sábado, 14 de abril de 2018

A "narrativa" - 1. "Não é preciso uma escola ou um professor para adquirir conhecimento"

Em texto anterior, reproduzi parte de uma entrevista a Alberto Rojo, um professor de música espanhol que tem analisado de uma maneira muito inteligente e profunda a orientação das políticas de ensino. Nessa análise denuncia o que designa por "gurus da educação", pessoas que, em geral, não têm formação em pedagogia, ensino, aprendizagem ou cuja formação nessas áreas é muito superficial mas que, não obstante, pronunciam-se muito afirmativamente sobre elas. 

É frequente esses "gurus" serem académicos ou práticos bem sucedidos e terem ligações a órgãos internacionais com uma forte palavra na orientação do currículo escolar e, em simultâneo, a fundações e a empresas da mesma abrangência. Passeiam-se pelo mundo, têm voz nos meios de comunicação social. O seu discurso é muitíssimo atraente e concertado: todos dizem praticamente o mesmo e do mesmo modo. Mobilizam, de facto, a opinião das pessoas desavisadas.

São infindáveis os exemplos. Encontrei hoje mais um traduzido numa entrevista a alguém que está ligado a uma empresa, sendo a iniciativa é de outra empresa. É a escola, os professores e os alunos ao serviço das empresas. 

Transcrevo o que se refere aos professores e também ao conhecimento, os destaques são meus.
O papel do professor tem de mudar, já não se trata do que ensinamos e como ensinamos é que somos na sala de aula. 
Até agora os professores trabalhavam num contexto de escassez de conhecimento. Mas hoje já não é assim. O conhecimento é um produto, é gratuito está em qualquer dispositivo com acesso à internet
Não é preciso uma escola ou um professor para adquirir conhecimento. 
O que é, então, um professor do século XXI? Eu defendo que um bom professor é um instrutor de resultados: instrui os alunos a alcançar os seus melhores resultados. Um bom professor entende o mundo de onde vêm os estudantes e o mundo para o qual os deve preparar. Instrui constantemente os alunos a alcançarem padrões mais elevados.

4 comentários:

Anónimo disse...

Num mundo sem regras, sem leis, sem escolas e sem professores, sem dúvida que as pessoas continuariam a aprender. Toda a gente sabe que para ganhar muito dinheiro não é preciso ser doutor. A pessoa pode ter jeito para dar pontapés numa bola ou para roubar a torto e a direito. A questão é saber se num mundo novo de anarquia e guerras as pessoas serão mais sábias e felizes do que atualmente!

Carlos Ricardo Soares disse...

Cada vez vai ser mais inviável pensar e, muito mais, dialogar e, pior ainda, atingir profundidade de conhecimento e de inteligibilidade que não seja em contexto bélico ou de hostilidade.
Mas, acreditando em que, para grandes males grandes remédios, e nisso a história é mestra, o monstro devorador e destruidor nunca morre e chega a um ponto em que, lhe resta devorar-se a si próprio. A autofagia do mal é, assim, um bem. Assim terá começado a moral e a religião...Isto é o oposto do que pretendem as religiões, mormente a judaico-cristã.

Carlos Ricardo Soares disse...

E vale acrescentar que pensar não faz bem e pensar muito pode fazer muito mal, dependendo daquilo que se pensa e do objetivo e do resultado...
Quanto ao conhecimento, a questão nem chega a ser uma questão e a resposta é óbvia e irrelevante.
Em todo o caso, conhecendo eu pessoas analfabetas, que nem assinam, que viveram mais de oitenta anos rodeadas de livros e de jornais e de televisões e que foram à igreja quase todos os dias, mas que nunca aprenderam a escrever o aeiou nem a ler uma palavra, embora saibam fazer contas e falar com espantosa riqueza de vocabulário não erudito, interrogo-me se algum dos seus filhos, ou netos que, aos seis anos de idade já escreviam e liam, o teriam conseguido sem a escola e sem professores. Há imensas coisas aparentemente simples que só se aprendem se forem ensinadas ou, pelo menos, que têm diminuta probabilidade de serem descobertas/inventadas/imitadas/trabalhadas por iniciativa individual.

Anónimo disse...

Parece-me que até a linguagem do "saber ler e escrever" está esgotada. O pensamento está esgotado. As pessoas também. O Bem encolhe-se de frio e o Mal transvia-se porque sem limites. A Moral já não se ensina porque ninguém sabe o que é. Subsiste vagamente em conteúdos de Formação Cívica e, como diz o outro, é inerente à intuição...
Os produtos que hoje se vendem como salvadores de todos os males não passam de recriações do que foi primordialmente inventado. Tudo já está avançadamente obsoleto. Nados-mortos.
O esforço continua a ser o da sobrevivência.

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