terça-feira, 20 de março de 2018

O TEMPO E OS TEMPOS DA SAGRAÇÂO:


Minha apreesntação hoje na UTAD, Vila Real, da "Sagração da Primavera" de Igor Stravinsky, antes da Orquestra Metropolitana de Lisboa a tocar:

UMA REVOLUÇÃO NA MÚSICA E UMA REVOLUÇÃO NA CIÊNCIA


Na Primavera de 1913, mais precisamente em 19 de Maio de 1913, aconteceu a estreia no Teatro dos Campos Elísios em Paris de A Sagração da Primavera, um bailado do compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971) com coreografia do bailarino Vaslav Nijinski e cenografia e figurinos do arqueólogo e pintor Nicholas Roerich. A peça foi dançada pelos famosos Ballets Russes, dirigidos por Sergei Diaghilev. Tanto a música como a dança eram inovadoras. A estreia foi tão tumultuosa, com uma reacção tão agressiva de um certo sector do público, que muitos historiadores situam aí o nascimento da música moderna. O tema era a eclosão da Primavera, um tema universal da música, mas os sons não eram reminiscentes das harmonias de Vivaldi, mas sim radicalmente novos, com ritmos tão variados como inesperados, percussões em dissonância, compassos repetidos mas cruzados com outros, que transmitiam a ideia de uma Primavera que nascia brutalmente com o sacrifício final de uma jovem que dançava até à exaustão. A inspiração, como o subtítulo Quadros da Rússia pagã indica, vinha de ancestrais mitos da Rússia, uma terra onde a Primavera tudo transfigura.

A música de Stravinsky dialogava com as artes cénicas e com as artes visuais, numa obra de arte que se pretendia total. O compositor foi contemporâneo de Pablo Picasso (1881-1971), que não só o retratou como foi seu colaborador ao fazer as decorações e figurinos do ballet Pulcinella (1920). Dois “monstros sagrados” de artes diversas foram, portanto, simultâneos no espaço e no tempo. E é também curiosa a simultaneidade deles com Albert Einstein (1879-1958) e Niel Bohr (1885-1962), os dois nomes maiores da física do século XX, o primeiro autor da teoria quântica e o segundo do primeiro modelo atómico no quadro da teoria quântica. Quer dizer, arte e ciência sofreram revoluções simultâneas no início do século XX. Os primeiros trabalhos de Bohr sobre o átomo – onde apresenta os electrões a girar em torno do núcleo e os fotões a surgirem quando os electrões saltavam - foram publicados precisamente em 1913, quando A Sagração da Primavera foi pateada. Tal como a obra de Stravinsky na música, o modelo de Bohr foi uma Primavera na ciência. De início estranhou-se, mas depois entranhou-se, para usar uma expressão de Fernando Pessoa, que também viveu nesse tempo. Ao ouvirmos esta versão para percussão da “Sagração da Primavera”, por um grupo da Orquestra Metropolitana de Lisboa, talvez um ouvido atento consiga encontrar aqui e ali uma representação musical das excitações atómicas de Bohr. O Universo, no domínio do muito pequeno, dança ao som da sua própria música.


2 comentários:

Anónimo disse...

Outra forma de dar as boas-vindas à Primavera são estas quadrinhas singelas, que respiguei do cante alentejano e das minhas memórias das atividades recreativas a que assisti num centro de juventude de franciscanos:

Primavera das lindas flores
São bonitas mas não iguais
Primavera das lindas flores
São bonitas mas não iguais

Primavera vai e volta sempre
Mocidade já não volta mais
Primavera vai e volta sempre
Mocidade já não volta mais

cíclico disse...

https://www.youtube.com/watch?v=MqcbSXfjL_A

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