sexta-feira, 18 de novembro de 2011

REVISTA SÁBADO: Símbolo químico da água é coisa que não existe

Ainda a propósito da INCULTURA dos alunos das universidades portuguesas aferida pela Revista Sábado num artigo, gostaria de esclarecer que a resposta para a pergunta:

"Qual é o símbolo químico da água"

é

"não tem".

Os símbolos químicos são códigos de uma ou duas letras (em que apenas a primeira é maiúscula) usados para designar elementos químicos. Também os há com três letras, para representar os elementos muito pesados (mas esses são uma minoria). Alguns exemplos:

H - hidrogénio
He - Hélio
Li - Lítio
C - Carbono
N - Azoto
O - Oxigénio
U - Urânio

Uma lista completa pode ser consultada numa tabela periódica.

Um elemento é uma entidade química constituída por um único tipo de átomos. Cada tipo de átomos caracteriza-se pelo seu número atómico (ou seja o número de protões no seu núcleo).

A água não é um elemento químico, é uma molécula constituída por dois tipos de átomos: oxigénio e hidrogénio. Como são dois de hidrogénio e um de oxigénio, a água tem a fórmula química H2O. A fórmula química indica o número de átomos de cada elemento que constituem uma determinada molécula. Por exemplo, uma molécula do famoso dióxido de carbono é constituída por dois átomos de oxigénio e um de carbono, e tem por isso a fórmula química CO2.

Pode parecer uma picuinhice mas não é. Tal como Leonardo Di Caprio não é Leonardo Da Vinci uma molécula não é um elemento. E quando se está a falar da "cultura" dos outros é melhor não ter telhados de vidro...




Representação da molécula de água, mostrando as ligações e disposição espacial entre os átomos que a constituem. A molécula de água tem propriedade físicas e químicas bastante singulares, nomeadamente um ponto de ebulição muito elevado (100 ºC) para uma molécula tão pequena.

10 comentários:

Anónimo disse...

Tenho a agradecer-lhe por este simples e acessível esclarecimento relativamente à representação química da molécula da água. Eu assisti ainda hoje a esse vídeo/artigo, e li vários comentários que argumentavam a ignorância (irónica, devo acrescentar) dos jornalistas que o realizaram, afirmando que a água não tinha de facto um símbolo químico. Sendo eu aluna de secundário de Línguas e Humanidades que, naturalmente, esqueceu já alguns dos conceitos leccionados na Física-Química do Ensino Básico, procurei informar-me relativamente à questão em si, contrariando - e aqui termino a minha intervenção - as ideias generalistas, incorretas e, atrevo-me a acrescentar, brejeiras e focadas somente na obtenção de lucros, transmitidas pela revista Sábado de que os jovens não sabem e não procuram adquirir conhecimentos de cultura geral fora das suas áreas principais de estudo.

Anónimo disse...

Há anos, uma colega de português, mas dispondo de um razoável conhecimento científico, disse-me logo de manhã ao chegar à escola. Estou chocadíssima. Acabo de ouvir na rádio o seguinte comentário de um jornalista: Os estudantes inglesees revelam muita falta de conhecimento científico. Muitos desconhecem que o "símbolo" da água é Hvinte...
Regina Gouveia

José Batista da Ascenção disse...

Peço desculpa:
Há no texto muita explicação para pouca coisa. No (meu) dicionário de língua portuguesa se diz que "fórmula é uma expressão simbólica para indicar as composições qualitativa e quantitativa dos compostos". Como todos sabemos. Por isso, não há-de ser crime que, em termos de linguagem comum, de não "especialistas", se reduza "expressão simbólica" ao significado de "símbolo".
Em tempos tive como professor um bioquímico que me fez críticas severas porque numa exposição me referi (oralmente) ao dióxido de carbono como "cê-ó-dois". Porque se apercebeu de que me apetecia mandá-lo à outra banda, esforçava-se o homem, catedrático de Coimbra, por me convencer (com insistência) que de que seria erro e indelicadeza alguém tratar-me por "Jota Bê" em vez de usar os meus primeiros (dois) nomes.
Então, como agora, enfastiei-me com tais "picuinhices".
O que não são "picuinhices" são as bacoradas que alguns frequentadores (de algumas) das nossas "universidades" vão debitando.
E isto é que valia a pena ser discutido.
Acho eu.

Anónimo disse...

É ridícula essa distinção entre símbolo químico e fórmula química. É triste mas este é o nível máximo dos saberes serôdios de algumas cátedras portuguesas: criar artifícios irrelevantes, isto é, que não acrescentam informação relevante àquilo que é suposto descreverem.

Sugiro que vá à wikipedia e comece a corrigir todos os artigos em que é dito que uma molécula tem um certo símbolo químico. Sugiro que faça isto mesmo na wikipedia de língua inglesa.

Sugiro a todos que continuem a usar símbolo químico na acepção que transporte toda a informação relevante para o destinatário compreender do que se está a falar.


Não quero com isto defender aquele trabalho miserável da revista sábado. Esta treta de símbolo químico vs fórmula química está ao mesmo nível de miserabilidade.

Anónimo disse...

Concordo que é perfeitamente legítimo ser-se criativo na linguagem oral e usual, "cê-ó-dois"... sabe bem ouvir e é claro no significado... mas... agradeço este esclarecimento sobre a importante molécula da água. Sem ela não há vida, logo, nunca é demais colocar-se os pontos nos "is", como fez David Marçal. E para acrescentar qualquer coisa à possível curiosidade de cada um, transcrevo o verso com que Luís de Camões se refere à água em Os Lusíadas: "a sonorosa linfa fugitiva"(XI,54). Lindo, não acham?
HR

Carlos Morais disse...

Meus Caros Senhores,

Espero que os subscritores deste site tenham, com a mesma aquidade, pugnado pela alteração dos programas didácticos adoptados pelo ME...

Carlos Morais

Anónimo disse...

Isto não tem discussão, não é uma questão de picuinhice, não é uma questão de ser rídicula ou não a distinção, nem tão pouco um preciosismo de catedrático. A questão é uma só: símbolo químico é uma coisa e fórmula química é outra.
A expressão "símbolo químico da água" não tem significado. E isto não é discutível. A explicação está correta, são noções básicas de Química.
Também, não se diz cê-ó-dois, quando se trata de uma situação mais formal, o que me pareceu ser o caso, tal como não se devem utilizar siglas.
Margarida

José Batista da Ascenção disse...

Margarida:

Quer queira quer não, a fórmula química da água não deixa de ser um símbolo. Aliás, a fórmula química da água não é senão um símbolo gráfico formado pelo conjunto de outros símbolos gráficos. Tal como as representações figuradas em bolinhas ou letras unidas por traços não são senão símbolos.
Decerto, não supõe que as verdadeiras moléculas de água têm algo de parecido com o grafismo H2O, ou com qualquer boneco ou modelo tridimensional da molécula de água...
Por isso, dizer que a expressão "símbolo químico da água" não tem significado é extravasar o âmbito próprio de uma disciplina específica e querer ser dono das representações simbólicas com que comunicamos. Ora, disso não há nenhum catedrático com o direito de propriedade.
E até lhe digo mais, isto provoca-me mais sorrisos do que as tentativas de humor a que alguns catedráticos se dedicam.
E, no meu espírito, permanece a pergunta: por que cargas de água, perante um problema (normalmente grande), há-de sempre arranjar-se uma questão menor para lhe colocar à frente?

SV disse...

Habituado que estou a exigir que os meus alunos diferenciem símbolos e fórmulas químicas não pude deixar de deixar a minha contribuição na matéria.
Antes de mais é bom lembrar que quando se colocou a pergunta da polémica, estava-se a endereçar para conhecimentos de uma disciplina específica, a química. Não se estava a solicitar a representação simbólica da água na linguagem do dia-a-dia. Por isso, não se trata de uma apropriação das representações simbólica com que comunicamos porque no dia-a-dia não comunicamos em linguagem dos químicos. Ora, em química estabelece-se uma diferença fundamental entre símbolo químico e fórmula química e cada um destes conceitos veiculam informações diferentes e que não são problemas menores na química. A fórmula química da água, H2O, transporta em si muita mais informação e que pode ser ponto de partida para novos conhecimentos, por exemplo, acerca da sua estrutura.
Cordialmente.
Sérgio Viana

José Batista da Ascenção disse...

Sérgio Viana:

Há conhecimentos genéricos que extravasam qualquer disciplina específica. Não compliquemos o que o não merece, especialmente quando expresso em linguagem jornalística.
Há coisas que são intuitivas. E, para mim, que também tenho alunos, e não gosto de confundir alhos com bugalhos, o rigor é outra coisa.
Lembro-me de parte da minha juventude em Coimbra, quando a certas ortodoxias sabichonas chamávamos "cagança". E dessa, como de água benta, cada um toma a que quer.
Até há quem diga, veja lá, que não devemos usar siglas! Já reparou na figura que eu fazia se, por exemplo, exigisse a alunos de 14-15 anos que dissessem ou escrevessem sempre, direitinho, "ribulose 1-5 difosfato carboxilase" em vez de "RuDP" ou "rubisco"? Ou "adenosina trifosfato" em vez de ATP?
Mas o que eu queria muito discutir é por que é que há tantos alunos, sim, eu sei que são muitos, que chegam às universidades com lacunas de formação absolutamente escandalosas. E às vezes na própria matéria que é a base dos cursos que estão a frequentar. E impressiona-me que os próprios professores universitários prefiram "esgatanhar-se" por causa de mau jornalismo, que também o há.
Será porque há alguém a proteger entre os jovens universitários que tão triste figura fizeram? Eles que não se preocupem, se for o caso, porque, já hoje temos governantes, deputados e altas figuras do estado que não lhes ficam atrás. Donde, quando for a vez deles já nem vamos notar grande diferença, devido ao hábito...
E, já que falo nisto, por que não discutir a razão de tantos alunos saírem do ensino secundário com médias a rondar os vinte valores, sim vinte valores!, que depois, se vai a ver são umas nódoas? Eu sei que isto queima, que não é apetecível, mesmo como discussão...
Como não se discutem outros problemas que, em muitos aspetos, fazem do ensino básico e secundário um sistema para impreparar alunos, sobretudo os mais pobres.
Se ninguém quiser passar a assunto mais meritório, eu fico-me por aqui. Mantendo o que antes disse. Sem presunções.
Muito obrigado.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...