sábado, 21 de abril de 2018

OS CAFÉS HISTÓRICOS NA EUROPA: O SEU LUGAR NA SOCIEDADE


Minha intervenção de hoje no Encontro Internacional de Cafés Históricos no Café de Santa Cruz em Coimbra:

O ensaísta Georges Steiner escreveu em "A Ideia de Europa" (Gradiva, 2005): "A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes vão da cafetaria preferida de Pessoa, em Lisboa, aos cafés de Odessa frequentados pelos gangsters de Isaac Babel. Vão dos cafés de Copenhaga, onde Kierkegaard passava nos seus passeios concentrados, aos balcões de Palermo (...) Desenhe-se o mapa das cafetarias e obter-se-á um dos marcadores essenciais da 'ideia de Europa' "No Ano Europeu do Património Cultural celebramos os cafés históricos como locais patrimoniais da cultura.

Portugal é, sempre foi, parte da Europa e a confirmá-lo está o facto de aqui existirem alguns dos mais belos cafés históricos - de que é exemplo o magnífico Café de Santa Cruz de Coimbra que nos acolhe, hospitaleiro  como sempre.

Steiner enfatizou o papel dos cafés como lugares de cultura: a ideia de Europa é eminentemente uma ideia cultural. Em cafés como o de Santa Cruz, no encontro convivial das mentes  que a cafeína se encarrega de estimular, fez-se, faz-se cultura.

Há não só uma história que liga os europeus mas também, enraizada profundamente nessa história, uma arte (que se espraia em diversas formas que vão da literatura à música, passando pelas artes visuais e artes de palco) e uma ciência europeias, uma arte e uma ciência de que os cafés foram muitas vezes, na vida urbana, cenários propícios. Recordar o papel dos cafés europeus como lugares de cultura é também projectá-los para o futuro, porque a Europa só terá futuro se, com base na sua rica herança, alimentar um projecto cultural comum.

António Sousa Ribeiro, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Daphne Cordeiro, professora na Universidade Fluminense e no ISCTE  e Fernando Franjo, jornalista espanhol e autor do livro "50 Cafés Históricos de España e Portugal" são, como eu, frequentadores de cafés. Eles trazem-nos aqui os seus depoimentos sobre o passado, o presente e o futuro dos cafés, com base nas  suas experiências à mesa dos cafés.

Os cafés continuam a  ser locais de cultura, numa sociedade com novos meios de comunicação, designadamente à distância? A dinâmica social das cidades ainda passa pelos cafés? Na sociedade de consumo de hoje o que pode levar os consumidores aos cafés?  E o que é que eles podem de lá levar?

1 comentário:

Anónima disse...

"É nosso hábito peculiar fazermos perguntas assim. Estas são, sob vários aspectos, sintomáticas da atmosfera da sensibilidade actual. Tendemos a pôr questões mais vastas e intrinsecamente destrutivas. Trata-se de uma espécie de radicalismo muito particular."

Steiner, George: "Sobre a Dificuldade e Outros Ensaios", p. 253, Gradiva

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