domingo, 12 de outubro de 2008

Um peso da consciência desta geração

O ex-ministro da Educação Marçal Grilo, numa entrevista de Cátia Mateus e Marisa Antunes ao Semanário Expresso de hoje, fez afirmações que raramente tenho lido ou ouvido quando se fala da educação que temos. Aqui reproduzo aquelas que entendo nos deveriam fazer parar para pensar.

"Preocupa-me (…) a atitude que muitos compatriotas têm em relação à escola. Eles não olham para a escola como algo que possa ser relevante para o futuro dos seus filhos, como um instrumento de aprendizagem, mas mais no sentido de a ultrapassar. Preocupam-se sobretudo que os miúdos passem e não tanto com o que eles sabem."

É preciso também perceber o que se pretende com o sucesso nas escolas. Para mim, o sucesso traduz-se nos alunos saberem mais, terem maior consciência das suas capacidades e uma atitude diferente perante o mundo e a sociedade (…).

A minha geração vai ficar aqui com um peso na consciência por não ter sido capaz de motivar os jovens para a educação."

2 comentários:

Rui Baptista disse...

Prezada Helena: Com este seu post acaba de prestar um inestimável serviço à Educação portuguesa. Isto porque a memória da condição humana é curta prestando-se ao esquecimento de factos que pertencem a um passado recente de um sistema educativo em que a palavra de ordem é passar a todo o custo para fins estatísticos.

Com este depoimento, espero que Marçal Grilo não se tenha limitado a sacudir a água do capote de uma quota parte de responsabilidade que lhe cabe neste actual "statu quo". Se, pelo contrário, tiver sido uma forma de arrependimento, embora tardia, é de louvar. E eu louvo-o porque, como diz o povo, "mais vale tarde do que nunca"!

Carlos Pires disse...

"A minha geração vai ficar aqui com um peso na consciência por não ter sido capaz de motivar os jovens para a educação."
Talvez a raiz do problema esteja aqui: na ydeia de que os jovens são uma massa moldável se soubermos escolher os métodos certos.
Essa ideia paternalista é pressuposta tanto pelo "eduquês" como por muitas pessoas que por vezes se afastam um bocadinho do "eduquês", criticam um pouco mas sem pôr em causa os aspectos centrais desse disparatado "sistema" de ideias educativas - como é notoriamente o caso de MG.
E se, em vez desse paternalismo proteccionismo, responsabilizássemos os jovens (e também os pais e os professores) pelas consequências do seu desempenho? Avaliação exigente, com exames nacionais. Não estudou, então chumba o ano. Chumba e não conclui os estudos, então não arranja um bom emprego.
Carlos Pires

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