terça-feira, 22 de setembro de 2009
STUPID DESIGN
Breve extracto da peça de teatro "Stupid Design", de David Marçal, criada no quadro do projecto "Cientistas ao Palco", que será representada no Museu de Ciência da Universidade de Coimbra na Noite dos Investigadores, no próximo dia 25 de Novembro. Trata-se de uma paródia ao "Intelligent Design" dos criacionistas na forma de uma lição dada por um professor supostamente especialista no assunto:
"A verdade é que certas características do universo e do mundo vivo são melhor explicadas por uma causa estúpida, e não por um mecanismo indirecto como a selecção natural. Só um criador estúpido, imperfeito e omnipotente - como o presidente de um banco central - explica a existência de características, prejudiciais ou deletérios, presentes em todas as espécies. E as taxas de juro, que sobem e descem sem sentido.
Assim se pode enunciar em traços gerais os princípios do Stupid Design. Não vos peço que acreditem em mim. Irei apresentar-vos evidências que sustentam o Stupid Design. Não é preciso ir muito longe. Encontro duas evidências no meu próprio peito. Os mamilos dos machos têm uma função ornamental. Portanto: para o Supremo Imbecil (Supernus Imbecilles) os mamilos são como galos de Barcelos, para pôr em cima da televisão.
Mas há mais: dobrem por favor a orelha direita. (exemplifica). Qual a utilidade de ter músculos nas orelhas? As orelhas humanas não mexem. Nos ginásios não existem aparelhos para os ginasticar. Apesar de musculadas, as orelhas são ineficazes para afugentar Drosophila melanogaster. Sim: moscas.
São exemplos de estupidez simples, que talvez não vos convençam, mas passemos para a genética: algo mais sofisticado. 95% do ADN humano não contém genes. 2850 mil milhões de pares de bases de ADN que não significam absolutamente nada. Apenas tralha! Trata-se de um exemplo de inutilis multiplicitas et non peculiaris (complicação inespecífica desnecessária). Eis uma prova de estupidez intencional que não poderia resultar da simples acumulação de disparates aleatórios.
E... para que serve o cromossoma Y? Um cromossoma exclusivamente masculino, que os homens apenas passam aos seus filhos. Qual a vantagem de ter um cromossoma Y? Entre outras: permite aos homens terem pêlos nas orelhas. Será que o Supremo Imbecil (Supernus Imbecilles) achou que dava para fazer penteados giros? E que sentido faz que um pobre indivíduo fique progressivamente mais careca no topo da cabeça e assista simultaneamente ao nascimento de ainda mais pelos nas orelhas, nas costas e no rabo?
Qual é o maior mamífero com dentes? O cachalote. Para que é que lhe servem? Para nada. Será que o Supremo Imbecil pensou que iriam ser úteis em anúncios a lula gigante enlatada, com cachalotes a sorrir?
A Drosophila melanogaster (mosca da fruta) produz alguns espermatozóides com uma cauda vinte vezes maior do que o seu próprio corpo e mil vezes maior do que a de um espermatozóide humano. O pénis de um gorila tem cinco centímetros. No entanto, há patos com pénis de vinte centímetros ou mais, e com espinhos.
Trata-se de alguns exemplos de estupidez irredutível, ou seja um sistema composto por várias partes em que a remoção de um dos componentes faz com que o sistema deixe de ser estúpido. Um sistema assim, de estupidez articulada, implica a existência de um agente imbecil a guiar o processo, não podendo ser fruto de estupidez aleatória, como seria de esperar se resultasse da selecção natural.
Mas até fora da biologia: Um electrão é simultaneamente uma onda e uma partícula. O Supernus Imbecilles não se conseguiu decidir."
David Marçal
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2 comentários:
Se simultaneamente significar algo como "no mesmo instante", então é estupidamente errado - à luz das interpretações ortodoxas da mecânica quântica - afirmar que um electrão é (o termo correcto seria exibe, aliás) simultaneamente uma onda e uma partícula. Segundo as interpretações mais comuns (e mais fieis) ao formalismo da mecânica quântica então um electrão é tido como algo que se propaga como se fosse uma onda, mas interage como se fosse uma partícula. Onda e partícula são complementares no electrão, mas não simultâneas. Enfim....David Marçal e as suas habituais desgraças científicas.
Esqueceu a maior prova, que é facto de o pénis, em lugar de funcionar tipo fole de ferreiro, não ser constituído por um músculo que permitisse a erecção controlada, em cima da ocasião. É razão para desgosto dos homens e ainda mais das mulheres. E não havia necessidade.
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