sexta-feira, 18 de novembro de 2011

PORTUGAL, O BRASIL E A CIÊNCIA


Minha crónica no jornal "Sol" de hoje (na imagem Gago Coutinho e Sacadura Cabral):

Hoje há muitos estudantes brasileiros na Universidade de Coimbra. Mas, no século XVIII, havia poucos. Foi, porém, um estudante brasileiro de Coimbra, Bartolomeu de Gusmão, que conseguiu a primeira ascensão mundial em balão, embora não tripulado, em 1709. No mesmo século, a Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra foi um verdadeiro terramoto intelectual, ao promover em Coimbra o ensino experimental das ciências. O Reitor-Reformador, D. Francisco de Lemos, nascido no Rio de Janeiro, contratou mestres estrangeiros e também grandes cientistas nacionais como, só para referir um, o matemático José Monteiro da Rocha, que estudou no Brasil num colégio jesuíta, e internacionais, como, só para referir um, o naturalista italiano Domenico Vandelli. Foi um discípulo de Vandelli, o químico brasileiro Vicente Seabra, que, na época, ensinou em Coimbra a nova química de Lavoisier. Outro discípulo de Vandelli, Alexandre Ferreira, empreendeu, ainda no século XVIII, a famosa Viagem Philosophica pela Amazónia, que hoje está ricamente documentada em escritos, imagens e objectos. Já no século XIX, um dos grandes cientistas de Coimbra foi o metalurgista brasileiro José Bonifácio de Andrada e Silva, cujo papel na independência no Brasil é por demais conhecido. Há quem lhe chame “patriarca da independência”. Após a independência do Brasil, será um filho de Vandelli, assistente e genro de José Bonifácio, Alexandre Vandelli, que vai ensinar ciências naturais ao jovem imperador D. Pedro II.

Menos conhecido é que, em 1925, quando Einstein visita o Brasil, tem a escutá-lo o almirante Gago Coutinho, que em 1922 tinha realizado a primeira travessia aérea do Atlântico Sul. O almirante, empedernido anti-relativista, haveria de se envolver em polémica com Mário Silva, professor de Coimbra. Também menos conhecido é que Egas Moniz, professor da Universidade de Lisboa e ex-professor de Coimbra, visita o Brasil em 1928, divulgando a sua recente técnica de angiografia cerebral. Foi, na altura, nomeado sócio de várias sociedades científicas brasileiras e, mais tarde, foi ajudado por médicos brasileiros no processo que culminou no Prémio Nobel da Medicina em 1949.

Todos estes factos foram relembrados no recente Congresso Luso-Brasileiro de História das Ciências, que juntou em Coimbra historiadores portugueses e brasileiros. A ciência e no tempo dos Descobrimentos, o ensino dos Jesuítas aquém e além-mar, as ciências no Iluminismo, o desenvolvimento científico nos séculos XIX e XX, foram alguns dos temas discutidos no encontro. Concluiu-se que a ciência em Portugal sempre se cruzou fecundamente com a ciência no Brasil. Hoje em dia, quando o Brasil é uma potência emergente, espera-se que esse cruzamento continue.

5 comentários:

Ildefonso disse...

A propósito do anti-relativismo do Almirante Gago Coutinho, é importante dizer que este, publica 4 artigos escritos na revista Seara Nova sobre mecânica clássica e mecânica relativista (nº 534 -537); Que os artigos não foram bem aceite pelos melhores professores, entre eles, o Prof. Bento de Jesus Caraça, amigo do Prof. Mário Silva e o Prof. Ruy Luís Gomes, pela falta de conhecimento da teoria e do pensamento científico do Almirante.
Segundo as palavras do Prof. Bento de Jesus Caraça: “A gravidade do caso aumenta com o subtítulo dos artigos dedicados aos alunos de Física liceal. Todos sabemos que o Almirante Gago Coutinho desfruta de um prestígio, justamente alcançado, mas em domínios que nada tem que ver com a ciência moderna, e que esse prestígio vai dar aos seus argumentos um peso que dificilmente será contrabalançado pela justeza dos argumentos adversos quando o tribunal de julgamento é a mente dos alunos do liceu, necessariamente sem preparação nem competência para tal.”
Felizes aqueles jovens que tinham estes PROFESSORES, de elite, sempre preocupados e atentos, o que fosse inexacto e defeituoso para a sua formação, atente-se no significado …

Cláudia S. Tomazi disse...

A paz fora ontem!
Hoje não havemos
menos desejo e seja
oh’ liberdade e bem

A paz fora ontem!
Já não ou despidos
da receita certeza
quão sublime vem

trás o ser eloqüente
quer ter por ciência
um tempo presente

uno, lavra e sapiência
ser o amor por amado
fora audaz conquistado.

António Bettencourt disse...

Talvez ache interessante este artigo:

http://tertuliabibliofila.blogspot.com/2011/11/casa-literaria-do-arco-do-cego.html

Costa Pinto disse...

Convite
http://gagocoutinho.files.wordpress.com/2011/11/icicloconfpatrimoniocartazprogramacao1.jpg

Cumprimentos

Anónimo disse...

Parceria mal deixar passar em branco um adjectivo que de forma alguma poderá classificar o homem de ciência que foi Gago Coutinho e que ainda hoje tão mal conhecido é.
“O almirante, empedernido” para quem foi inovador nas ideias e no pensamento, tal atributo não podia estar mais longe da verdade.
O velho Almirante foi só um dos grandes pioneiros nos trabalhos de delimitação de fronteiras coloniais e de geodesia e na modificação de instrumentos. Não falando que anos mais tarde o “Corrector de Rumos” ou o Sextante levariam o nome de Portugal fora de portas dando uma projeção internacional à ciência portuguesa há muitos anos não observada.
As constantes observações astronómicas demonstraram a passagem da linha do equador pelo Ilhéu das Rolas, e não entre ele e São Tomé como se pensava, o que lhe valeu, mercê do contributo para a geografia terrestre, a construção de um padrão colocado no ponto mais alto, exactamente nas coordenadas determinadas por ele. O Governo da Província em São Tomé, no aniversário da chegada ao Brasil
No início da década de 30, é convidado, pela companhia aérea alemã Dornier, para fazer parte da tripulação do enorme hidroavião Do X como co-navegador, numa viagem à América do Sul, onde se aplicou o seu Sextante.
Esteve à frente da Comissão de Cartografia até esta se reorganizar em Junta das Missões Geográficas e Investigações Coloniais (em 1936) e da qual seria o seu primeiro Presidente. Em 1928 é escolhido pelo Ministério da Guerra para presidir à comissão encarregada de reorganizar os serviços geográficos, cadastrais e cartográficos e no ano seguinte torna-se no primeiro presidente da Junta de Educação Nacional, que se viria a transformar no futuro Instituto de Alta Cultura, actual Instituto Camões. É ainda indicado para ser vogal de uma comissão que se incumbiria de analisar a futura fixação de um aeroporto nos Açores e da navegação aérea nas colónias. É delegado, pelo respectivo Ministério, para proceder a estudos cartográficos em França, Itália e procurar no Brasil, em 1931, documentação que contribuísse para uma melhor compreensão da História da Cartografia Portuguesa.Fez parte da Associação Naval de Lisboa como seu Secretário-Geral, tendo sido o Instrutor, em 1900, do primeiro curso de "Patrão de Vela". Em 1926 torna-se membro da comissão organizadora do futuro Museu da Marinha, e em 16 de Junho de 1933 viria a fazer parte da “comissão encarregada de proceder ao estudo do projecto do monumento ao Infante D. Henrique, em Sagres” (Diário de Governo, II Série, 16 de Junho 1933). Em 1936 fez parte da comissão organizadora do I Congresso da História da Expansão Portuguesa no Mundo e da Comissão Orientadora da Exposição Histórica da Ocupação. Três anos depois passa à situação de reforma na marinha. Em 1950 é eleito vice-presidente da Federação Aeronáutica Internacional e quatro anos depois é convidado, pelo Coronel Pinheiro Corrêa, para fazer parte de uma comissão com vista à criação de um futuro Museu do Ar. Em Junho de 1958, é promovido na Assembleia Nacional, ao posto de Almirante com distinção.
Foi colaborador de numerosos periódicos, entre eles, os Anais do Club Militar Naval; Anais da Academia Portuguesa de História; Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa; Boletim da Academia das Ciências.

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