sábado, 15 de junho de 2013

NA FRONTEIRA DO CONHECIMENTO SOBRE O COSMOS

Recensão primeiramente publicada na imprensa regional




“We live in a universe that is always changing, full of matter that is always moving.” 
Lee Smolin.

A Gradiva acaba de publicar «O romper das Cordas - Ascensão e queda de uma teoria física e o futuro da Física», de Lee Smolin, livro que nos descreve a evolução e o conhecimento físico contemporâneo sobre o Universo. Um relato invulgarmente lúcido sobre a aventura humana na compreensão do Cosmos.

«Esta história fala de uma busca de compreensão da natureza no seu nível mais profundo. Os seus protagonistas são os cientistas que se esforçam por alargar o nosso conhecimento das leis básicas da física. O intervalo de tempo que irei abordar — aproximadamente desde 1975 — é o do meu próprio percurso profissional como físico teórico. Poderá ser também a mais estranha e frustrante época na história da física desde que Kepler e Galileu iniciaram o nosso ofício, há quatrocentos anos.»

Esta é uma passagem da introdução deste livro fantástico escrito pelo prestigiado físico teórico Lee Smolin. O livro, intitulado «O Romper das Cordas», foi publicado entre nós no final de Abril de 2013 pela Gradiva, na sua colecção Ciência Aberta, nº 199, com o subtítulo «Ascensão e queda de uma teoria física e o futuro da Física». A edição original, «The Trouble with Physics», penúltimo livro do autor, foi publicada em 2006. Esta versão portuguesa foi traduzida por Daniel Tiago Alves Ribeiro e teve a revisão científica de Carlos Fiolhais.




Escrito de uma forma extraordinariamente acessível, este livro foi considerado como o melhor livro do ano por The Economist e Seed.

De facto, estamos perante um dos melhores livros de divulgação para leigos sobre a nossa melhor compreensão contemporânea do Universo. Um livro sobre a aventura da Física na descoberta das leis que descrevem e explicam o comportamento e as propriedades de tudo o que conhecemos, desde as partículas fundamentais até à expansão do Universo, desde o “Big Bang” até aos buracos negros. Um livro que nos permite entender o caminho percorrido desde Galileu até à Física contemporânea, com particular enfoque para a teoria das cordas.

Ao longo do livro Lee Smolin guia o leitor pela história da Física e descreve, numa linguagem impressionantemente clara, o estado actual desta ciência. Sublinhe-se que o autor explica de forma simples, mas rigorosamente, as várias teorias que emergiram principalmente ao longo do século XX, e como estas e os seus autores se relacionaram com a verificação experimental das suas previsões.

O autor, ele próprio um participante activo desta aventura humana, escreve na primeira pessoa. Esse tom pessoal (a física é feita por pessoas), repleto de uma emoção debruada por uma elevada honestidade intelectual, pano de fundo deste livro, acompanha o leitor através do relato e descrição dos sucessos e os insucessos da Física. «A história que escrevo» - diz-nos na introdução - «poderia ser lida por alguns como uma tragédia. Falando muito francamente — e deixando-me de rodeios —, nós falhámos. Herdámos uma ciência, a física, que tinha vindo a evoluir tão rapidamente, e durante tanto tempo, que muitas vezes era tida como exemplo do modo como as outras ciências deviam ser feitas. Há mais de dois séculos, até ao momento actual, a nossa compreensão das leis da natureza cresceu rapidamente. Mas hoje, apesar dos nossos esforços, o que sabemos com absoluta certeza sobre estas leis não é mais do que já sabíamos na década de 1970.»

Com este livro, Lee Smolin faz, de forma corajosa, um ponto da situação sobre o conhecimento da Física actual, indicando as dificuldades reais que os físicos enfrentam. Este também é um livro sobre como é feita a melhor e a pior ciência, sobre a distância entre as melhores e mais elegantes teorias e a sua verificabilidade com a realidade.

Numa época em que a ciência possui o maior e mais complexo instrumento de experimentação sobre a natureza da matéria (o grande acelerador de partículas do CERN), a leitura deste livro permite que os leigos compreendam o que se está a tentar descobrir e porque é que se estão a fazer determinadas experiências e não outras.

É um livro sobre o dia-a-dia e o futuro da Física contemporânea, cuja leitura se recomenda para uma melhor cidadania.

António Piedade

1 comentário:

José Batista disse...

Falhámos: na política, na economia, na física e... na escola. Ou será que falhámos em todas porque falhámos na escola? Ou falhou alguma coisa ou muitas coisas antes da escola? É (principalmente) a sociedade que faz a escola ou é a escola que (fundamentalmente) faz a sociedade?
Ou o falhanço é aparente e, de forma mais ou menos extraordinária, havemos de (brilhantemente) nos redimir? Quem nos salva?
Salvamo-nos?

Bom é pensarmos que, corra melhor ou pior, pela nossa mão não nos havemos de... suprimir.
Mais vale optar pelo optimismo.
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