segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

PESOS E HALTERES: EM MEMÓRIA DE AUGUSTO TITO DE MORAIS

Deparei-me hoje com um blogue de homenagem a Manuel Tito de Morais, um dos fundadores do Partido Socialista, no 10.º aniversário da sua morte. Nele, Pedro Tito de Morais recorda, entre outros familiares, o seu tio Augusto Tito de Morais, também já falecido, professor catedrático do Instituto de Medicina Tropical, médico da Organização Mundial de Saúde que, nessa qualidade, viajou pelas sete partidas do mundo.

A páginas tantas, escreve que ele “aos 20/30 anos foi trapezista e tinha muito orgulho nisso”. Pela minha parte, julgo de interesse acrescentar ao seu currículo desportivo a sua qualidade de dedicado praticante de pesos e halteres, como escrevi na dedicatória de um dos meus livros, publicado em 1972, “Os pesos e halteres, a função cardiopulomonar e o doutor Cooper”. Reza essa dedicatória:

“Dedico este livro a Augusto Tito de Morais, grande entusiasta dos pesos e halteres, companheiro das lides desportivas, médico virado para os problemas da investigação, no Instituto de Investigação Médica de Moçambique, e, sobretudo, querido Amigo.

Um objectivo comum nos unia: a divulgação da modalidade, como meio seguro em preservar a saúde, e a sua intransigente defesa. Daí, o despontar de uma indefectível amizade.

Ao serviço dos 'ferros' pusemos os nossos conhecimentos sobre o corpo humano, transmitindo-os aos outros, sem jactância, por conferências proferidas na Associação dos Naturais de Moçambique, e nos debates que se lhes seguiam, sempre calorosos, norteados no amor à Cultura Física e na procura de um mesmo fim, através de proposições diferenciadas ou caminhos divergentes, qual deles o mais apressado na desmistificação dos sobranceiros contraditores dos pesos e halteres. [De entre eles, o supracitado doutor Kenneth Cooper, autor do famoso Teste de Cooper para avaliação da capacidade aeróbica].

Abandonou, há anos, o Dr. Tito de Morais, o campo de batalha moçambicano, no alcance de novos horizontes: médico da Organização Mundial de Saúde, dedica-se, nos dias de hoje, ao seu semelhante nos mais recônditos pontos globo. Resto eu, que aqui de Moçambique, lhe envio – sem saber se o recebe ou não – o amplexo forte do camarada de armas que prossegue a luta na lembrança de antigas escaramuças que estão longe de ter conduzido à vitória final.

A verdade tem o seu preço, tanto mais elevado quanto menor o número daqueles que a procuram”.

Na altura, enviei-lhe o livro. Encontrava-se então Augusto Tito de Morais em missão no Cambodja. Passados meses tive a confirmação da sua recepção por carta do destinatário.

Anos mais tarde (2001), enviei também o livro ao médico fisiatra Prof. Dr. José Maria Santarem, fundador do Centro de Estudos em Ciências da Actividade Física e de Geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Brasil. Passados pouco tempo recebi o seguinte mail:

“Com muita alegria recebi o seu livro e a sua carta. Nossos ideais são comuns, e as nossas dificuldades históricas também. Felizmente hoje as evidências nos apoiam e somos ouvidos, mas é sempre emocionante lembrar os tempos em que éramos quase ignorados. Gostei muito do seu texto que, naturalmente, deve ser lido com a lembrança da situação e do conhecimento de então. Meu desejo é que um dia nos possamos encontrar e rir bastante com as dificuldades do passado. Um fraterno abraço. Santarem”.

Julgo que Augusto Tito de Morais teria gostado de saber que a nossa constante e entusiástica campanha em defesa dos vilipendiados “ferros” não foi em vão!

3 comentários:

joão boaventura disse...

Boa recordação.

Augusto Tito de Morais era um dedicado praticante dos voos à Codona no Lisboa Ginásio Club enquanto o mensageiro desta um praticante dos voos à Leotard no Ginásio Club Português.

Encontrámo-nos em Lourenço Marques e fomos ao Club Ferroviário que tinha um espaçoso ginásio com os apetrechos para os voos, preparámo-los mas limitámo-nos a sair e entrar nas bases, e morreu aí a vontade de voar.

Esta foi a parte positiva, mas também tivemos uma parte negativa através de uma polémica que incendiou os jornais da época, mas acabou tudo em bem.

Porque será que o passado é sempre presente?

Anónimo disse...

Caro Rui Batista

Não tenho muitas recordações do meu Avô mas as que tenho ficarão gravadas na minha memória para sempre. Recordo sempre um homem bom, amigo do seu amigo e alguém com uma experiência de vida acima do normal.
O gosto pelo desporto do meu Avô foi algo que tenho a certeza que herdei dele já que de todos os seus netos, fui talvez o único que ainda hoje encara a prática desportiva regular como uma paixão e uma contribuição para preservação da saúde dos seus praticantes.
Não segui a Ginástica e os pesos como ele, mas dediquei-me a uma modalidade pouco divulgada em Portugal, o Squash, com todos os dissabores que isso provoca num país onde só se fala de futebol.
Também estou certo que herdei dele a dedicação profissional e o gosto por saber mais, algo que na minha profissão tenho procurado fazer ao longo dos últimos anos.
Conforme lhe disse, desconhecia a dedicação e o gosto pelos pesos e alteres do meu avô pelo que com o seu contributo, fiquei a conhecer um pouco mais sobre uma pessoa que muito admiro.
Obrigado pelas suas palavras e um bem haja.

Um abraço

João Carlos Tito de Morais Caiano

Tito de Morais disse...

Estimado João Boaventura,

O trapézio era de facto uma paixão do meu Pai. A mim e a outros familiares e amigos era algo que recordava com orgulho. Curiosamente, há dias, falava com a minha irmã mais velha exactamente sobre isso. Sobre se praticava o trapézio no Lisboa Ginásio Club ou no Ginásio Club Português. Obrigado por nos esclarecer que afinal era em ambos!

Sobre a polémica nos jornais, fiquei curioso e gostava de saber mais. Recordo-me do meu Pai me ter mostrado uma banda-desenhada da autoria dele e que algumas tiras tinham sido publicadas num jornal diário. A polémica relacionava-se com essa banda-desenhada?

Obrigado por partilhar aqui a sua memória, no que ao meu Pai diz respeito.

Com os meus melhores cumprimentos

Atentamente

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