Na cidade do interior onde vivi até vir estudar para Coimbra havia (e ainda há) duas papelarias/livrarias. Uma tinha os livros muito alinhados em estantes de madeira atrás do balcão que eram interrompidas por uma porta que dava acesso a uma divisão onde o dono ou empregado entrava para ir buscar o pedido; na outra não me lembro de ver livros à mostra, estavam numa divisão a que uns poucos degraus davam acesso. Na primeira papelaria/livraria nunca passei do balcão, mas na segunda, certo dia, fui convidada a entrar para ir buscar mais um volume da História da Filosofia de Nicola Abbagnano, que eu comprava ao ritmo das minhas parcas economias. Este foi o meu primeiro contacto com uma livraria digna desse nome.
Fotografia retirada daqui. |
Percorrendo de memória esse corredor urbano não consigo identificar mais nenhuma livraria além da Bertrand, no Largo da Portagem, e, lateralmente, a primeira Minerva; na ramificação das ruas da baixa havia a livraria alfarrabista de Miguel Carvalho, que fecha agora.
Não estou a ver mais nenhuma por ali mas posso estar enganada, até porque deixei, praticamente, de ir à baixa. Custa-me ver a transformação das livrarias (e também das lojas de fazendas, dos cafés,...) em pontos de venda de souvenirs (penso que esta palavra já não se usa): os galos de Barcelos, as toalhas bordadas com corações de Viana, as Nossas-Senhoras de Fátima, os produtos de cortiça de uma variedade infinita, e os bilhetes-postais com feitio de azulejo português não substituem os livros antes agravam a sua falta, são pensados para uma leva de "turistas" que passa, está agora aqui mas, quando menos se espera, debanda para outro lado.
Isto na Baixa, avançando pela cidade, lembro-me de outras livrarias a abrir e a fechar: a Quarteto, a Minerva... que frequentava a miúdo e com gosto.
Não vou a "hipermercados" de livros, nem a livrarias renovadas ao estilo de "supermercado", nem compro livros online. Resta-me, para livros novos, a encomenda à porta e a ida esporádica à Almedina do Estádio; para livros menos novos, os alfarrabistas, em espaços minúsculos, bem como os mercados. É nos mercados que faço mais compras e a melhores preços porque, dizem-me os vendedores, toda a gente se quer desfazer dos livros, não valem nada!
No verão passado espreitei para dentro de uma das papelarias/livrarias da minha pequena cidade e ao vê-la igual ao que era há décadas respirei de alívio. Como poderia adivinhar que as livrarias de Coimbra, que eu achava grandiosas, não lhe sobrevivessem?
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