores deste blogue. Com um abraço de gratidão, um bem haja.

    3. Caro Rui Baptista:

      Agora que o principal obstáculo da nossa Ordem foi afastado (o PS e as suas ministras da Educação e respectivas políticas educativas) há que ter esperanças. Seria interessante fazer uma votação nas Escolas para ver se os professores querem um não uma Ordem e para calar alguns Sindicatos que temem a nossa Ordem...

    4.               João Boaventura

    5. Se  a "...Fenprof, anos atrás, defendia que “o campo de intervenção de uma Ordem restringe-se ao plano das questões éticas e deontológicas que não são, para já, questões centrais das preocupações dos professores”, e continua a defender, é uma contradição dos termos se se considerar que a própria Fenprof acolheu na sua sede a Pró-Ordem como sindicato-membro.


    6. Porque, segundo parece, uma Ordem, hoje em dia, tem o seu ovo numa Pró-Ordem, que é uma espécie de aviso à navegação de que ela pretende nascer, seguindo-se-lhe a Comissão Instaladora.

      Foi assim que nasceu a Associação Pró-Ordem dos Psicólogos (APOP) por iniciativa da Associação Portuguesa de Psicólogo, com o objectivo de representar e defesa dos interesses dos profissionais de Psicologia até à criação formal da Ordem, bem como promover as acções necessárias perante as entidades competentes tendo em vista a aprovação dos Estatutos e Código Deontológico que regerão a Ordem dos Psicólogos.


      A Federação Portuguesa de Professores mais conhecida por FENPROF também tem como sindicato-membro a Pró-Ordem (Associação Sindical dos Professores Pró-Ordem), que se consagra como “um espaço de encontro, debate e reflexão de um conjunto de associações socioprofissionais, pedagógicas e científicas que pugnam pela constituição da Ordem dos Professores, como forma de revalorização da Imagem, Dignidade e Estatuto do Professor.”

      Porém a Pró-Ordem parece não se sentir comodamente inserida na FENPROF a avaliar pela observação tecida a propósito de uma reunião da qual se teria retirado devido ao sectarismo da Fenprof, transmitindo a ideia de que a Federação Nacional dos Professores estaria mais interessada na aplicação ideológica partidária, do que propriamente na ideologia salvítica do professorado, encontrando, neste vasto campo, o seu terreno propício para a contestação vitalícia, a relembrar aquela passagem do manuscrito “Gato preto em campo de neve”, de Erico Veríssimo, onde o autor conta esta passagem curiosa, ao perguntar a um operário, que contestava numa manifestação sindical, as razões do seu impropério contra o Governo, o mesmo respondeu: “porque é engraçado ser do contra”.

      Encontramo-nos numa encruzilhada sem saída porque, se por um lado, há um Rui Baptista apostado na concretização de uma Ordem dos Professores que, se afigura uma batalha perdida, por não ter atrás de si um suporte, uma instituição, que congregasse os apoios de suporte para a formulação de uma Pró-Ordem (que parece ser a matriz), por outro lado, aparece uma Pró-Ordem já elaborada e com apoio de grande parte do professorado e possivelmente apostado no próximo passo, o da Comissão Instaladora.

      Honra seja feita ao meu caro amigo Rui Baptista porque, afinal, ele sabe que a sua árdua batalha estará a configurar uma forma de animar o professorado a aderir à Ordem, mesmo que venha a ser a Pró-Ordem a colher os louros do combate indómito que é e continua a ser, vitaliciamente, o meu caro amigo Rui Baptista.

      É o que se chama dar com uma mão sem que a outra veja. Bem hajas.

      Um abraço fraterno.


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