Terceira parte de um texto do Professor Galopim de Carvalho.
A primeira pode ser encontrada aqui e a segunda aqui.
Ovídio (43 a C-17 d C), o poeta romano, deixou-nos em verso alguns conceitos que pôs na boca de Pitágoras (579-497 a.C.) alusivos à tendência universal para a mudança, não só a das coisas vivas, mas também das mortas. E nas coisas mortas estavam, entre muitas outras, as terras e os mares, as montanhas, os rios e as rochas.
Dizia ele: tudo flui, tudo muda, nada morre. Embora ele tenha posto estas afirmações na boca do filósofo e matemático grego, não se sabe de onde Ovídio as tenha retirado.
Em alguns dos seus versos, diz-se claramente que se encontram conchas marinhas (fósseis) no interior das terras, que há terras que emergem e que há outras que se afundam, dando lugar a mares (mas não explica como), que as águas desgastam as montanhas, aplanando-as (sem que haja alusão a acções catastróficas) e que as condições climáticas mudam com o tempo.
Estas ideias contrariavam crenças antigas que, entre outras, defendiam a imutabilidade das linhas de costa e o carácter sagrado das montanhas, pelo que falar do avanço ou recuo dos litorais e da erosão destes relevos era dificilmente aceite.
O poema Aetna, da segunda metade do século I, de autor romano desconhecido, põe em destaque as preocupações da época no domínio do vulcanismo. Fala de uma fornalha alimentada por enxofre, alúmen e asfalto que se incendiava devido à presença de lapis molaris uma lava que largava chispas quando percutida. Esta visão poética antecipa a concepção neptunista do século XVIII, do alemão Abraham Gottlob Werner, da Academia de Minas de Feiberga, que defendia que os vulcões eram alimentados pela combustão de carvão e betume existentes no subsolo.
Caius Plinius Secundus (23-79 d C), mais conhecido por Plínio, o Velho, eclesiástico veneziano morto na histórica erupção do Vesúvio, no ano de 79, tem lugar de destaque no progresso das ciências da Terra através da sua monumental História Natural, em 37 volumes.
Aí se encontram algumas descrições de minerais, em especial dos utilizados como pigmentos, como minérios e como gemas.
Erupção do Vesúvio no ano 79 dC
São dele, entre outros, os termos silex, sablum (areia), calcarius (calcário), succinum (âmbar), bitumen (betume), lapis specularis (gesso em placas transparentes e brilhantes), creta (cré) e cabunculum (nome dado ao rubi, à espinela vermelha e à granada da mesma cor). À semelhança de Estrabão, atribuía a elevação das montanhas ao fogo central.
Astrónomo, geógrafo e matemático grego, Cláudio Ptolomeu (90-168 d C.) foi o responsável pela grande divulgação do geocentrismo, uma ideia de há muito defendida por Eudóxio Cnido e por Aristóteles, bem do agrado da Igreja e que dominou, entre as elites intelectuais, maioritariamente religiosas, por quase quatro séculos. Dos escritos que nos deixou, envolvendo temas de astronomia, matemática, óptica e teoria musical, salienta-se a sua Geographia, em 8 volumes. Esta obra, que reúne todo o conhecimento geográfico greco-romano, inclui um mapa da região mediterrânea, com os erros decorrentes das limitações próprias da época.
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1 comentário:
Muito interessante: Será que Homens como James Hutton, Erasmus Darwin e, mais tarde, o seu neto mais famoso, se inspiraram (também) em versos de Ovídio?
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