domingo, 16 de janeiro de 2011
NOVAS ÍRIS PARA O UNIVERSO
Minha crónica no "Boas Notícias":
O céu estrelado ilumina o pensamento de Francisca.
Sentada num muro da casa rural da sua avó Matilde, longe das luzes ofuscantes das cidades e estando a Lua em fase Nova, assim contribuindo para o breu celeste, Francisca sente-se imersa num número astronómico de estrelas. São incontáveis. Aparentemente fixas. Para onde quer que fixe o olhar encontra enxames e mais enxames de pontos luminosos, corpos celestes a emitir radiação electromagnética. Desta os seus olhos só captam a parte visível do espectro electromagnético, do vermelho ao violeta. Uma pequena parte de toda a paleta energética emitida desde o início do Universo. (O espectro electromagnético é o intervalo que compreende a radiação de natureza electromagnética de determinadas frequências ou comprimentos de onda: ondas de rádio, micro-ondas, infravermelho, luz visível, ultravioleta, raios-X, radiações gama.)
Sobre os seus joelhos, Francisca apoia um pequeno computador portátil. Ligado à internet, através de radiações electromagnéticas, o seu navegador está sintonizado no sítio do Sloan Digital Sky Survey-III, um dos programas com o objetivo mais ambicioso da história da astronomia: construir o mais completo mapa tridimensional colorido de cerca de 930 mil galáxias e 120 mil quasares (aqui). (Quasar é um corpo astronómico do qual captamos radiações electromagnéticas com o comprimento de onda das ondas de rádio, com um núcleo activo de tamanho aparente muito maior do que as estrelas, mas não suficientemente grande para poder ser considerado uma galáxia).
Francisca recorda mentalmente os primeiros registos efectuados por seres humanos das estrelas que observavam, noite após noite, ano após ano, reconhecendo na aparente imobilidade estrelar figuras de deuses, animais e objectos do seu dia-a-dia. Constelações como as da Ursa Menor (que contém a estrela polar), Andrómeda, Cisne e Perseu, cujos nomes ainda hoje se utilizam para referenciar a localização de zonas da abóbada celeste.
Recorda ainda os desenhos que Galileu fez das crateras da Lua, dos anéis de Saturno, das luas de Júpiter, reproduzindo o que via através da observação dos corpos iluminados no firmamento nocturno ampliados pelo seu telescópio de duas lentes.
Com o rosto iluminado pelo Universo, Francisca reflecte sobre como a tecnologia permite hoje captar o registo da evolução celeste. Não só através de enormes telescópios ópticos situados em locais apropriados do planeta, mas também por intermédio de inúmeros satélites com instrumentação científica sensível a outras zonas do espectro electromagnético.
Francisca visita, na Internet, os sites das Agências Espacial Europeia (ESA) e Norte Americana (NASA) e encontra a referência a pelo menos sete satélites que, com instrumentação precisa e apropriada, perscrutam zonas específicas de quase todo o espectro electromagnético: Planck (micro-ondas); Herschel (infra-vermelho longínquo); JWST (infra-vermelho); Hubble ST (vísivel); Gaia (infra-vermelho próximo, visível e ultravioleta); XMM-Newton (raios-x); Integral (raios gama); et cetera.
Os conhecimentos astronómico e astrofísico, associados às actuais tecnologias de cálculo informático permitem descortinar e revelar informação sobre a matéria escura, a origem e os extremos do Universo, aspectos intangíveis aos nossos sentidos visuais.
Com o novo conhecimento, abrem-se novas janelas que, apesar de não impressionarem a retina dos olhos de Francisca, espantam os seus caminhos neuronais.
Com o cérebro de posse do conhecimento e da tecnologia actuais, expande-se a tecitura visual, através de novas íris debruadas de espanto cósmico, para a realidade de um Universo imenso e inexplorado.
António Piedade
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4 comentários:
Bom Dia,
acho que é a ursa menor que contêm a estrela polar... "Constelações como as da Ursa Maior (que contém a estrela polar)"...
João Silva
Uma pequena correcção: a missão Gaia observará o ultravioleta e infra-vermelho próximos, mas também a zona visível do espectro. Ver e.g. aqui.
Cumprimentos,
Tiago Loureiro
Agradeço aos comentadores os correcções indicadas e que já emendei.
Cumprimentos
António Piedade
Mesmo sem ver as esrelas,
eu suponho como sejam:
sem que meus olhos as vejam,
imagino estar a vê-las!
JCN
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