O Prémio Nobel da Química deste ano foi atribuído a Robert J. Lefkowitz e Brian K. Kobilka pelo estudo de uma importante família de receptores implantados na membrana das células, chamados receptores acoplados a proteínas G.
As células estão separadas do exterior por uma membrana que impede a passagem da maiora das moléculas. Estes receptores são proteínas inseridas na membrana e fazem parte de um sistema de transmissão de informação, do exterior para o interior da célula. Reagem a sinais do exterior (luz, odores, iões, hormonas, neurotransmissores,…) e transmitem esse estímulos ao interior da célula.
A história é mais ou menos esta:
1. Vêm um estímulo do exterior. Por exemplo, uma hormona.
2. A hormona liga-se ao receptor, que atravessa toda membrana da célula. Do outro lado, ou seja no interior da célula, o receptor de membrana transmite a informação vinda do exterior a uma proteína (proteína G).
3. A proteína G vai-se embora e desencadeia uma resposta fisiológica ao estímulo exterior.
4. Enquanto a hormona estiver ligada, mais proteínas G podem ser activadas no interior da célula.
Imagine um mensageiro (uma hormona) que chega ao castelo (célula). Diz ao porteiro: vêem aí o inimigo. O porteiro (receptor associado a proteína G) vira-se para o interior da muralha (membrana celular) e transmite a informação a um estafeta (proteína G). Esse estafeta vai desencadear a resposta do castelo ao estímulo exterior. Repare que o mensageiro não entrou no castelo.
E este Nobel também é um bocadinho português!
David Aragão, um cristalógrafo português, doutorado em Portugal, tem um artigo, publicado na Nature em co-autoria com Brian Kobilka, um dos laureados com o Nobel da Química deste ano. O artigo descreve a determinação da estrutura, ou seja a forma em três dimensões de uma proteína de membrana, o que é muito difícil de fazer (a prova disso é que há muito poucas). E a proteína em causa é um receptor acoplado a uma proteína G, ou seja o tema que deu o Nobel a Kobilka. E a determinação da estrutura destas proteínas foi fundamental para a atribuição do Nobel. Apesar de ter feito a sua parte deste trabalho na Irlanda (e de actualmente trabalhar na Austrália), o Nobel da Química deste ano é também, um bocadinho português!
Muitos parabéns também ao David Aragão que, tal como outros portugueses, está a fazer investigação ao mais alto nível internacional!
4 comentários:
Perguntas:
O que significa o G de proteína G?
A proteína G tem uma estrutura quaternária formada por 3 polipeptídeos, ípsilon, beta e alfa?
Depois de estimulada pelas proteínas transmembranares dos receptores, a proteína G cinde-se (separa-se) nos seus polipeptídeos?
Cada (poli)peptídeo dos anteriormente referidos vai desencadear um conjunto de possíveis reações metabólicas? Ou é preferencialmente um deles? Ou dois deles?
Eu sei que estas perguntas não são muito legítimas aqui, mas ainda não tive tempo para ir vasculhar. E como o inglês é sempre menos permeável para mim...
Ali, onde escrevi "ípsilon" devia ter escrito "gama".
As perguntas que deixei eram, confesso, uma solicitação da prosa poética científica de António Piedade, que tem andado "longe"...
Sem desdouro para qualquer outro "voluntário"... E com o antecipado, e devido, agradecimento.
Caro José Batista,
pode ler aqui - http://www.sulinformacao.pt/2012/10/nobel-da-quimica-premeia-caracterizacao-da-estrutura-e-funcionamento-dos-%E2%80%9Csensores%E2%80%9D-na-superficie-das-celulas/- um texto noticioso(com um pouco de prosa poética científica pelo meio) de António Piedade sobre este mesmo assunto.
Abraço do,
João Calafate
Muito obrigado, caro João P. Calafate.
Acabei de ir espreitar. E li. E gostei. A segunda figura completa magnificamente a primeira.
Receba um abraço,
do Zé Batista.
Enviar um comentário