Artigo de opinião recebido de Victor Hugo Forjaz, Catedrático jubilado e Vulcanologia, a propósito do 1 de Março, dia da Protecção Civil:
 1 - Encontram-se na moda os dias comemorativos disto,daquilo e do etc. Alguns são úteis na medida em que servem para dinamizar compromissos, acelerar promessas e ressuscitar  evidências. Todos os anos participo, como voluntário, em diversos desses "dias", nomeadamente nas comemorações do Dia Da Terra -- o de 2014 ocorreu na Terceira e permitiu rever antigos alunos, presentemente  competentes docentes, conduziu a um  delicioso safari -- excursionista pelos vulcões da Praia da Vitória,  foi abrilhantando por declamações de discentes amantes da poesia de Nemésio  e encerrou com um glamoroso violino de uma distinta  aluna.O sucesso deveu-se a todos, evidentemente, incluindo os dirigentes da Escola. E tudo se passou sem o apoio de fundos Merkel, de partidos locais ou de empresas de  "poucos comes e muito, muito bebes". E  paguei  a SATA, que até  saiu a horas.
2 - O  Dia Da Protecção Civil ocorre a 1 de Março de cada ano. Em algumas regiões é aproveitado para exercícios, exibições, aulas, condecorações , etc, designadamente envolvendo jovens e políticos. Nos Açores, desde há anos,  passou a  data    sempre insípida, desinteressante, que  não recolhe lideranças em cada ilha, cheirando  a mofo e a defunto. Deveria ser dia  aglutinante  mas é detergente, poderia ser socializante mas é guêtista (de gueto , conviria que fosse demonstrativo  mas  tem programa  de catálogo de gelados.
 3 - Sob o ponto de vista tecnológico, a Protecção Civil  desenhada no pós-terramoto de 1980 evoluiu de uma forma notável. Modernizou-se em equipamentos  mas  desumanizou-se quanto a actuações. Andei por esses lados  até 1996, quando Vasco Garcia, reitor, sem aviso ou motivo ,  me demitiu por carta via contínuo reitoral .Daí em diante prossegui sozinho nestas  ilhas  mas melhor  integrado em outros  grupos no estrangeiro, aliás bem mais interessantes e competentes  (há males que vêm por bem -- diz o povo...). Os sucessivos governos investiram fortemente na  rede de comunicações  e  a universidade retribuiu  os chorudos  subsídios  da EDA/Sogeo  de Monteiro da Silva adquirindo  caixas e caixonas   de  computadores e  dezenas de  espaventosos ecrãs na associada  da EDA, a GlobalEda, então bem aflitinha. Cometeram-se espantosos erros científicos com a concordância politica da  Terceira.Talvez irreversíveis e de  dispendiosa manutenção.
4 - Enfim, um  pechinchinho  negócio  bem acima  de meio milhão que  foi bom para ambos. A GlobalEda vendeu uns dispendiosos "tarecos" informáticos  e o 3.º piso da casinha da universidade "virou" uma espécie de gabinete da  NASA do século XX, repleta de plasmas nas paredes e nas secretárias de ultimo modelo, paisagem que os políticos, pouco dados às ciências, adoram. Como os accionistas da "senhorial" EDA nada disseram porque hei de  objectar? Daqui se conclui que a Região se encontra muito bem equipada para vigiar  todo e qualquer tremor  ou tremorzinho que se aproxime ou "nasça" em território açoriano. Em países civilizados essa informação  não se guarda nas gavetas do omnipotente e omnipresente chefe, sendo   imediatamente colocada na internet  (tais como  epicentro, hipocentro, profundidades das ocorrências,  energia em Richter,  efeitos em Mercalli  incluindo isossistas, sentido do movimento vibratório,  correlação com falhas geológicas, comparação com situações anteriores, eventual  evolução, etc.,etc.
5 - Em  todos cursos de gestão de riscos que  frequentei ou em que colaborei, sempre existiu  um  apertado capítulo sobre comunicação e comunicabilidade. Desde novo aprendi a comunicar, adaptando-me subtilmente a cada  circunstância . Como comunicar e acalmar, se possível,  uma  população? Como resumir factos importantes e "desimportantes"  a políticos, militares e forças de segurança  ? Como trocar  opiniões com colegas de diversas áreas, etc,
Enfim -- um mundo apaixonante mas desconhecido das actuais equipas de protecção civil . Basta ler os  chamados  COMUNICADOS oficiais  .  Noticiam eventos sísmicos não sentidos, alarmando as populações.  Avançam com localizações imprecisas (por ex., 35 km a NE  de um lugar qualquer  e  depois   logo  afirmam que os  20 eventos só apareceram nos equipamentos….) . Lançam falsas esperanças (como  "estamos seguindo  a situação" etc, ou seja,  estão controlando o  incontrolável). Um dos mais recentes e tristes exemplos consistiu no enxame sísmico  localizado no bordo  oeste-nordeste da caldeira das Furnas, ou seja, em poucas horas, um cientifico com poder de comunicação deveria ter dito, em rádio ou TV,  o evidente , ou seja  --  que se estava  perante  sismos tectónicos, não vulcânicos e possivelmenmte correspondendo ao abatimento  natural de uma parte da grande caldeira.
6 - Enfim, depois de coleccionar  os últimos,  monótonos,  soturnos e  morfizantes  42 comunicadozinhos  sismológicos  da Protecção  Civil dos Açores, muito repetitivos, quase parecendo os de um gago  persistente,  para comemorar este Dia da Protecção Civil, ofereço-me para ensinar -- gratuitamente, claro -- os discípulos do  Dr.  Ricardo Barros , ainda   efectivo  Vice da PC, na sede da  ilha Terceira, a redigirem sensatos textos   com  elucidativos e  criteriosos mapas anexos destinados á comunicação social da Região Autónoma. De modo a vivermos sem agonias de momento. Os habitantes e os meus amigos merecem  e aguardam as alterações de vindouro governo.
 Victor Hugo Forjaz
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