( Na foto chegada ao Aeroporto de Lisboa dos chamados "retornados" com parcos haveres ganhos após uma vida de trabalho )
Na crença popular não há dois sem três. Fiel que sou à voz do povo, depois, de nos primeiros dias deste mês natalício de 2020, ter publicado dois post’s, respectivamente, “Mais uma vez a Guerra do Ultramar” e “Fardos de Fome", cumpre-me publicar a fotografia de uma trilogia “Culpas da Descolonização” (“Correio da Manhã”, 28/09/1990).
Afirmou Pitigrill que
“tudo deve ser discutido; sobre isso não há nenhuma discussão” até porque “não
há factos eternos nem verdades absolutas, segundo Nietzche.
Publico a foto do meu último artigo supracitado.
Em citação de Eça: "Achais estas páginas cruéis? Pensais que não me dói tanto escrevê-las como a vós dói lê-las? Pensais que é com o espírito alegre, e a pena ao vento, que levantamos um por um, diante do público, os farrapos da vossa decadência?"
As verdades sempre foram duras de ouvir, esta é a minha verdade, embora eu saiba que cada um tem a sua verdade que flui com o tempo e que, dificilmente, gera consensos. Consensos tanto mais difíceis entre quem os vivenciou e aqueles que dizem por terem ouvido dizer, passe o plebeísmo, emprenhando pelos ouvidos da sua escravidão partidária!
P.S.: Receoso que o texto seja difícil de ler por a foto estar pouco nítida, , transcrevo-o:
“Tendo vivido em Moçambique durante 18 anos e
daí ter partido em vésperas da sua independência é natural que tenha uma
perspectiva pessoal, embora a deseje desapaixonada sobre a acção colonizadora
de Portugal em África.
Porém , provando que
o facto de se ter vivido em África, e dela se ter feito uma segunda pátria, não
é condição “sine qua non” para um completa
compreensão da sua controversa problemática, transcrevo um excerto de Salazar
(1959) sobre o caos que se viria a abater sobre os territórios ultramarinos, evitável para muitos por uma descolonização feita a
seu devido tempo e noutras circunstâncias: “(…)
esses povos (…) têm apenas diante
de si duas alternativa: a regressão ou a
submissão a novos dominadores”.
Na acusação de
Portugal não ter criado uma elite negra capaz de governar, cometem muitos uma
injustiça para com , entre outros,
Amilcar Cabral (Guiné-Bissau), Agostinho Neto (Angola) e Eduardo Mondlane (Moçambique)
todos licenciados, os dois primeiros com diplomas obtidos em universidades
portuguesas.
Parece-me, portanto,
que o fracasso da descolonização não se ficou
dever tanto à escassez de um
escol africano mas deles próprios se não se aperceberem quando chegaram ao poder, que o que estava em
causa era o progresso social (económico, educativo e sanitário) das populações
e não o seu ou de uma clientela que passou da clandestinidade à acção governativa ou partidária de um só partido
Após a descolonização, pela ausência unificadora da presença portuguesa e de um forte sentimento nacionalista
que se não gera pelo simples agrupamento
de etnias diversas com costumes, culturas e religiões diferentes, logo a
população moçambicana se lançou em lutas tribais que provocaram um verdadeiro genocídio entre gente
da mesma raça.
Talvez por isso
e/ou por os portugueses não serem colonizadores, no sentido pejorativo da
palavra, a luta no mato nunca se assumiu com o cunho de uma verdadeira guerra
de libertação nacional. Prova-o a livre circulação de civis desarmados, na
maior parte do território moçambicano (dias antes de 25 de Abril deslocava-me
eu e a família de automóvel de noite, a
centenas de quilómetros de distância), e o esmagador número de negros que se
bateram na frente de combate ao lado dos brancos, sem memória de deserções
significativas ou de desobediência para com os superiores..
Durante o governo de
transição surgiram os “soldados” da Frelimo (nascidos em Moçambique e levados
em criança, à força, para países
limítrofes de expressão inglesa, Tanzânia
e Zâmbia, onde eram politizados e
recebiam instrução militar) maltrapilhos e descalços mas com as mais modernas
armas de fabrico soviético ao ombro e exprimindo-se em dialecto prezado próprio
ou num inglês arrevesado e sem
entenderem patavina do idioma de Camões.
Cheia de razão muita
gente se interroga (de entre elas eu próprio ), sobre a quem cabe a
responsabilidade da desastrosa descolonização portuguesa. Ser-me-ia cómodo
remeter a culpa para a “utopia marxista, cega e néscia ” (Soljenitsyne ) e, mais
ainda, encostar à barra da opinião pública o peito dos homens que na altura governavam ou das eminências pardas que influenciavam as
decisões do Terreiro do Paço.
Cometeria, porém, a injustiça de deixar à porta da memória colectiva dos portuguese os civis e militares que,
isoladamente ou à sombra dos partidos políticos com a imposição de “nem mais um soldado para
as colónias” criarem um clima de pressão
para a retirada ultramarina de Portugal, rápida e quase sem condições.
E a que título se
podem inocentar países como os Estados
Unidos ou Cuba, por exemplo, que na
cobiça das riquezas do continente africano fizeram uma política semelhante à da
União Soviética para a emancipação precipitada e desastrosa dos territórios portuguese a sul do Equador?
Porque os terrenos
diamantíferos e os poços de petróleo produzem mais em tempo de paz, agora,
segundo os media, sob proposta do governo português e alguma relutância
angolana, a União Soviética e os Estados Unidos estarão presentes, na qualidade
de observadores, no próximo encontro MPLA/UNITA que procura um acordo
definitivo de cessar de fogo em Angola.
Mas cairá bem aos olhos do mundo e da diplomacia montar um cenário internacional com eles, em que os incendiários escondem a sua responsabilidade na descolonização portuguesa, aparecendo agora no papel de soldados da paz, num fogo que atearam antes´(fim de citação).
À laia de "post scriptum", não posso deixar de me interrogar sobre a culpabilidade dos políticos portugueses responsáveis por uma descolonização por eles tida, por não fazerem a coisa por menos, como exemplar! Em descrença minha e por experiência de vida, escrevi que quem diz o o que pensa é reacionário, quem diz o que lhe manda o partido é progressista! E ser progressista não pode ser, de forma alguma, adjectivar a descolonização portuguesa como exemplar, facto que o genocídio no norte de Moçambique desmente ao vitimizar um povo bom, generoso e hospitaleiro que bem melhor sorte merecia. As culpas, como de costume, num país de passa-culpas, não podem, e muito menos, devem morrer solteiras. Faça-se, pelo menos, uniões de facto ainda que só para varrer uma testada de vergonha!
2 comentários:
Racismo pós-moderno
O autor abaixo, amante da liberdade africana, mas sem cultura (ou deformação) marxista, religioso e meio ocidentalizado, será talvez uma testemunha menos abonatória – Eduardo Mondlane:
A) 10/09/51 – Não sou cidadão da África do Sul, embora tenha sido educado em Johansburgo. Nasci na África Ocidental Portuguesa, na capital, chamada Lourenço Marques.
(…) Os problemas sociais, políticos e económicos do meu país são um pouco diferentes dos da União da África do Sul. Por exemplo, nós não temos uma barreira de cor ou discriminação racial no nosso país.
(…) Pessoalmente penso que há duas maneiras que ajudarão os africanos:
1.Educação massiva…
2.O espalhar da verdadeira cristandade.
(…) É esta a razão porque eu tenho a obrigação de regressar a África para fazer tudo o que puder para contribuir com a pequena parte de boa vontade com que eu sei que Deus quer que eu contribua na vida.
B) 24/09/51 – Lembra-te que eu próprio não sou cidadão sul-africano. Sou cidadão português. No meu país não temos leis de segregação… Eu farei tudo para lutar pelos direitos do meu povo no meu próprio país…
C) 24/04/54 – O meu desacordo com o governo tem pouco a ver com a sua política racial porque, embora não seja a ideal, não é tão má como a dos países vizinhos… O que não posso suportar é a falta de liberdade de expressão. Isto é verdade para todos os cidadãos portugueses, em Portugal e em África.
PS: enxertos das cartas de Mondlane a sua mulher Janet.
Livro de Nadja Manguezi, Maputo 2001, Centro de Estudos Africanos e Livraria Universitária:
Com “Uma história da vida de Janet Mondlane” com o título “O Meu Coração está nas Mãos de um Africano”
Barroca Monteiro
PS: enviado a Daniel Oliveira, Expresso, crente na genética pró racial da sociedade lusa.
Já sabe qual foi a reacção de Daniel Oliveira ou ter-se-á ele remetido a um silêncio comprometedor? Se tiver, porventura, havido gostaria que a publicasse que isto do racismo se está a tornar num tema altamente polémico em que o racismo negro toma a dianteira. Mondlane era um moderado que muita falta fez a Moçambique e a Portugal porque o ódio racial não se combate acicatando-o. O povo moçambicano é um povo que me merece o maior respeito e amizade fraternal.
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