sábado, 21 de março de 2015

Ciência e poesia

Há poesia na ciência e há ciência na poesia.

A propósito do dia internacional da poesia que se celebra hoje, dia 21 de Março, partilho quatro poemas em que a ciência está presente.

Do químico conimbricense João Paiva, professor na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, o poema “Densidade” publicado no seu livro “quase poesia quase química” (2012):

Quando me
centro em mim,
cresce a minha densidade.
Mais massa
no mesmo volume
das minhas possibilidades.
Cheio,
deixo de flutuar.

Da poetisa e professora de físico-química aposentada, Regina Gouveia, o poema “Silêncio Cósmico”:

Pudera eu regressar ao silêncio infinito,
ao Cosmos de onde vim.
no espaço interestelar, vazio, negro, frio,
havia de soltar um grito bem profundo
e assim exorcizar todas as dores do mundo.

Do escritor açoriano Vitorino Nemésio, do livro “Limite de Idade” (1972), o poema “Deutério moderador”:

Deutério moderador
(Para alguns água pesada)
De teus dedos me dirija
A reacção encadeada.
Que eu só acelero por Amor
Por morrer com Energia.
Não chores mais, flor do isótopo,
Que tudo isto é poesia
E tempestade num copo
De H2O+ bem comum:
Sem número de massas nem Z antes,
Que seu destino é nenhum.

E termino com o incontornável António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho, com o seu poema “Máquina do Mundo”, do seu livro “Máquina de Fogo” (1961):

O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto é matéria.
Daí, que este arrepio, este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,

deve ser um intervalo.

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