quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O ACTUAL GOVERNO E AS NOVAS OPORTUNIDADES



Artigo meu publicado no "Público" de hoje:
“O erro está nos meios, bem mais do que nos princípios
” (Napoleão Bonaparte,1796-1821).

Em publicação do “Diário da República”, de 29 de Dezembro último, acabam de ser extintos, para já, nove centros de “Novas Oportunidades”, dois deles, sob a égide do próprio ensino superior politécnico: Instituto Politécnico de Leiria e Escola Superior de Educação de Portalegre.

Esta já esperada medida (porque anunciada em campanha eleitoral do PSD) trouxe consigo a respeitabilidade de uma avaliação das “Novas Oportunidades”, criadas no Governo de Sócrates, e o rumo a seguir pelo executivo de Passos Coelho para que não seja prosseguida uma acção, apenas, com a finalidade última de apresentar êxitos estatísticos de uma desastrada política educativa sem qualquer critério de qualidade como quem põe em circulação moeda sem correspondência ao seu valor facial para mascarar o atraso do sistema educativo nacional não superior (o ensino superior é outra história não menos triste) relativamente a outros países da Comunidade Europeia.

Muito teriam ganhado os responsáveis pela criação das “Novas Oportunidades”, em se debruçarem, com a atenção de aluno aplicado e atento à lição do mestre, sobre esta este princípio doutrinário de Francisco Alberoni, professor contemporâneo de Sociologia na Universidade de Milão: “Na verdade, a pedagogia que nivela tudo por baixo no intuito de esbater as diferenças tem como consequência tornar ignorantes milhões de pessoas”.

Para melhor ser compreendida injustiça das “Novas Oportunidades”, detenhamo-nos, ainda que por hipótese, no caso de um pai e dois seus filhos. O progenitor, mal sabendo ler nem escrever, através da apresentação de um relatório de experiência de vida (como eu costumo dizer, cabelos brancos nem sempre são sinal de sabedoria, quando muito de velhice), passado escasso tempo,fica de posse de um atestado de equivalência ao 12.º ano. Um dos filhos, amante de uma vida de rambóia, após chumbos seguidos no ensino secundário regular que o levaram a marcar passo no 10.º ano, perfeitos os 18 anos de idade, ingressa nas“Novas Oportunidades” sendo-lhe passada meses depois idêntica equivalência. A terceira personagem desta história,o outro filho, aplica-se afincadamente aos estudos e percorre as exigências do ensino secundário regular obtendo, passados três anos, com altas classificações, o diploma do 12.º ano mas que não lhe dá o desejado ingresso em Medicina ao contrário do irmão tornado exemplo da notícia de 1.ª página do semanárioExpresso”, de 18 de Setembro de 2010, que transcrevo ipsis verbis:Tomás desistiu da escola sem ter concluído o secundário.Graças ao programa criado pelo Governo para aumentar as qualificações dos portugueses, teve equivalência ao 12.º ano em poucos meses e entrou na universidade com uma média de 20 valores, conseguida com apenas um exame de Inglês. Ainda assim, concorreu em igualdade de circunstâncias com todos os outros. Oficialmente, é o aluno com a mais alta nota de candidatura ao ensino superior. Admite que beneficiou de uma injustiça”.

Perante uma diversidade de opiniões, publicou o PÚBLICO duas posições antagónicas sobre as "Novas Oportunidades" que começavam a gerar desconfiança na sociedade portuguesa, embora Luís Capucha, na altura director da Agência Nacional para a Qualificação , ao ser indagado por um jornalista se os processos de avaliação eram certificados ter respondido: “Sim há avaliação externa, o que implica que há regras e que as competências certificadas correspondem às possuídas”.

Coincidente com uma cerimónia, de grande pompa e não menor circunstância, em clima de forçado júbilo para a nação portuguesa , com a presença de Valter Lemos, então secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional, em que foram atribuídos novas centenas de certificados outorgados pelas “Novas Oportunidades”,foram publicados, em edição do PÚBLICO (7.Julho.2010), dois artigos de opinião polémicos sobre as “Novas Oportunidades”: um subscrito por Luís Capucha, em encómio à sua obra, e outro da minha autoria, intitulado “Estarão aqui em causa Novas Oportunidades ou Novos Oportunismos?”

Desse meu artigo transcrevo dois parágrafos:

A réstia de esperança que pudesse ainda haver sobre a bondade de uma segunda oportunidade, para quem desperdiçou uma primeira, foi abalada em seus frágeis caboucos pela leitura de uma reportagem no Expresso (o8/12/2007). Por ela se ficou a saber que estes badalados cursos não espelham uma situação minimamente verdadeira, credível ou séria.

Não querendo
generalizar a todos os cursos de “Novas Oportunidades” efeitos perversos, tenho razões para pensar que em sua grande maioria sirvam apenas de recreio buliçoso para passar o tempo de quem procura um diploma avalizado pelo Estado. A título de mero exemplo, extraio do Expresso este elucidativo pedaço de prosa do professor que denunciou ao Presidente da República, Cavaco Silva, o verdadeiro escândalo que se acoberta por detrás destas actividades curriculares: ‘Estes frequentadores da escola aparecem nas aulas sem trazer uma esferográfica ou uma folhe de papel. Trazem o boné, o telemóvel, os headphones e uma vontade incrível de não aprender e não deixar aprender’”.

O actual Governo de Passos Coelho se, porventura, continuasse a trilhar o paradigma das (antigas) “Novas Oportunidades” ter-se-ia tornado conivente com leis mal feitas que, segundo Edmund Burke, “constituem a pior forma de tirania”. Mas não! O tempo de uma tirania da ignorância tem os dias contados e, com isso, os portugueses, defensores de um sistema de ensino minimamente decente, não podem deixar de se congratular. Com o ano de 2012 renasce a esperança no soberaníssimo bom senso”, de que nos falou Antero.

Rui Baptista

7 comentários:

Anónimo disse...

Este vazio no final deveria ser retirado...

Anónimo disse...

Este vazio é proporcional à qualidade das medidas do PSD. Dão-lhes "novas oportunidades" e eles vão logo a seguir entregar o ouro aos barões e amigos, deixando a miséria para os outros...

Zurk disse...

Muita coisa está(va) errada nas Novas Oportunidades das quais, o exagerado facilitismo e a perversão do sistema de acesso ao Ensino Superior são(eram) talvez as principais.

Mas acabar com isto sem alternativa, quando um dos maiores problemas que o país tem é o da qualificação parece-me ainda pior como solução. Seria muito melhor se, mesmo sendo as Novas Oportunidades um caminho facilitado para quem não teve a oportunidade de, em tempo "normal", estudar e fazer o percurso previsto, poder capitalizar em cima da experiência profissional e de vida (sim a vida dá-nos muitas lições!), se criar um exame de acesso com o critério de exigência necessário e justo para não desvirtuar o sistema e garantir que as pessoas reúnem as capacidades e os méritos necessários. Ou seja, o caminho teria que ser facilitado (por exemplo permitindo fazer vários anos num com redução das disciplinas focando naquilo que cada pessoa pretende), mas no final naquilo que é nuclear, os conteúdos necessários teriam que ser adquiridos.

A verdade é que muita gente usou as Novas Oportunidades para catapultar a sua vida para outro patamar, quer enveredando pelo ensino superior, quer melhorando a sua condição nas empresas. Claro que um diploma não dá qualificações, mas os que se aproveitaram do sistema facilitador, fizeram-nos gastar dinheiro desnecessário, como contribuintes, o que é mau, mas acima de tudo prestaram um mau serviço a eles próprios e não irão naturalmente ter qualquer benefício com isso. Usar esta causa, que também acontece com o ensino regular (quantos não são os que não o aproveitam devidamente!?) para destruir, ao invés de subir a exigência não é de todo uma forma que nos permita ultrapassar, sem esperarmos gerações, o buraco das qualificações que nos impedem de ser competitivos.

Gosto deste ministro, mas preferia que por cada coisa que acaba ou nos diz estar mal, nos mostrasse a alternativa. Nas Novas Oportunidades ainda não percebi qual é!

Anónimo disse...

Também não aprecio particularmente as NOP . No entanto, é preciso destrinçar a validação pura e simples de competências ( uma "balda" em muitos casos) de outras formações. Os CEF, para alunos mais vocacionados para formações mais práticas, permitiram evitar que muitos jovens fossem completamente marginalizados e abandonassem a escola. Os EFA levaram à escola muitos adultos e permitiram-lhes aceder a competências importantes, nomeadamente nas TIC e outras de âmbito profissionalizante.
Há experiências a ponderar e a melhorar. E , sobretudo, que não se incorra no erro do costume: implementar novas formas de formação sem avaliar as anteriores.

Ivone Melo

Anónimo disse...

É extraordinário como tanta "sabedoria opinativa" assenta em meias verdades, ignorância do que se está a dizer, distorção de dados (será má fé propositada?).
Mesmo sem concordar com a INO, talvez prestasse um melhor serviço se se procurasse informar antes de opinar.
Que valor tem qualquer uma das suas intervenções neste blogue, sobre qualquer um dos outros assuntos sobre os quais fala, quando sobre este muito do que diz não passa de pura ignorância (ou, então, de má fé propositada)?

Rui Baptista disse...

Caro Zurk: Concordo plenamente com o seu comentário elaborado sem paixão exacerbada e, talvez por isso, com assinalável espírito crítico. Julgo que o caminho seguido pelo Ministro Nuno Crato é o correcto: avaliar os Centros de Novas Oportunidades e a qualidade das aprendizagens aí ministradas.

Por outro lado, entendo que essas aprendizagens devem ter em linha de conta os estratos profissionais dos seus utentes tendo em vista o seu melhor rendimento em funções exercidas no seu dia-a-dia . Vestir o mesmo fato num indivíduo gordo ou magro, alto ou baixo só serve para o ridicularizar e dar má fama ao artesão de alfaiataria que o confeccionou.

Deixemos passar o tempo para que se possa separar o trigo do joio promovendo na opinião pública os bons Centros de Novas Oportunidades, melhorando os de qualidade suficiente e acabando com os que tão mau nome tem dado a uma medida que não peca pela sua filosofia mas, isso sim, pela sua execução.

Acabo de ler no “Jornal do Barreiro” (18/11/2011) a resposta de Rui Ferrugem, deputado Municipal da CDU, à pergunta: “Como comenta o possível encerramento de centros de Novas Oportunidades no Concelho?”

Disse ele em transcrição parcelar:

“Não que o objectivo, em tese, não fosse importante – voltar à Escola para a correspondente valorização curricular e profissional!

Contudo, cedo se dissiparam as nuvens, para dar lugar a uma realidade de Chico-espertismo português, com jogadas para fazer crer que a realização de um certo nº de horas de formação equivaleria a uma progressão meteórica nas correspondentes carreiras escolares, podendo, assim, Portugal ombrear (e até superar) com a Europa, ao nível de percentagem de portugueses já com determinados escalões de escolaridade concluídos”.

Em conclusão, não discuto a qualidade da canção, mas duvido de alguns dos seus intérpretes!

Desculpe-me, por favor, a pobreza deste meu comentário mas o meu hábito, que não é apenas de circunstância, pois o tenho tido várias vezes em comentários antigos, obriga-me a uma certa parcimónia face aos comentários que me vão chegando em catadupa, pelo melindre do tema, e que eu tenho, se escritos sem verrina que expurgue a razão, como é o caso, tanto ou mais importantes que os meus próprios textos.

Rui Baptista disse...

Registo seu comentário. Apenas um reparo de António Sérgio:"Contestar a ideia de um certo homem ou defendida por um certo homem não é insultar esse mesmo homem: sabe-se isto no mundo inteiro e só se desconhece neste país".

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