domingo, 15 de janeiro de 2012

"Para que serve a literatura?"

Nas últimas décadas, a selecção dos conteúdos curriculares tem sido substancialmente subjugada a critérios de utilidade. Isto nos mais diversos sectores da educação formal. E sempre por referência aos alunos.

O que se afigura imediatamente aplicável no seu quotidiano vivencial imediato (social, laboral, pessoal...) é incluído no currículo; o que se afigura de aplicação remota ou não aplicável nesse quotidiano afasta-se do currículo.

Assim se foi arredando a área de saberes que designamos por Humanidades: a Filosofia, as Línguas e Literaturas Clássicas, a História, a Literatura...
 
Se essa área (ainda) marca alguma presença nos currículos é com sacrifício da sua essência: amputada, adaptada, convocada só e quando se lhe vê proveito para resolver problema do dia-a-dia.

Trata-se duma lógica que não interessa a muita gente. Não interessa, por exemplo, a Antoine Compagnon, professor de Letras do Collège de France, que procura, em particular, o sentido da Literatura.

Na sua lição inaugural como catedrático, pronunciada em 2005, este literato que estudou engenharia, formula várias perguntas “críticas e políticas” que nos podem guiar na mesma procura, a saber: “Que valores pode a literatura criar e transmitir no mundo actual? Que lugar deve ser o seu no espaço público? Será benéfica para a vida? Por que defender a sua presença na escola?”

Pelo interesse das respostas que avança, dar-lhe-ei atenção em próximo texto.

Referência completa:
- Compagnon, A (2010). Para que serve a literatura? Porto: Deriva Editores.

1 comentário:

Anónimo disse...

"a selecção dos conteúdos curriculares tem sido substancialmente subjugada a critérios de utilidade." Concordo consigo e acho que é um grande erro. Não acontece só na literatura, acontece também na Matemática. Deixando de lado o que não tem aplicações, estropia-se a Matemática e despreza-se a beleza da Matemática. É uma tristeza.
E que entender por "aplicações"? No caso das ciências parece que muitos entendem que é útil aquilo que der lucro a alguma empresa! Se não dá lucro não interessa.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...