“A memória é a consciência inserida no tempo” 
(Fernando Pessoa). 
Perante a apatia nacional, mais ou menos generalizada, sobre o que se passa na vida política portuguesa, admito uma quota-parte  nesta apatia, embora não pertença à legião dos que se demitem definitivamente, sem fé nem esperança,  das suas responsabilidade de portuguesismo, palavra em desuso actualmente! 
 
Tento saldar esta minha dívida de cidadão, protestando com a minha prosa, embora sabendo ser uma voz a reclamar no deserto da indiferença dos ricos e poderosos. Desta forma desejo apenas cumprir  o desígnio de não ser conivente, em citação de A. Einstein,  “de um  mundo lugar perigoso para se viver não por causa dos que fazem o mal, mas por causa daqueles que o observam e deixam o mal acontecer”.   
Num país pobre dito socialista, em que  “a maior desgraça de uma nação  pobre  é produzir  ricos em  vez de produzir riqueza” (Mia Couto),   uma pequena legião de nacionais dorme na rua e, um grande número  de nacionais passa fome enquanto políticos da Assembleia da República, por dez reis de mel coado, se empanturram no respectivo restaurante.
Ademais, vá lá gente entender os nossos caritativos governantes de olhos fechados ao que se passa à sua volta  sonhando em serem santificados como Santa Teresa de Calcutá dando abrigo farto a refugiados de países do continente africano que, por vezes, causam desacatos em território das cinco quinas, sem estarem fugidos de zonas do continente africano em estado de guerra. Em resumo, a caridade portuguesa devia passar por dar, prioritariamente, assistência condigna aos seus muitos sem-teto que  dormem ao relento acompanhados dos seus cães de estimação, verdadeiros e fiéis amigos, repartindo as suas migalhas com eles ou mesmo deixando de as comer se necessário para lhas dar. 
 
Quando se forma um partido político, sem ser para dar emprego a juventudes inúteis que se entretêm em festanças de multidões em disseminar o coronavírus, deve ele atender à miséria mais desgraçada,  a melhorar a vida dos remediados, a não enriquecer ainda mais os milionários deste país com fortunas multimilionárias nascidas à vista de  olhos cegos, ou simplesmente míopes, quais  tortulhos germinados em terrenos húmidos de desavergonha nacional. 
Como tal, caem em descrédito partidos políticos criados para dar trabalho bem remunerado a quem na vida pouco ou nada sabe fazer a não ser vender a alma ao diabo a troco de benesses espúrias. Mas mesmo que eu fosse um dos numerosos mentirosos que juram a pés juntos não estarem ao serviço da política para dela se servirem , a minha condição de velho de 89 anos preocupado com a sua honra pessoal não me permitiria  tal condição  atribuindo-me apenas a possibilidade de emitir opiniões cíticas de cidadania ao serviço da "polis".
Ora, dessa posição não abdico por viver num país em que ainda  é permitido o direito à liberdade de expressão, ainda que, por vezes,  condicionada pelos poderosos que têm a faca e o queijo dos media nas mãos, apenas contrariados  pelas novas tecnologias que democratizaram  esse direito, tendo eu  a obrigação de honrar a memória de meu avô materno, José Pereira da Silva, presidente da Câmara Municipal do Porto  (1927)  e de meu falecido sogro, Jerónimo Carlos da Silveira,   tenente coronel médico,  com o reconhecimento público de valorosos  serviços prestados à Pátria  (outra palavra caída em desuso) com a comenda  da Ordem Militar de Aviz e a insígnia  de Cavaleiro da Ordem dos  Templários.
 Eu apenas  desejo continuar  a ser  recordado, como até aqui,  como um homem honrado na modéstia da minha vida por meus alunos de uma docência de 18 anos  na saudosa Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque de Lourenço Marques e outros tantos por outros locais dos ensinos secundário, médio e universitário públicos em que lecionei.
São estas teias que, para além de fontes documentais, que a memória teceu  em mim e nelas me enreda,  enquanto a  memória me permitir, desejando-as eu  perpetuadas em minhas gerações presentes e futuras consanguíneas dignas  de seus avoengos.

 
 
 
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