sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Ocidente?
Um dos impensados de hoje é a maneira como se usa a expressão "ocidente". Basta olhar para um mapa para se ver que o termo não pode estar a ser usado com um mínimo de senso geográfico, pois toda a África, por exemplo, está no mesmo meridiano da Europa. Porém, quando se fala da filosofia ocidental, por exemplo, ou da cultura ou história ou sociedade ou economia ocidentais, não se tem em mente a filosofia, cultura, história, sociedade ou economia africanas -- que existem, com tanto direito a existir quanto as europeias. Além disso, toda a América do Sul pode reivindicar ser tão ocidental quanto a América do Norte, mas ao falar do ocidente inclui-se geralmente a última, mas não a primeira. Para piorar ainda mais a confusão geográfica, uma parte substancial da filosofia e ciência ditas ocidentais nasceu na Grécia da antiguidade, grupo de cidades-estado que estão tanto no médio-oriente quanto países como os actuais Irão ou o Iraque.
Esta confusão geográfica oculta certamente um eurocentrismo desagradável precisamente porque não chama os bois pelos nomes. Faz-me lembrar as pessoas de pendor racista que dizem que as pessoas negras são pessoas de cor (e os brancos, são transparentes?). Quando as pessoas falam de "ocidental" querem geralmente dizer "europeu": querem dizer que se trata do tipo de civilização e cultura que é herdeira da civilização e cultura europeias. Acho que era mais honesto chamar as coisas pelos nomes. Talvez até pudesse contribuir para se compreender que ao longo da história da humanidade houve muitas outras civilizações. Acontece apenas que a europeia foi a primeira a tornar-se planetária, por várias razões diferentes -- nem todas boas, e por vezes contraditórias.
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8 comentários:
No fundo, uma expressão tão redutora como o Orientalismo do Said.
Ola,
Subscrevo. E' arriscado tentar dar contornos precisos a um conceito vago, mas penso que mais do que Europa, o termo designa a Europa ocidental e exclui a oriental.
Dito isto, ao escrever este comentario ocorre-me que eu mesmo utilisei o termo da forma (justamente) criticada num comentario postado hoje no De rerum...
Boas
No fundo a palavra "Ocidente" remonta para esse eurocentrismo, atualmente não tem esse carácter, apenas descodifica uma serie de ideias relacionadas com a sociedade Europeia, aquela que povoou grande parte do "seu" ocidente (América).
Ocidental é apenas um termo, não é geográfico.
*Branco é a ausência de cor, preto é o conjunto de todas as cores. O branco reflete e o preto absorve, porém as pessoas nem são brancas nem pretas, são mais ou menos cobertas por pigmentos de melanina.
Caro Marco Aurélio, ajude-me
O branco de qualquer objeto resulta da reflexão de todas as radiações luminosas a que o olho humano é sensível (as radiações do espectro visível: Violeta, Anil, Azul, Verde, Amarelo, Alaranjado, Vermelho). Do mesmo modo, o preto de qualquer objeto resulta da absorção do conjunto de todas as radiações visíveis que nele incidem, pelo que não há reflexão de qualquer radiação cromática (não há qualquer cor).
Assim, branco pode definir-se como a soma de todas as (diferentes) radiações cromáticas, isto é, como a soma de todas as "cores". Em oposição, o preto pode definir-se como a ausência da emissão de qualquer radiação cromática a partir de um dado objeto, ou seja, como ausência de cor.
Julgo que foi assim que aprendi há longo tempo nas aulas de física do ensino secundário, em que se fazia uso do disco de newton.
Agora, se tivermos tinta de uma dada cor, esse material absorve todas as radiações, excepto a que reflete - a cor que vemos. Se adicionamos porções idênticas de tintas das restantes cores ficaremos com uma mistura de pigmentos em que cada um reflete uma cor - a cor que tem - e absorve as restantes. Mas a cor refletida por cada pigmento é absorvida por todos os que não são dessa cor, donde resulta que, da mistura total, não há reflexão de qualquer cor, isto é, essa mistura é preta.
Donde, a soma de tintas de todas as cores originar um material que tem... ausência de cor.
Muitos dos conceitos (não só os quotidianos mas também científicos) são historicamente relativos, outros são relativos geograficamente e alguns são ambas as coisas. O importante, penso eu, é que nos entendamos quando os utilizamos. Para isso devemos também ter sempre presente que o significado das palavras depende ainda da “constelação mental” de quem as profere ou escuta.
Há muitas civilizações e culturas, algumas praticamente já desaparecidas, e, embora em termos algo simplistas, há hoje quem defenda o relativismo cultural (“todas as culturas têm o mesmo valor”), por oposição ao “eurocentrismo” que tem a cultura dita europeia ou ocidental como referência ou modelo, o que lhes permitirá avaliar todas as outras.
De qualquer modo, não sendo impermeável, a cultura ocidental absorveu já e continua a absorver muito de outras culturas que têm sido estudadas. Por outro lado, é um facto que a Ciência e a Tecnologia, herdeiras principalmente da Antiguidade Grega e do Iluminismo, são hoje claramente hegemónicas no mundo globalizado em que vivemos – para o bem e para o mal.
Percebo as suas dúvidas, porém acho que neste caso se trata de melanina, não de cores, de maior ou menor presença da mesma na pele das pessoas.
Mas na escola aprendi que se juntasse as três cores primárias (Azul Ciano, Magenta e Amarelo Canário) dava Castanho, o que sim, é mais parecido com as pessoas negras.
De qualquer das forma não são as cores que são discutidas, mas os conceitos que lhes estão associados. E isso é algo que não se muda de um dia para outro.
MLK lutou pela igualdade e essa ainda chegou a todo o lado. Ocidentalisses...
Sobre a melanina: a melanina é um pigmento escuro que faz parte da pele de todas as pessoas (que não sejam albinas). Se a concentração de melanina é maior, a pele é mais escura. As pessoas pretas têm a sua pele muito rica em melanina, como acontece com os nativos de África. Se a concentração de melanina é (muito) baixa, as pessoas têm a pele mais clara, como acontece na Europa do Norte. Isto tem muita importância: nas zonas equatoriais a insolação é muito intensa, pelo que há incidência de grande quantidade de radiação sobre a pele. Esta radiação, em excesso, é potencialmente cancerígena. Ora, a melanina tem a capacidade de absorver radiação protegendo as células do corpo do efeito deletério do excesso de radiação. A norte, a radiação solar é muito "oblíqua", isto é, é muito menor e não há, por isso, necessidade biológica de produzir muita melanina, pelo que as pessoas têm pele "branca". Mas a natureza vai trabalhando de acordo com as condições, e sem pressas: uma vez que nas pessoas africanas é sempre preciso muita melanina, o mecanismo da sua produção foi ativado em permanência pela evolução. Já as pessoas das regiões temperadas, se a insolação é alta, como no Verão, produzem mais melanina e ficam mais morenas, e se a insolação é baixa ou se as pessoas se cobrem com muita roupa a pele deixa de ser estimulada pela própria luz e produz menos melanina, pelo que as pessoas ficam mais brancas.
Portanto, a cor da pele, como muito bem diz, é apenas uma das muitíssimas características em que as pessoas podem diferir. Sabia-o MLK, e muito bem no-lo ensinou. Sendo certo que há muitos indivíduos que, talvez tendo menos neurónios ainda do que melanina, depreciam os humanos de pele escura.
Mas, a natureza é ainda mais elucidativa: África é o berço da humanidade, e o homem aí só podia ser negro. Migrou para norte e tornou-se cada vez mais branco. Andou para leste e continuou branco. "Desceu" para a Austrália e escureceu (falo dos aborígenes...). Dos que viajaram para norte, alguns foram para o extremo oriental e, talvez pelo estreito de Bering, passaram para a América do Norte. Sempre branquinhos. Porém começaram a migrar para sul e a apanhar o sol da América central e começaram a acastanhar. Adaram mais para sul, para a América do Sul e ficaram ainda mais tisnados...
Viva por isso o ser humano mais ou menos clarinho, mais ou menos tisnado.
A humanidade somos todos nós, claro. E hoje, como a mobilidade e a miscigenação são cada vez maiores, a tendência pode ser para sermos cada vez mais "mulatinhos".
Pelo que não vale a pena portarmo-nos tão mal, principalmente connosco próprios.
Peço desculpa por fugir ao tema, mas deu-me para aqui.
Esta coisa de esgravatar na consciência da pessoas e atribuir maldade por onde calha devia acabar. Há sempre quem pretenda retomar o velho espiríto inquisitório e queira ir por aí fora caçar bruxas, como se fosse um velho cruzado ou um caveleiro andante a salvar donzelas em perigo.
Os termos "ocidente" e "oriente" servem para designar variadíssimas coisas e são apenas palavras com as quais as pessoas pretendem designar espaços geográficos, politicos ou civilizacionais, e que são bastante convenientes porque se percebe o que se está a designar, mas há sempre alguem (sem dúvida um grande inquisidor da modernidade) que gosta de descobrir um pecado alheio e vá de descobrir más intenções nos corações de quem quer que seja (onde o próprio se exclui, obviamente). Haja paciência e tolerância para aturar esta gente mais pura que a própria pureza.
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