sábado, 5 de dezembro de 2020


 MAIS UMA VEZ A GUERRA DO ULTRAMAR

Na minha declarada iliteracia informática, ontem toquei inadvertidamente numa tecla, e este meu post disse-me adeus. Reproduzo-o aqui.

“Eu faço tudo com muita verdade, procuro não mentir nunca para o povo. E os que mentem, escamoteiam, viram-se para a melhor luz, esquecem a paixão e desaparecem logo. Há mil exemplos". (Lima Duarte, actor brasileiro).

Filho de pais nascidos em Portugal Continental, conheci a luz do dia no ano de 1931, em Luanda onde meu Pai era sócio  da Farmácia Central. Aos catorze anos, tendo meu pai passado a sua quota na supracitada farmácia, vim para Lisboa tendo ido depois de formado e feito o serviço militar com oficial miliciano para Lourenço Marques (1956 ) onde vivi 18 anos de uma saudade imensa.

Com a Descolonização vim viver para Portugal. Hoje posso dizer que tenho três “pátrias”: de nascimento Angola, de vivência Portugal e do coração Moçambique. Por vezes, com ironia amarga digo que não sou um retornado mas um refugiado em torrão natal dos meus progenitores.

Com esta minha experiência de vida, não posso deixar de me revoltar com situações de que dou testemunho  pessoal,  embora   haja que quem pense ser um assunto tabu, embora permitido a quem, como Joacine Katar e Mamadou, o abordem  com um ódio aos portugueses que transcende os limites da decência em insulto pelo antigo Portugal Ultramarino dizendo dele coisas  que nem Maomé disse do toucinho.

Abreviando razões, a este tipo de desinformação  há que opor uma informação que colho de um meu meu artigo “A Guerra Colonial na Sic., O Diabo” 08/02/94, que transcrevo integralmente:

“O debate do passado do dia 26, sobre a Guerra Colonial na Sic, degenerou em divórcio litigioso, no tribunal da opinião pública. De um lado, com esgares trocistas, queixas sem fim, o major Tomé em tiradas tribunícias. Do outro, com porte educado e atitudes calmas oficiais de carreira e um miliciano que combateu como voluntário em África.

Dos depoimentos prestados, destacou-se o do capitão-comando Francisco Van Unden, que afirmou “sentir-se mais português, mais realizado, mais cristão” em presença do esforço português nos antigos territórios ultramarinos, na vanguarda da maioria dos  países africanos independentes. Do coronel Rodrigo da Silveira recordo a declaração de ter tido muita honra em combater no Ultramar. As intervenções dos generais Ricardo Durão e Duarte Silva atestaram a dignidade de soldados ao serviço da Grei e da sua e da sua identidade  nacional. Foram eles próprios e a época que viveram, e não figuras do “cartoon” de um jornal parisiense: “Tu eras estalinista  em 1950. Não fui eu, era a época”.

De permeio, José Arruda, presidente da Associação de Deficientes das Forças Armadas, compreensivelmente revoltado com um regime que o mobilizou para a guerra de Moçambique, sua terra de nascimento e de criação, de que saiu estropiado para o resto da vida.

Compreende-se, de resto, em frágil e fugaz de penoso sofrimento, Jesus Cristo revoltou-se e contra o próprio Pai! Por direito jurídico e força moral, adquiriu o furriel miliciano Arruda a nacionalidade portuguesa que foi negada a pretos que nasceram em terras  e aí combateram com a maior bravura em nome de Portugal do Indico que e aí combateram  com a maior bravura, em nome de Portugal e que brancos desertores ostentam no Bilhete de Identidade. Essa denegação levou denodados soldados guineenses a pelotões de fuzilamento e ao remorso dos que só tardiamente terão compreendido que ser português terão compreendido que ser português devia ter sido devia ter sido uma questão de sentimento pátrio e não de cor da pele.

Racismo mais horrendo, este, para uma nação e um povo de que se deviam orgulhar de cinco séculos de convivência racial!

Uma referência muito especial à participação do tenente-coronel Vasco Lourenço , que na vida militar de capitão passou a general e de general. a major. Pois não é que segundo ele, alguns elementos da Comissão Executiva do Monumento aos Combatentes do Ultramar queriam que nele figurasse “um soldado branco a espetar a baioneta na barriga de um preto! “

Desastrosamente, apela para o testemunho de Arruda (um elemento da referida comissão acima de qualquer suspeita), que o desmente com a veemência e a dignidade de um homem de honra  incapaz de se fazer cúmplice de uma falsidade.

Pagos para isso, porventura, oficiais que debandam do campo de batalha por divergências ideológicas, médicos que deixam de tratar os doentes por questões políticas ou professores que se negam a dar aulas por convicções  partidárias, deverão ser apontados como  escol de um nação e o exemplo das suas virtudes?

É do conhecimento público que nem sempre princípios nobres e atitudes  altruístas  estiveram na génese das reuniões dos capitães que antecederam o 25 de Abril.

Isto leva a pensar que esta data não deve ser tida, na verdadeira acepção do termo, como uma revolução mas como um movimento de oficiais do quadro permanente, oriundos da Academia Militar, dispostos a fazer abortar de armas na mão o perigo de serem ultrapassados nas promoções por oficiais milicianos a frequentarem cursos “à la minute” na Academia  Militar" (fim de citação).

Julgo ter deixado passos para impedir  a contra-informação de cidadãos que pouco tempo atrás ainda usavam cueiros, trazendo informação à colação de quem, como eu, viveu “in loco” estes trágicos acontecimentos a merecerem esta transcrição de Miguel Torga: “Recomeça… se puderes, sem angústia nem pressa e os passos que deres nesse caminho do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum futuro queiras só metade”. 

E muto menos um passado de  faúlhas para atear novas labaredas de fogo posto de ódios raciais como por exemplo a regressão às campanhas de Mouzinho na África portuguesa erigindo exemplos do combate de trincheiras da II grande Guerra Mundial como se tivessem passado em emboscadas e minas porque na guerra do ultramar os combates eram feitos com metralhadoras e outras armas mais sofisticadas.

Reza a história que durante as campanhas de Mouzinho em Moçambique foi o chefe Vátua Gungunhana capturado (1894) tendo sido enviado para os Açores com o seu séquito onde deixou enorme prol em miscigenação não seguida por nenhum outro povo europeu, acontecendo até, ao que se diz, que as mulheres belgas que seguiam  seus maridos em simples comissões de serviço para o Congo Belga quando grávidas iam ter os seus filhos à Bélgica. Em contrapartida, os portugueses que iam para os antigos territórios ultramarinos aí se fixavam vindo deles a aí viverem e a serem sepultados. Situação a que a descolonização pôs cobro fim ou tornou em excepção, passe a redundância, muito excepcional!

Num mundo de promessas por cumprir de amor e fraternidade de homens de diversas raças, credos e costumes resta o lenitivo, apenas, de saudades doces e acres dessas terras africanas que permanecem intactas e invioláveis no recôndito dos mais profundos sentimentos lusitanos. Para mim, duvidar disso é quase como duvidar que a terra seja redonda!

P.S.:O meu engano em apagar o texto fez com que as  inúmeras leituras que ele contabilizava na altura (68) tenham desaparecido.

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