sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
QUÍMICA E LITERATURA
Minha crónica no "Sol" de hoje:
As Nações Unidas determinaram que 2011 fosse o Ano Internacional da Química e, por todo o mundo, celebram-se os triunfos dessa ciência. Hoje não podemos viver sem a química, que, de uma forma ou de outra, está em todo o nosso quotidiano: os remédios, os alimentos, os materiais, etc.
Mas, para verificar que ela está também presente na literatura, basta atentar em alguns exemplos. O maior dramaturgo de todos os tempos, o inglês William Shakespeare, tinha uma boa bagagem de conhecimentos científicos. Na sua peça Romeu e Julieta o envenenamento de Romeu deve-se a um veneno comprado num boticário. Nesse tempo, porém, estava ainda muito longe a química que conhecemos hoje, existindo em vez dela a alquimia. A química moderna só surgiu no final do século XVIII, graças principalmente ao francês Antoine Lavoisier. Logo a seguir, na reacção romântica ao iluminismo, entra na literatura, pela mão do germânico Johann Wolfgang Goethe, um alquimista da geração anterior a Shakespeare, o Doutor Faust: a tragédia Fausto imortalizou como um dos mitos da ciência o protagonista de um suposto pacto com o demónio. De resto, Goethe é o autor de um outro título inspirado na química, As Afinidades Electivas.
Já no final do século XIX, com a química pujante nos laboratórios, e com a aparição da química forense devido ao desenvolvimento de técnicas analíticas, não admira que o inglês Arthur Conan Doyle tenha criado um outro lendário personagem literário, Sherlock Holmes, como um químico capaz de encontrar um reagente identificador de sangue (na novela Um Estudo em Vermelho).
Dando um pulo até ao século XX, onde a química entrou em força na indústria, no seu caminho para entrar nas nossas vidas, multiplicaram-se as obras literárias de temática ou de inspiração química. A minha preferida é o Sistema Periódico (Gradiva, 1988), do químico italiano Primo Levi, mais conhecido por ter experimentado os horrores do Holocausto: é um livro onde os elementos da tabela periódica são o mote para histórias pessoais. A Royal Society de Londres, num inquérito de 2006, apurou que esse era o melhor livro sobre ciência de sempre, pelo que a obra, há muito esgotada entre nós, merece reedição neste Ano da Química. Uma obra mais moderna de um grande romancista norte-americano da actualidade, Don deLillo, Ruído Branco (Sextante, 2009), reflecte a omnipresença da química na contemporaneidade. Mas, se esse livro está traduzido, outras obras recentes relacionadas com a química ainda esperam edição nacional: é o caso de Gravity’s Rainbow, do génio excêntrico norte-americano Thomas Pynchon, ou de Gain, do seu compatriota Richard Powers, que como ele começou por estudar ciências para só depois enveredar pela literatura. Não falta química nos romances…
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2 comentários:
Oi pessoal amo química e estou cursando essa matéria tão impressionante e tem um livro que me foi indicado e que acho muuuuuito legal quem curte o assunto ler: Os botões de Napoleão......
é sério isso? *o*
Vou ler...Tbm quero cursar quimica industrial, já to ate me preparando pra vestibular
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