Em 2045, num qualquer hospital perto de si
.
- Então o que se passa?
- Senhor doutor, tenho aqui uma dor muito forte, do lado direito do abdómen, por baixo do umbigo. Passei a noite a vomitar.
- Que bom, não sei nada de barrigas, o senhor vai ser um doente muito interessante!
- Como assim, não sabe nada de “barrigas”?!
- Caro amigo, médicos com conhecimento estruturado, de barrigas ou de outra coisa qualquer, já não existem. Isso era antigamente, quando tinham de decorar uma data de coisas. E era logo no primeiro ano. Começavam por uma disciplina a que chamavam “Anatomia”: era um calhamaço inteiro para aprender de cor, imagine-se!
- Então mas isso não é importante?
- Não, de todo! Eles aprendiam de cor mas não percebiam nada do que estavam a ler! Só papagueavam. Sabiam falar-lhe durante horas da aorta ou da veia cava mas se calha nunca tinham visto nenhuma! E essa quantidade estéril de informação tolhia-lhes o cérebro, por isso praticavam uma medicina muito pouco criativa.
- Então e o sr. doutor, como é que aprendeu medicina?
- Pois aí é que está, eu não aprendi. Não lhe disse já que não percebo nada de barrigas? Mas, mais importante, aprendi a aprender medicina. Ou seja, apesar de não saber nada, sei potencialmente tudo. Já viu a sua sorte em ter vindo bater-me à porta?
- Isso é o que vamos ver... Mas espero que em todo o caso tenha tido bons médicos como professores...
- Médicos a ensinar medicina?! Valha-me Deus, que ideia mais medieval! Não , meu caro amigo, os médicos foram erradicados do ensino da medicina há mais de vinte anos.
- ?!
- Não percebo o seu espanto. Então acha razoável que as aulas sejam leccionadas por médicos enfadonhos, sem competências ao nível dos processos de ensino/aprendizagem, e que se limitam a debitar umas teorias estéreis virados para o quadro? Eram muito pedantes esses professores, achavam-se o centro das atenções. E os alunos, claro, não percebiam nada. E o pior é que todos os dias se tornavam menos criativos, menos espontâneos, menos empenhados... Não, meu amigo, hoje temos um ensino moderno, as coisas já não funcionam assim! No final do século XX assistimos a enormes progressos no campo da pedagogia. Começou-se por dar formação aos professores do Ensino Básico e Secundário. Depois, progressivamente, as novas metodologias começaram a entrar nas universidades. Primeiro de mansinho, com o processo de Bolonha. Isto aconteceu no início do século. Curiosamente, o meu curso, Medicina, ainda foi o que resistiu mais tempo. Mas ninguém pára o progresso, e ainda bem: com a criação das Direcções Regionais do Ensino Superior, por volta de 2025, já ninguém podia leccionar no Superior sem uma forte preparação nas modernas correntes pedagógicas.
- Mas como funcionam?
- Para começar, temos de perceber que o conceito de professor está ultrapassado. Já não existem professores, o que existe são orientadores/facilitadores das aprendizagens. E as aprendizagens dependem do interesse dos alunos. Eu por exemplo sempre me interessei muito por pés, logo os meus orientadores facilitaram-me essa aprendizagem.
- Por pés?!
- Sim, é que gosto muito da bola, sabe? O meu power-point de fim de Mestrado é sobre a relação entre o tendão de Aquiles e a potência de remate. Ficou espectacular, fiz com recurso a uma ferramenta das novas tecnologias, um software de medicina dinâmica...
- Então mas qual é a formação desses “facilitadores das aprendizagens”?
- É muito variada... seguiram um pequeno módulo de três meses sobre medicina propriamente dita. A partir daí, estudaram pedagogia, sociologia, psicologia, administração pública... são umas pessoas muito completas.
- Não sei como é que pessoas com esse perfil “diversificado” o conseguiram avaliar...
- Avaliar?! Decididamente, o meu amigo parece ter vivido no século passado! Há muito que se sabe que a avaliação não ajuda a consolidar as aprendizagens. Muito pelo contrário, até desajuda. Quem estuda tendo em vista um exame não aprende nada. A avaliação foi inventada pelas elites por forma a poderem manter a sua supremacia. Eram uns fascistas, não queriam que os saberes caíssem à rua.
- Por falar em “saberes”, o que me parece é que o senhor doutor não sabe fazer nada...
- Não diga isso caro amigo, vai ver que vai ficar contente com o meu trabalho. Olhe que tirei nota máxima nas disciplinas de Medicina em Contexto e Comunicação da Medicina. Fazia umas redacções muito interessantes.
- Tirou nota máxima? Então não me disse que nunca foi avaliado?
- Pois, mas tivemos todos nota máxima. É natural, não é? Cada ser humano é único. Dentro da especificidade de cada um, todos somos excelentes.
- Senhor doutor, eu não o quero interromper, mas estou mesmo aflito. Será que pode então tratar-me?
- Sim, meu caro senhor, vamos a isso! Ora bem, como lhe expliquei, não sei nada de barrigas, mas daqui a nada já vou saber tudo. Mas antes, vou ter de fazer umas investigações.
- “Investigações”?!
- Sim. Investigações. Não me pergunte porquê, mas essa palavra (tal como aprendizagens e competências) deve ser usada sempre no plural. Vou usar as investigações para construir o meu próprio conhecimento. Quer conhecimentos mais robustos e genuínos do que aqueles que são construídos pelo próprio sujeito?
- Devo-lhe dizer que começo a ficar desconfiado. Em que consistem essas investigações?
- Ora bem, vou dirigir-me aqui ao meu terminal e interrogar o maior especialista de medicina clínica que existe: a internet. Como disse, isto vai ser mesmo muito interessante.
- A internet?!
- Exactamente! Ninguém sabe mais do que a internet, isso é mais do que óbvio. Hoje tudo está à distância de um clique, não tenho de abrir aqueles livros enfadonhos a preto e branco que conservamos na secção de museologia do hospital, em sinal de aviso às gerações futuras, para que não voltem a cair no erro do culto ao conhecimento estático.
- Então vamos lá.
- Sim, desculpe. Ora bem, deixe-me escrever aqui a minha procura “dor barriga lado direito”. Enter. Pronto, a informação já jorra! Huuumm... pois... tal como suspeitava... sim... sim...
- Já sabe o que tenho?
- Sim, é um problema simples, mas espere um pouco, deixe-me fazer aqui copy-paste para colocar no seu relatório. Agora, para confirmarmos o diagnóstico tenho só de lhe tirar uma radiografia, para ver se aparece uma imagem parecida com esta aqui. Não percebo muito bem o que representa, mas se a sua for igual é porque tem a mesma coisa. A única chatice é que a máquina de raios-X está avariada. Mas não se preocupe, vou já telefonar ao engenheiro biomédico de serviço.
- Senhor doutor, tenho aqui uma dor muito forte, do lado direito do abdómen, por baixo do umbigo. Passei a noite a vomitar.
- Que bom, não sei nada de barrigas, o senhor vai ser um doente muito interessante!
- Como assim, não sabe nada de “barrigas”?!
- Caro amigo, médicos com conhecimento estruturado, de barrigas ou de outra coisa qualquer, já não existem. Isso era antigamente, quando tinham de decorar uma data de coisas. E era logo no primeiro ano. Começavam por uma disciplina a que chamavam “Anatomia”: era um calhamaço inteiro para aprender de cor, imagine-se!
- Então mas isso não é importante?
- Não, de todo! Eles aprendiam de cor mas não percebiam nada do que estavam a ler! Só papagueavam. Sabiam falar-lhe durante horas da aorta ou da veia cava mas se calha nunca tinham visto nenhuma! E essa quantidade estéril de informação tolhia-lhes o cérebro, por isso praticavam uma medicina muito pouco criativa.
- Então e o sr. doutor, como é que aprendeu medicina?
- Pois aí é que está, eu não aprendi. Não lhe disse já que não percebo nada de barrigas? Mas, mais importante, aprendi a aprender medicina. Ou seja, apesar de não saber nada, sei potencialmente tudo. Já viu a sua sorte em ter vindo bater-me à porta?
- Isso é o que vamos ver... Mas espero que em todo o caso tenha tido bons médicos como professores...
- Médicos a ensinar medicina?! Valha-me Deus, que ideia mais medieval! Não , meu caro amigo, os médicos foram erradicados do ensino da medicina há mais de vinte anos.
- ?!
- Não percebo o seu espanto. Então acha razoável que as aulas sejam leccionadas por médicos enfadonhos, sem competências ao nível dos processos de ensino/aprendizagem, e que se limitam a debitar umas teorias estéreis virados para o quadro? Eram muito pedantes esses professores, achavam-se o centro das atenções. E os alunos, claro, não percebiam nada. E o pior é que todos os dias se tornavam menos criativos, menos espontâneos, menos empenhados... Não, meu amigo, hoje temos um ensino moderno, as coisas já não funcionam assim! No final do século XX assistimos a enormes progressos no campo da pedagogia. Começou-se por dar formação aos professores do Ensino Básico e Secundário. Depois, progressivamente, as novas metodologias começaram a entrar nas universidades. Primeiro de mansinho, com o processo de Bolonha. Isto aconteceu no início do século. Curiosamente, o meu curso, Medicina, ainda foi o que resistiu mais tempo. Mas ninguém pára o progresso, e ainda bem: com a criação das Direcções Regionais do Ensino Superior, por volta de 2025, já ninguém podia leccionar no Superior sem uma forte preparação nas modernas correntes pedagógicas.
- Mas como funcionam?
- Para começar, temos de perceber que o conceito de professor está ultrapassado. Já não existem professores, o que existe são orientadores/facilitadores das aprendizagens. E as aprendizagens dependem do interesse dos alunos. Eu por exemplo sempre me interessei muito por pés, logo os meus orientadores facilitaram-me essa aprendizagem.
- Por pés?!
- Sim, é que gosto muito da bola, sabe? O meu power-point de fim de Mestrado é sobre a relação entre o tendão de Aquiles e a potência de remate. Ficou espectacular, fiz com recurso a uma ferramenta das novas tecnologias, um software de medicina dinâmica...
- Então mas qual é a formação desses “facilitadores das aprendizagens”?
- É muito variada... seguiram um pequeno módulo de três meses sobre medicina propriamente dita. A partir daí, estudaram pedagogia, sociologia, psicologia, administração pública... são umas pessoas muito completas.
- Não sei como é que pessoas com esse perfil “diversificado” o conseguiram avaliar...
- Avaliar?! Decididamente, o meu amigo parece ter vivido no século passado! Há muito que se sabe que a avaliação não ajuda a consolidar as aprendizagens. Muito pelo contrário, até desajuda. Quem estuda tendo em vista um exame não aprende nada. A avaliação foi inventada pelas elites por forma a poderem manter a sua supremacia. Eram uns fascistas, não queriam que os saberes caíssem à rua.
- Por falar em “saberes”, o que me parece é que o senhor doutor não sabe fazer nada...
- Não diga isso caro amigo, vai ver que vai ficar contente com o meu trabalho. Olhe que tirei nota máxima nas disciplinas de Medicina em Contexto e Comunicação da Medicina. Fazia umas redacções muito interessantes.
- Tirou nota máxima? Então não me disse que nunca foi avaliado?
- Pois, mas tivemos todos nota máxima. É natural, não é? Cada ser humano é único. Dentro da especificidade de cada um, todos somos excelentes.
- Senhor doutor, eu não o quero interromper, mas estou mesmo aflito. Será que pode então tratar-me?
- Sim, meu caro senhor, vamos a isso! Ora bem, como lhe expliquei, não sei nada de barrigas, mas daqui a nada já vou saber tudo. Mas antes, vou ter de fazer umas investigações.
- “Investigações”?!
- Sim. Investigações. Não me pergunte porquê, mas essa palavra (tal como aprendizagens e competências) deve ser usada sempre no plural. Vou usar as investigações para construir o meu próprio conhecimento. Quer conhecimentos mais robustos e genuínos do que aqueles que são construídos pelo próprio sujeito?
- Devo-lhe dizer que começo a ficar desconfiado. Em que consistem essas investigações?
- Ora bem, vou dirigir-me aqui ao meu terminal e interrogar o maior especialista de medicina clínica que existe: a internet. Como disse, isto vai ser mesmo muito interessante.
- A internet?!
- Exactamente! Ninguém sabe mais do que a internet, isso é mais do que óbvio. Hoje tudo está à distância de um clique, não tenho de abrir aqueles livros enfadonhos a preto e branco que conservamos na secção de museologia do hospital, em sinal de aviso às gerações futuras, para que não voltem a cair no erro do culto ao conhecimento estático.
- Então vamos lá.
- Sim, desculpe. Ora bem, deixe-me escrever aqui a minha procura “dor barriga lado direito”. Enter. Pronto, a informação já jorra! Huuumm... pois... tal como suspeitava... sim... sim...
- Já sabe o que tenho?
- Sim, é um problema simples, mas espere um pouco, deixe-me fazer aqui copy-paste para colocar no seu relatório. Agora, para confirmarmos o diagnóstico tenho só de lhe tirar uma radiografia, para ver se aparece uma imagem parecida com esta aqui. Não percebo muito bem o que representa, mas se a sua for igual é porque tem a mesma coisa. A única chatice é que a máquina de raios-X está avariada. Mas não se preocupe, vou já telefonar ao engenheiro biomédico de serviço.
(Passados dez minutos entra o engenheiro)
- Então o que se passa, senhor doutor?
- Queria fazer uma radiografia a este doente, senhor engenheiro, mas a máquina está avariada...
- Que bom! Não sei nada de máquinas de raios-X! Vai ser um serviço muito interessante...
- Queria fazer uma radiografia a este doente, senhor engenheiro, mas a máquina está avariada...
- Que bom! Não sei nada de máquinas de raios-X! Vai ser um serviço muito interessante...
29 comentários:
hilariante,e trágico, de tão certeiro: na mouche!
Por enquanto ficção mas quando será que esta ultrapassará a realidade?
well well, :)))
É isso, bem dito, teria graça se não fosse verdadeiro. Eis um sistema que respira incongruências e reduz as pessoas ao nulo.
1) José.
2) Sim.
3) Parabéns! Adorei o texto. Preciso, certeiro e irónico q.b.
Brilhante!
Só tenho pena de em 2045... já cá não estar! JCN
Em desacordo absoluto com o autor do post e dos comentários anteriores. O texto não é credível. Onde é que Filipe Oliveira foi buscar a ideia peregrina que um médico de 2045 era capaz de um discurso articulado onde descreve o sistema educativo português de inícios do séc. XXI?
Um diálogo realista teria mais este tom:
- Dr., dói-me a barriga.
- Ui! então tá-se mal!
- Consegue ajudar-me?
- Na boa! Tá-se bem...
Brilhante! E (infelizmente) premonitório...
devia estar a melhorar o tal ensino
em vez de o piorar
se um cabo enfermeiro saído do exército em 73
foi durante quase 15 anos médico-cirurgião
na covilhã
a questão não é a do ensino
é da capacidade dos homens em aprenderem
pelo discurso deve pretender chamar-se professor
há muitos professores que só têm o título
o problema é mais por aí
Mas é isso e está lá tudo, na Internet, 'apendicite', e para quê estudar, lá que for, a respeito medicina como de mais o que exista, se hoje em dia o Magalhães está aí com sua família para nos ensinar tudo, desde o básico ao superior e volta ao ciclo?
Eu mesmo fiz grave colheita, digamos razia, às estantes da minha biblioteca, que, pobrezinhas, vergavam ao peso de tanto saber inútil, desde clássicos até professores destes nossos convencidos dias. simon
Isto parece o meu trabalho :) e posso dizer que 'e realmente muito interessante....
Anónimo disse...
Mas é isso e está lá tudo, na Internet, 'apendicite'
a prática também tira alarves do anonimato
se a sua estante vergava sobre o saber apodrecido
poda-se escolhe-se aquilo que nunca se lerá
mortos que deixam bibliotecas aos bobones deste mundo
e que vão ensacadas para as feiras da ladra e para o lixo são inúmeros
anónimos que desconhecem que 1 milhão de livros por ano vai parar aos papelões e caixotes de lisboa
é um anónimo que não se adaptou a estes anónimos tempos
cheios de anónimas gentes
por mais nomes que tenham
A descrição da realidade de hoje está muito bem descrita neste maravilhoso texto. Sim, porque quem conhece a forma como se está a "ensinar" medicina numa das faculdades mais inovadoras e pós-modernas portuguesas - Covilhã - já sabe com o que contar :)
Para se ter uma ideia, os alunos estudam as matérias que não foram leccionadas (onde já se viu ter um médico chato a ensinar de forma autoritária matéria chata?) através de software interactivo muito giro...!
Claro que nas escolas do "ensino" não superior público esta é já a realidade há muuuuuuuuuuuuuuuuitos anos!
Fartei-me de rir, sobretudo porque é a realidade das escolas de hoje em dia.
Muitos chavões do eduquês são aplicados.
Tenho alunos do 7.º ano que já não sabem o que é uma aula, tal como uma dia a conhecemos.
Para eles, aulas são para descontraidamente assistir à projecção de um powerpoint, utilizar o quadro interactivo e aqui e ali dizer umas graçolas, algumas de muito mau gosto, diga-se de passagem.
Enfim, coisas normais nos dias que correm.
É a decadência da sociedade do espectáculo em que vivemos.
Hummmm... em 2045, por este andar, não haverá nenhum hospital perto de mim.
Maria
Fascinannnnnnnnnnnnnnnte!!!
Por ser desnecessário, nada (mais) tenho a acrescentar.
Excepto um obrigado, ao autor.
Se acham que as coisas estão assim tão mal, em vez de perderem tempo a escrever isto, apresentem propostas pedagógicas! Dizer mal qualquer um sabe!
Quanto ao texto não tenho absolutamente nada a dizer porque parece-me futurologia bem realista.
(E está escrito com piada o que torna agradável ler sobre algo bem assustador)
Agora, quanto aos comentários...
"Há muitos professores que só têm o título
o problema é mais por aí"
Isto é um problema de muitas variáveis. Esta é apenas uma delas.
"Se acham que as coisas estão assim tão mal, em vez de perderem tempo a escrever isto, apresentem propostas pedagógicas!"
Bem...Quando se muda para pior,à falta de proposta eu não tenho problemas em voltar atrás, à situação anterior.
Sim, a coisa mais fácil de fazer é observar o que está mal... mas pouca gente o faz, e ainda menos o faz como deve ser!
É preciso haver sempre quem grite "o rei vai nu".
Ou seja, criticar racionalmente é preciso.
Antes de resolver um problema não é conveniente identificá-lo?
Da minha parte,críticas "parvas" neste blog... Ainda não vi!
Os meus parabéns ao autor, que ao longo do tempo tem vindo a por o dedo em várias feridas a que as pessoas se habituaram sem lhes ocorrer que estão a infectar, ou que podem ter curativos...
O texto está muito bem escrito e também me ri com ele, mas preocupa-me mais pensar que enquanto nos rimos temos milhares de alunos a sair todos os anos com licenciaturas e mestrados pouco exigentes e que a médio prazo isso se vai traduzir num sério problema social, com as consequências a tocar a todos (como aliás o texto tão bem exemplifica), gerando ainda mais incompetência e desconfiança.
Nós rimo-nos mas vamos alimentanto este problema: o ensino (que é da responsabilidade dos docentes e dos políticos), supostamente de acesso livre, continua a funcionar como um sistema de elites em que é feita a triagem dos alunos que se "aproveitam", em vez de ser dada uma formação responsável aos alunos que o frequentam, já que no fim saem todos com o canudo. Rir faz muito bem, mas é preciso outra coragem para lidar com um problema que tem mais de grave que de risível. Sacudir a água do capote e apontar o dedo aos burros dos alunos e aos alucinados dos políticos não é lá muito corajoso.
Como foi dito já num comentário, de nada serve dizer mal sem apresentar alternativas positivas. Eu, proponho esta: http://www.smbc-comics.com/index.php?db=comics&id=2125#comic
Filipe... certo e cru, como sempre!
Só falhaste na parte do raio-x! Obviamente que em 2045 todos os médicos utilizarão o scanner do multifunções para poderem postar o jpeg do doente directamente no "sistema"... com um código, claro! ;)
fiquei fã do site!Bem hajam!
Rui Ferreira
Excelente, assustador para quem tem prole. Muito bem escrito!
HR
É triste que se pense assim! que vai-se à internet e está tudo lá, porque a análise nunca será assim tão directa, rápida e precisa. É bem verdade, que para aprender é necessário o interesse do aluno (fundamental). Mas a evolução não deve estar na teoria, seja em papel ou em formato informático. Não vamos ter agora um especialista de pés, outro de olhos, outro de circulação, outro de nervos...uma palhaçada e fantochada! O QUE FAZ FALTA NO ACTUAL ENSINO É A PRÁTICA - COMO NA ÉPOCA RENASCENTISTA DE LEONARDO DA VINCI - mexer nos mortos, já em decomposição ou não, sabendo onde se situa tudo, e das causas mortais que se aprende!
António Ricardo
Ora aqui está um "brilhante" texto, escrito por um matemático arvorado em pedagogo (tem sido comum nos últimos tempos) e que "aprendeu" bem pela cartilha do que chama "memorização" - sabe muitos termos mas sem compreender o seu alcance! Deve ser, com certeza, um professor de sucesso, daqueles que tem a plateia cheia de alunos (que acumula há vários anos, atendendo ao sucesso dos seus brilhantes métodos de ensino), que estão ali para sofrer (sim, aprender é só mesmo com muito sofrimento).
É triste constatar que muita gente continua a falar sobre o que não sabe (mas com a mania que são muito entendidos no assunto)...alías, todos somos peritos em educação e em saúde (pois, em matemática sabemos bem que só a elite percebe). Pena é que com tantos peritos a ditar sentenças, estas não sirvam rigorosamente para mudar NADA!
Teria graça se não fosse a infeliz circunstância de revelar, da parte do autor, um profundo desconhecimento do que é Educar e do que se pretende de uma Educação no século XXI. À semelhança, aliás, de inúmeras mensagens deste blogue. Mas é claro que o facto de desconhecer a área não é impedimento de que as pessoas se pronunciem com a arrogância a que só um ignorante se permite. Qual o interesse de memorizar o que quer que seja apenas pelo facto de memorizar? É recorrente a confusão de que a educação atualmente desvaloriza a memória. Na verdade esta é um recurso fundamental da aprendizagem. Ninguém aprende sem memorizar, mas também não se aprende apenas por memorizar.
Este texto está de facto brilhante.
Não que seja 100% de acordo com tudo o que significa, mas está bem "esgalhado".
Aliás, vou, com toda a educação, "plagiá-lo" no meu blog.
Não creio que em 2045 teremos universidades, e sim o Google distribuirá diplomas, com especialização em Wikipédia. Historiadores de Barsa e Britannica serão nossas ligações com o passado (não tão distante).
Pedro Paulo
Enviar um comentário