segunda-feira, 8 de outubro de 2018

O Destino na música e na ciência do século XIX

MÚSICA E CIÊNCIA

MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR
EM PARCERIA COM A AMEC | METROPOLITANA

DEZ CONCERTOS/CONFERÊNCIA . CINCO UNIVERSIDADES . CINCO POLITÉCNICOS

Orquestra Académica Metropolitana

Terça-feira, 16 de outubro, 15h00, Auditório do Instituto Politécnico de Tomar

P. I. Tchaikovsky Sinfonia N.º 5, Op. 64

Destino na música e na ciência do século XIX 
Conferencista Carlos Fiolhais
Maestro Jean-Marc Burfin

Resumo da palestra antes do concerto:

A bem conhecida 5.ª Sinfonia de Beethoven, estreada em 1808, tem o nome de Sinfonia do Destino. Oitenta anos mais tarde o compositor russo Piotr Illitch Tchaikovsky compôs e estreou, no dia 17 de Novembro de 1888, vai fazer agora 130 anos, em São Petersburgo, a sua 5.ª Sinfonia. Num apontamento de trabalho escreveu. “1.º andamento, introdução. Submissão total perante o destino, ou o que é a mesma coisa, perante os desígnios insondáveis da Providência”. A sua sinfonia anterior, a 4.ª, que tinha estreado dez anos antes, também é conhecida por Sinfonia do Destino, pelo que revisitava o mesmo tema. A fanfarra da 4.ª de Tchaikovsky faz lembrar os compassos iniciais de Beethoven, a imagem musical do destino que bate à porta. Precedendo de pouco a sua 4.ª Sinfonia, quis o destino que o compositor, que era homossexual, se tivesse cruzado com duas mulheres que lhe marcaram a vida: com Nadezhda von Meck, que, sem nunca se encontrarem, o sustentou durante 13 anos (embora anonimamente o autor dedicou-lhe a 4.ª Sinfonia), e com Antonina Miliukova, com quem casou em 1877 para logo se separar ao fim de dois meses. A vida de Tchaikovsky foi marcada por períodos depressivos, como se a infelicidade fosse o seu destino. A última sinfonia, a 6.ª (ou Patética) é considerada o seu Requiem pois o autor morre escassos dias depois de ela, em 1873, ter sido tocada pela primeira vez.


Se o tema do destino perpassa na música do século XIX (a ópera de Verdi de 1862 intitula-se “A Força do Destino” e a 6.ª sinfonia de Mahler, de 1906, foi chamada Trágica), a ciência do mesmo século tratou o tema do destino de uma nova maneira. A mecânica de Newton, criada no século XVII, era determinista: dadas as condições iniciais e as forças podia-se prever tudo o que ia acontecer. Mas tal descrição revelou-se impossível para sistemas complexos, formados por muitas partículas. Ora, no século XIX, desenvolveu-se um novo ramo da física, a termodinâmica, que, embora abandonando uma previsão pormenorizada, permitia fazer previsões para esses sistemas. Introduziu numa nova grandeza, a entropia, que, em sistemas isolados, só pode crescer. Entropia significa desordem, isto é, os sistemas abandonados a si próprios caminham para o caos.  Essa conclusão levou, no tempo de Tchaikovsky, a formular a teoria da “morte térmica” do Universo. A teoria estava, porém, errada. E também estavam errados aqueles que tentaram aplicar a lei da entropia à vida. Nos seres vivos desenvolve-se ordem por não serem isolados. E a música é uma das mais extraordinárias manifestações da ordem.

Carlos Fiolhais*
*Professor de Física da Universidade de Coimbra


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