Novo texto do Professor Galopim de Carvalho, que o De Rerum Natura muito agradece.
Ciência não é comunicação, mas não existe sem ela. À semelhança dos mais rudimentares saberes dos nossos primitivos antepassados, também a ciência é inseparável da comunicação.
Entendida como um conjunto de conhecimentos acerca de parcelas maiores ou menores do todo universal, obtidos através da observação, da experimentação e/ou da elaboração mental, a ciência é uma obra colossal do colectivo, cujos alicerces se perdem nos confins do tempo da humanidade. Edificada pedra sobre pedra, ao longo do tempo, o seu fio condutor sempre foi e será a comunicação. Sem este vector o conhecimento científico não avança. Morre com quem o cria.
Comunicar ou comungar, do latim, communicare, significa partilhar com outrem. Comunicam entre si, e até connosco, muitos dos animais que conhecemos. A comunicação entre os humanos utiliza, sobretudo, a palavra falada ou escrita, sendo que, quase sempre, o acto de falar é apoiado pelo gesto e pela expressão fisionómica e corporal.
Apoiada ou não pelos meios que o progresso da tecnologia vai pondo ao nosso alcance, a comunicação é uma constante do nosso viver em sociedade. Comunicam entre pares, ao mais alto patamar de erudição, os “sábios” nas academias e os investigadores nos congressos e outras reuniões científicas. Comunicam entre si professores e alunos. Comunicam, através dos livros, jornais e revistas, rádio e TV, e aos mais diversos níveis, os divulgadores que se dispõem a fazê-lo, muito poucos, em Portugal, diga-se.
Quase tudo o que nos rodeia e de que constantemente nos servimos, ou com o qual nos articulamos diariamente, resultou das conquistas da ciência e da tecnologia. Os alimentos, os medicamentos, os transportes e comunicações, os equipamentos mais variados da indústria, da saúde, da cultura ou do lazer, radicam nestas conquistas do génio humano.
O conhecimento científico e as tecnologias com ele relacionadas são alguns dos pilares sobre os quais assentam as sociedades humanas, o progresso social e o bem-estar da humanidade.
O paralelismo entre a produção científica e o avanço das técnicas de comunicação é, sobretudo nos dias que correm, uma evidência espectacular. Do texto manuscrito enviado por mar e à vela, ou por terra, na bolsa de um estafeta a cavalo, aos actualíssimos e-mail e skype, passando pelo correio expresso ou pelos já antiquados telex e fax, a generalização e o aperfeiçoamento constante e progressivo dos meios de comunicação de pessoas e ideias fez e faz crescer exponencialmente o hoje imenso e inabarcável edifício da ciência.
Esperemos que o instantâneo da comunicação, que caracteriza os nossos dias, possa acautelar muitos dos riscos que o avanço da ciência também acarreta. Lembremo-nos da pólvora, da dinamite, da fissão e da fusão nucleares, das armas químicas e biológicas, e não esqueçamos a clonagem, os transgénicos, a nanotecnologia e tudo o mais que já está aí e, ainda, o que há-de vir.
Galopim de Carvalho
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3 comentários:
Porém, o instantâneo, e permanente, e resumido, e distorcido, e sensacionalista, e fútil e vazio, e mutável, e viciante, do que se intitula comunicação nas sociedades mediatizadas corre também um risco enorme, qual seja o de tornar as pessoas mais dependentes de "gadjets" sempre "em atualização" e mais ignorantes do conhecimento que vale e que fez e faz realmente avançar as sociedades: temos os meninos viciados em telemóveis, em consolas, em jogos de computadores como temos adultos viciados em eventos sociais, futebóis e cusquices de interesse discutível.
E entretanto, vamos ficando nas mãos de um punhado de poderosos predadores, nós, uma massa imensa de novos pobres a quem o conhecimento acumulado da ciência e da técnica parecem não poder valer, seja numa ocupação compensadora e produtiva, numa qualidade de vida relacional minimamente compensadora, na saúde, no acesso à educação na constituição de uma família, enfim, no usufruto de uma vida digna.
Como inverter a tendência?
Talvez melhorando (muito) a escola. E recorrendo à ciência e à técnica.
Mas as coisas não estão fáceis.
Deuses, ciências (que agora há muitas, para todos os gostos), técnica e (des)governantes parecem estar freneticamente loucos. E nós, cidadãos, estamos a ficar.
Gaita, no comentário que acabou de me fugir para publicação vai "gadjets", suponho, em vez de "gadgets". Fica a correção.
Sr. Baptista continue com essas considerações esclarecidas. Precisamos delas...
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