sábado, 12 de setembro de 2020

"Ou nos unimos ou estamos condenados"

Há poucos dias, António Guterres, Secretário-geral da Organização das Nações Unidas, dirigindo-se ao mundo, recordou o que bem sabemos, o que que não podemos deixar de saber, mas que incompreensível e desastrosamente continuamos a fazer de conta que não sabemos: a séria possibilidade de extinção da nossa espécie, caso teimemos em destruir a Terra.

Temos sido peritos a extinguir outras espécies animais e vegetais, sem que isso nos traga problemas de consciência. E, mesmo constatando as consequências devastadoras a chegar à nossa porta, somos incapazes de mudar seja o que for de substancial e de reivindicar a mudança por parte daqueles que têm efectivo poder para a concretizar. É com a maior leviandade que encaramos o nosso fim, que encerramos o capítulo da existência humana, que abdicamos do futuro. 

Recupero as palavras de António Guterres:
“Ou nos unimos ou estamos condenados. Estamos a enfrentar um desafio dramático com a covid-19. Mas este desafio terrível, que causou grande sofrimento e teve um impacto devastador nas economias e sociedades, é uma oportunidade. Precisamos de reconstruir. Precisamos de investir massivamente na reconstrução. Ou reconstruímos o mundo como estava, o que é um grande erro, devido às fragilidades do mundo, ou podemos reconstruir economias e sociedades mais inclusivas e sustentáveis. É por isso que recomendamos investimento massivo em tecnologias verdes, em indústria verde, em energia verde. Precisamos de ter justiça climática, ou seja, energia verde cria três vezes mais emprego do que investir em energia de combustíveis fósseis. Mas ao mesmo tempo ter medidas sociais e económicas que respondam às necessidades das pessoas afectadas pelas transformações da sociedade, nomeadamente a acção climática, e que fazem desaparecer os seus empregos.”
Este, sim, é um problema de cidadania: o dever ético que temos de cuidar do mundo (fixo-me na ideia de "amor ao mundo" de Santo Agostinho, retomado por diversos filósofos alemães do pós II Grande Guerra) precisa de ser ensinado nas escolas. Mas com base em conhecimento verdadeiro, trabalhado de forma honesta, e no exemplo empenhado.

Sem a interferência da sociedade - que balança, ao ritmo das notícias passageiras, entre a indignação superficial e a permissividade laxista -, dos interesses financeiros - que sabem bem como manipular tudo e todos em seu favor, incluindo o que entra na currículo e se faz nas escolas - e da política que , mesmo em regimes democráticos, se subordina ao momento, sem capacidade de olhar além do partido, da eleição. 

A escola, só a escola, com os seus professores e alunos, poderá fazer a diferença. Falo de uma escola capaz de assumir, com inteireza e coragem, o "valor de educar", na expressão do filósofo Fernando Savater.

1 comentário:

Carlos Ricardo Soares disse...

Mas há que acentuar que escolas há, e pode haver, muitas e cada partido, confissão religiosa, sindicato, clube, associação, movimento, empresa ou grupo de empresas, pode abrir e desenvolver a sua escola, os seus laboratórios, etc., como aliás vem acontecendo nos regimes democráticos. A questão das equivalências e da homologação dos títulos de habilitação académica, é outra questão.
Relativamente à escola Pública tudo é diferente. A escola pública é/deve ser/tem de ser uma escola diferente cujo estatuto, meios e fins estão subordinados a princípios e a enquadramentos que tendem a fazer dela uma escola para todos, sem deixar de ser uma escola de excelência e sem ser uma escola tendenciosa, aberta a qualquer intrusão dos grupos acima referidos, ou controlada por agentes culturais e económicos sem a necessária creditação pedagógica e científica.
A escola pública é a única que deve e pode garantir uma educação e uma instrução para os valores da ciência, incluindo as sociais, humanas e económicas, garantindo, ao mesmo tempo, que não está ao serviço de facções, seitas, empresas, ou poderes políticos, autárquicos, sindicais, associativos, ou outros.
Os professores devem estar cientes deste seu estatuto muito complexo e exigente de responsabilidade e de poder para recusarem e impedirem que façam deles um elo da cadeia de transmissão dos poderes políticos e dos mercados da atenção.

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