A ciência não é só dos cientistas. A ciência é de todos os
cidadãos. Mas, para que todos possamos ter acesso à ciência desenvolvida pelos
cientistas, é necessário a mediação de divulgadores e comunicadores de ciência.
Martin Rees, astrofísico de renome mundial, é um dos
incontornáveis divulgadores de ciência do nosso tempo. Astrónomo Real da
Grã-Bretanha e ex-presidente da Royal Society de Londres (a mais antiga
sociedade científica do mundo), Rees escreveu vários livros de divulgação
científica entre os quais o popular “O Nosso Habitat Cósmico”, publicado em
Portugal pela Gradiva.
Em Outubro passado, a Gradiva publicou na sua prestigiada
colecção “Ciência Aberta” mais uma obra de Martin Rees: “Para o Infinito –
Horizontes da Ciência”. Parece-me pertinente transcrever aqui o início da
introdução deste livro: “A ciência está a interferir mais do que nunca nas
nossas vidas. Muitos assuntos políticos fulcrais – energia, saúde, ambiente,
etc. – têm uma dimensão científica. Na verdade, as escolhas que os nossos
governos fizerem nas próximas décadas podem determinar o futuro da Terra. O
século XXI é o primeiro na História da Terra em que uma espécie, a nossa, tem o
poder de determinar o destino de toda a biosfera. A ciência não é apenas para
os cientistas: as decisões sobre o modo como ela é aplicada devem resultar de
um debate público alargado. Mas, para que isso aconteça, todos nós devemos ter
uma «ideia» dos conceitos-chave da ciência. Além da sua importância prática,
estes conceitos devem ser parte da nossa cultura comum. Os grandes conceitos da
ciência – ou, pelo menos, umas «luzes»
destes – podem ser transmitidos através de termos não técnicos e imagens
simples.”
Com uma linguagem muito acessível, ajudada por uma boa tradução
do original inglês para o português feita por Maria de Fátima Carmo, Martin
Rees apresenta-nos neste livro vários aspectos da relação entre a ciência, os
cientistas, os políticos, o público em geral, entre outros assuntos como seja o
do próprio futuro da ciência. O livro é composto por quatro capítulos que resultaram
da transcrição de igual número de palestras, incluídas nas populares Palestras
Reith da BBC inglesa, que o autor concebeu e que foram proferidas em 2010. O
seu conteúdo continua actual e muito pertinente. Os quatro capítulos são: O
Cidadão Científico; Sobreviver ao Século; O Que Nunca Saberemos; Um Mundo em
Fuga. Cada um ocupa cerca de trinta páginas, que preenchem bons momentos de
leitura sobre assuntos que nos dizem respeito a todos. Reflexões lúcidas sobre
problemas que estão na agenda do nosso mundo actual, como sejam o aquecimento
global, ou o impacto da internet na nossa sociedade. Os quatro capítulos podem
ler-se independentemente um dos outros, pelo que a curiosidade do leitor guiará
a sua leitura.
Como escreve Martin Rees, a ciência, para além de nos
permitir ter noções que sustentam opiniões próprias sobre os maiores desafios
da humanidade, é uma fonte de prazer e de maravilhamento para toda a gente. Assim
também é com a leitura deste livro que aconselho a todos.
António Piedade
1 comentário:
Na esteira do parágrafo introdutório de António Piedade, e relembrando que o papel do professor na escola continua a ser essencial, apelo às mais altas personalidades, que superintendem este blogue, no sentido de que movam influências, junto do poder político centralizado no Terreiro do Paço, que levem à criação de uma disciplina que tenha por objeto a divulgação científica junto dos jovens. As disciplinas científicas tradicionais, como Física e Química, ou Biologia, continuariam a ter lugar nos currículos, mas perdendo o seu caráter obrigatório, e reorientando-se para um público-alvo de marrões, passe o jargão académico,sendo o acesso aos conceitos básicos da ciência, agora despojados da matemática que tanta gente tem afugentado de uma promissora carreira científica, garantido pela nova disciplina de noções básicas de ciência, a ser lecionada por bons comunicadores, aliviados de lastro científico, a bem do facilitismo e do obscurantismo!
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