quarta-feira, 17 de novembro de 2010

PROVAS E MAIS PROVAS

Temos falado aqui muito da Real Sociedade de Londres, que está a fazer 350 anos (fá-los exactamente durante este mês). Embora ela reclame - e com razão - ser a academia mais antiga do mundo em funcionamento contínuo, há outras academias mais antigas, como a famosa Accademia dei Lincei (o lince é um animal de olho vivo!), ligada a Galileu, que teve actividade interrompida durante muito tempo mas que hoje está a funcionar. O seu lema era "Minima cura si maxima vis" (Dá conta das pequenas coisas se queres obter grandes resultados). E houve também a Accademia del Cimento, ligada a discípulos de Galileu (como Torricelli), que teve uma vida efémera.

O nosso leitor João Boaventura, um verdadeiro arqueólogo de textos da imprensa antiga, fez-nos chegar este recorte de um periódico português de 1841 (Revista Universal) que noticia um congresso científico em Florença no qual foi lembrada a Accademia del Cimento (Cimento significa experiência). O lema desta é muito sugestivo: "Provando e Riprovando", que vertido em português dá "Provas e mais Provas" ou "Tentando e voltando a tentar" (o lema é um pouco ambíguo). Aproxima-se do lema da Sociedade Real de Londres, que era "Nullius in verba", em tradução livre: "Não acredites na palavra das autoridades". Em todas elas está bem expresso o espírito da Revolução Científica, o espírito que mudou o mundo.



(clicar em cima do recorte para ler)

1 comentário:

joão boaventura disse...

Respondendo ao apelo de “Provas e Mais Provas”, proporia uma vista de olhos pelos “Subsídios para a Bibliografia Crítica das Fontes e Estudos Respeitando à Alquimia e Disciplinas conexas em Portugal”, da autoria de Manuel J. Gandra, com duas páginas de texto muito condensado, mas 27 de bibliografia, onde figura o nosso muito recordado Jacob de Castro Sarmento, em alguns passos deste blog.

No texto é citada uma ocorrência, nova para mim, a da ligação entre os frades conventuais com os médicos. Tomei agora conhecimento de que os frades dominicanos vendiam em Lisboa os remédios de João Curvo Semedo, porque muito antes dos médicos, os clérigos, bispos, priores, monges conventuais já praticavam, nos conventos e confrarias, o ensino regular da Medicina, cultivando-se nos seus hortos as plantas para usos medicinais. Os próprios estabelecimentos hospitalares da Idade Média estavam em geral anexos aos institutos religiosos, às residências episcopais e até aos simples presbíteros

Ribeiro Sanches, em 1783, explicou que “pela destruição do Império Romano na Europa e que pela dominação das Nações Bárbaras do Norte se refugiaram as Ciências nos Conventos, e nos Cabidos; e que desde aquele tempo, começaram os Frades, e os mais Eclesiásticos a praticar a Medicina: chegou a tal excesso aquele abuso que foi proibido aquele exercício a todos os Eclesiásticos por muitos Concílios.”

A Igreja objectava que não se enquadrava na doutrina cristã a aceitação de honorários pelas curas, e o receio de ocorrerem mortes dos pacientes por inépcia. A proibição promulgada no Concílio de Reims (1131) parece não ter obtido nenhuma resposta, pelo que a obstinação continuada levou a Igreja a promulgar sucessivos Concílios: o de Latrão (1139), o de Montpellier (1162), o de Tours (1163) proibindo a prática da cirurgia, o de Paris (1212), o 2.º de Latrão (1215), e o de Le Mans (1247).

Quando a secularização da Medicina, acompanhada com a criação das escolas médicas, a classe eclesiástica passou a desempenhar as funções teológicas que lhe eram inerentes

Houve contudo excepções, embora raras, de clérigos que se formaram em medicina, como relata Costa-Sacadura na comunicação apresentada, em Lisboa, à Classe das Ciências da Academia, na sessão de 7 de Maio de 1959, com o título “Mais alguns Médicos Clérigos entre os Portugueses.”

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